Um filme que acerta em seus pontos chaves, mas falha vergonhosamente em sua moral.
Até quem não entende muito de futebol já deve ter ouvido falar nos hooligans. Proibidos de entrar em alguns países da Europa, esse grupo é composto por torcedores de times ingleses que, ao invés de irem ao estádio para torcer, buscam confrontos violentos com torcidas rivais. É um (sub)mundo poucas vezes retratado no cinema, fato que Hooligans, que chega agora às locadoras, pretende corrigir.
O filme acompanha a trajetória de Matt Buckner, estudante de jornalismo em Harvard que é expulso da Universidade quando descobrem drogas de um colega em seu armário. Sem saber o que fazer, Matt atravessa o Atlântico para passar um tempo com sua irmã na Inglaterra. Chegando lá, acaba conhecendo Pete, líder da GSE, a torcida do West Ham United. Matt acaba sendo aceito pelo grupo e conhecendo de perto os hooligans.
Hooligans é uma produção recheada de altos e baixos. Dirigida pelo estreante em longa-metragens Lexi Alexander, o filme é bem-sucedido em seu objetivo principal: explicar as razões que fazem jovens com condições de vida ingressarem em um mundo de brutalidade e violência. Para eles, a vitória ou derrota do time é menos importante do que o conflito que terão com a torcida adversária. Seja por um desejo de serem respeitados ou pelo simples fato de se sentirem mais vivos em uma briga, eles estão dispostos a aceitar as conseqüências que certamente virão desse estilo de vida.
O roteiro, escrito pelo próprio diretor e Dougie Brimson, também acerta ao mostrar como funcionam estas “organizações”. Os fortes laços de camaradagem que surgem entre os membros são bastante ressaltados pelo diretor, bem como a importância do líder dentro do grupo, mostrando que, por trás de toda a barbárie, há uma certa hierarquia e disciplina pouco – ou nada – conhecida pelas pessoas.
Outro ponto de Hooligans que merece destaque é a crueza das imagens vistas na tela. Auxiliado por uma fotografia que prima pelas cores frias, Alexander fez um filme de intensidade vibrante, especialmente nas brigas, onde o diretor explora bastante o sangue para construir cenas fortes e realistas.
Paradoxalmente, mora exatamente aí a grande fraqueza de Hooligans. Ao invés de utilizar tais imagens e os acontecimentos finais com os personagens para passar a mensagem de que aquilo não leva a nada (como ele realmente parece fazer em determinado momento), Alexander opta por justificar as ações dos personagens, como se tudo aquilo fizesse parte de um ritual obrigatório para um jovem se tornar um homem de verdade.
É um deslize que começa a tomar forma assim que o conflito final entre as torcidas rivais é mostrado ao som de Brothers in Arms, como se a irracionalidade ali apresentada fosse, na verdade, algo belo e admirável. Logo em seguida, a história parece se recuperar ao dar um destino trágico a um dos personagens. Ledo engano. O epílogo chega para tirar, de uma vez por todas, quaisquer dúvidas que haviam sobre a posição do diretor em relação ao assunto, em uma conclusão moralmente questionável.
Ainda há outros pequenos pontos que acabam enfraquecendo o resultado final de Hooligans. A narração em off, por exemplo, é completamente desnecessária, sendo inserida sem motivos e em raríssimas vezes. Além disso, a construção psicológica dos personagens jamais sai do básico. O espectador consegue compreender o que leva o grupo dos hooligans a realizar tais atos, mas nunca as motivações de cada personagem em particular.
Mesmo assim, o elenco é suficientemente talentoso para superar este problema do roteiro. Elijah Wood consegue livrar-se do peso de Frodo Bolseiro, mostrando talento ao convencer com seu personagem, que oscila entre a ingenuidade e a fúria. Da mesma forma, Charlie Hunnan destaca-se como o líder do grupo em uma interpretação explosiva e contagiante.
Conquanto contenha diversas qualidades suficientes para ser considerado um bom filme, Hooligans poderia ter sido muito mais. Se o diretor não tivesse julgado seus personagens ou, pelo menos, os julgasse de forma correta, Hooligans seria a obra impactante que pretendia ser. Do jeito que ficou, está longe de ser um desastre, mas acabou parando no meio do caminho.
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