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Críticas

Cineplayers

Mesmo com tantos clichês e situações reaproveitadas, consegue ter o seu toque pessoal.

6,0

Em meio à tantos filmes de serial killers, policiais e semelhantes por aí, é interessante ver um que utiliza todos os clichês do gênero ao seu favor para, de sua forma, contar a história. Identidade é mais ou menos isso, reciclagem com muito bom gosto de muita coisa que já foi vista e revista, mas com o toque pessoal do diretor James Mangold (o mesmo do ótimo Garota, Interrompida, com Angelina Jolie, e Kate & Leopold, com Meg Ryan e Hugh Jackman).

O filme consegue prender sua atenção por toda sua duração na mais simples premissa: dez estranhos ficam confinados em um motel por causa de um temporal que fechou todas as saídas e, um a um, eles vão sendo assassinados por alguém desconhecido. Ou seja, você já viu isso tanto em livros (Agatha Christie) quanto em filmes (A Casa Adormecida, D-Tox, somente citando os primeiros nomes que vieram a minha cabeça), mas mesmo assim o filme consegue chamar sua atenção pela boa direção e o modo como a história é contada. Vou exemplificar para ficar fácil de entender como a narrativa funciona no início: uma família está em um carro e o pneu fura. Eles descem do carro para saber como e vêem que o responsável foi um sapato de salto alto. O filme volta, automaticamente, e conta como aquele sapato foi parar ali, e logo depois continua a narração. Com isso o filme ganha um ritmo excelente, pois vai apresentando seus personagens sem deixar que isso fique cansativo ou então enrolado demais.

Mas isso também acarretou em dois pontos negativos que não posso deixar de comentar. O primeiro é a duração do filme, que ficou claramente comprometido, pois possui apenas uma hora e vinte e sete de duração. Comparado com os demais filmes do gênero que vem saindo hoje em dia, isso deixa muito a desejar. O segundo ponto é que esse modo de se contar a história acontece mais na introdução, pois depois raramente volta a ser usado. O que é ruim, pois o filme poderia ter se estendido um pouco mais sem perder o interesse. O interessante é que, apesar de todo esse clichê na sinopse da história, fica difícil falar dela como um todo sem contar alguma coisa a mais, pois a sua conclusão também não é nada original, me decepcionando um pouco (apesar de servir perfeitamente para fechar o que o filme começou).

Paralelamente à história das pessoas presas no motel, há também a discussão entre advogados de defesa e ataque sobre a situação psicológica de um serial killer condenado à morte (obviamente o mesmo do motel). Como o filme toma, por diversas vezes, caminhos até mesmo sobrenaturais (não que a história seja, mas ele tem bastantes fatores por esses lados), você vai entendendo os acontecimentos de uma história por essa reunião dos advogados. A conclusão não é de fácil digestão e pode incomodar principalmente as pessoas que não estiverem prestando atenção, mas como falei antes, serve bem como explicação para tudo o que aconteceu.

Outro fator muito bacana é que esse final, ao mesmo tempo que é um clichê em significado, também foge de ser o mesmo no modo como é colocado. Embolei tudo agora, mas não é difícil de entender o que eu quero dizer. Ele é daqueles que quer surpreender o público com a revelação, e o modo como ele é utilizado o torna fantástico, algo como vem acontecendo com bastante freqüência em Hollywood (O Sexto Sentido e Femme Fatale, por exemplo). Só que essa surpresa acontece quando ainda faltam uns 15 a 20 minutos de filme, deixando o tempo restante para você digerir o que aconteceu, e a história não pára de ser contada! Ou seja, o final já foi revelado, mas o filme te mostra como tudo irá terminar. E isso é legal, pois mesmo você sabendo o resultado, o filme ainda te prende e, até o último segundo, tem revelações a serem feitas (a última seqüência é importantíssima para o entendimento do crime) e em nenhum momento sente que algo foi gratuito. Os espectadores também não foram subestimados, pois o filme não explica linha por linha o que aconteceu. Ele explica, mas deixa que nós pensemos nos fatores anteriores, nos dando uma chance de acertar o que houve (não é difícil descobrir antes de ser revelado).

John Cusack, mais uma vez, faz um papel completamente diferente de seus últimos filmes, como no ruim Queridinhos da América ou no ótimo Alta Fidelidade. Obviamente isso não seria um ponto a favor para o ator se ele não fosse competente e fizesse convincentemente o papel de um motorista de uma estrela do cinema em decadência (interpretada ironicamente por Rebecca De Mornay) com um passado a ser revelado durante o filme. Além de Cusack e Rebecca, temos também no elenco o conhecido Ray Liotta (famoso, fez vários ótimos filmes, como Narc, Hannibal, Doce Trapaça), interpretando um policial que está transportando um preso (Jake Busey, de Inimigo do Estado  e Twister); William Lee Scott e Clea DuVall fazendo um casal recém casados; e Amanda Peet fazendo uma prostituta.

É um filme inteligente e que merece ser conferido. É bem costuradinho, instiga seu raciocínio, além de conseguir prender sua atenção e se aproveitar muito bem do bom roteiro que tem ao seu favor. É uma pena que a conclusão, apesar de aceitável, não seja nada original (é uma pena eu não poder citar exemplos), e ainda tenha a presença de alguns clichês do gênero. O filme não pede muito estômago, mas ainda assim tem suas cenas de sangue e dois atropelamentos fantásticos que realmente impressionam. Em meio a tanto clichê, o filme ainda buscou, desculpem o trocadilho, sua 'identidade' própria.

Comentários (1)

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