O terceiro longa do bruxinho é o que tem mais cara de filme, apesar de não ter muita história para contar.
O melhor e o pior da série. J.K. Rowling mostrando-se cada vez mais criativa e limitada ao mesmo tempo. Harry Potter herói e sombrio na história. A cada novo filme lançado sobre o bruxinho sensação mundial do momento esses fatores extremos ficam cada vez mais claros na minha cabeça. Abro um parênteses aqui para deixar bem claro uma coisa: não sou fã da obra literária de Harry Potter, portanto estou avaliando imparcialmente a qualidade do filme, como filme, por um filme. Lógico que citarei a história em diversos momentos, afinal, um filme também é composto de história, mas caso os problemas levantados por mim adiante tenham suas respostas no livro, e não no filme, infelizmente é um erro na adaptação. Afinal, estou vendo um filme, e não lendo um livro.
Dito isso, deixo claro que esse filme é disparado o melhor da série. E o pior também. Confuso à primeira vista, mas totalmente coerente dentro da idéia de que o filme evoluiu muito em todos os aspectos técnicos com a mudança da direção de Chris Columbus (do meu filme preferido Os Goonies e do ótimo Esqueceram de Mim) para o Mexicano Alfonso Cuarón (do excelente E Sua Mãe Também), mas perdeu em termos de história. De cara, já percebemos uma estética diferente, mais realista, aproveitando mais a beleza natural das locações do que tudo criado digitalmente como nos filmes anteriores. A virtude nessa mudança é que, apesar disso, o filme não perdeu o seu charme e nem a magia que o mundo de Hogwarts necessitava, contando com cenários internos idênticos aos das versões anteriores, mas com florestas, lagoas, neblina, montanhas que deixaram o filme infinitamente mais bonito do que seus predecessores.
Ainda com a mudança do diretor, temos uma fotografia mais escura, abusando mais dos contrastes entre claro e escuro, planos mais elaborados (como quando a câmera se aproxima do espelho, mostrando Harry e seu professor, mas ela entra pela imagem e esta deixa de ser um reflexo para se tornar a imagem real que acompanhamos da cena) e interpretações um pouco mais convincentes (o Rony deixou de fazer aquelas caretas extremamente irritantes dos filmes anteriores, onde de cinco em cinco minutos acontecia algo e ele esticava o rosto de maneira que dava vontade de mandar o garoto para o quinto dos infernos). Os efeitos continuam crescendo de forma significativa na qualidade também. Agora estão bem mais discretos, "realistas" e convincentes, apesar de serem simples e já bastante utilizados em sua grande maioria. O grifo ficou fantástico, assim como sua interação com os personagens e cenários. Assim como a tia que infla, o mapa de Hogwarts, as transformações, os quadros que possuem vida própria...
Em contraponto a todas essas qualidades que deixaram a escola de magia muito mais interessante, ainda existem diversos problemas (alguns novos). Em termos de história, digo que esta terceira é bem mais pensada, amarradinha e melhor escrita que as outras duas anteriores. Consegue até ser diferente (já que a história do segundo filme é idêntica à do primeiro, trocando pequenos detalhes), com a brincadeira do tempo inspirada em De Volta Para o Futuro, Os 12 Macacos, e nesses outros filmes que mexem com o tempo. Há diversos detalhes bastante interessantes, principalmente relacionando clichês de bruxos com o mundo de Harry Potter (nesse ponto, Rowling esbanja criatividade, criando um mundo extremamente interessante e cativante). Mas em termos de profundidade de história, esse terceiro filme, principalmente pensado como um todo com os anteriores, é praticamente nulo. Tirando uns vinte minutos do final, o filme seria inteiramente desnecessário como uma série, quando alguns novos detalhes são revelados praticamente pouco antes dos créditos subirem. Se fosse um filme individual claro que isso não seria um defeito, mas pensando por esses ares, revela-se um pouco da limitação de Rowling no fator de contar histórias. Simplesmente nada é somado na idéia central, que é justamente o mistério entre Harry, seus pais e Valdemort.
Outro ponto crítico com relação à história é que se passa um ano da vida de Harry no filme, mas pela história contada, ponderia-se dizer facilmente que, no máximo, havia se passado uma semana. Não fica claro toda essa passagem de tempo que justifique mais um ano inteiro da vida de Potter na escola de magia de Hogwarts. Os dementadores são meio chatos de engolir também, não gostei dos personagens, afinal, já que se eles são tão maus, porque arriscar a vida dos alunos e utilizá-los para sua proteção? Porém, gostei muito da implantação dos lobisomens e afins na história, mostrando uma visão diferente (um pouco só também, não vamos exagerar) de um dos monstrengos mais clássicos do cinema.
Se você não viu o filme ainda, pule para o parágrafo seguinte (mais precisamente toda a parte em itálico). Quero fazer apenas um comentário sobre o vilão do filme. A fórmula do vilão de Rowling está ficando extremamente batida e chata, ela deveria variar um pouco. É muito irritante ver um filme já imaginando que vai haver uma reviravolta e o vilão principal não era quem o filme havia nos preparado para ser. Foi assim no primeiro, foi assim no segundo e é assim no terceiro. O pior é que o ator, assim como no segundo, nem tem muito espaço na história e, quando aparece, já há a reviravolta, ou seja, nem um tempo para nos surpreendermos é trabalhado, tirando o peso dessa reviravolta. É uma falha de estrutura comuns nos dois últimos filmes do bruxinho (no primeiro isso é mais trabalhado).
Com a mudança no teor da história, que começa a abordar os lados sombrios de ser Harry Potter, Daniel Redcliffe ganhou um pouco mais de espaço para explorar seu personagem ao invés de só fazer cara de bonzinho de um lado para o outro. Hermione (Emma Watson) tem um papel realmente importante para a história, enquanto Rony (Rupert Grint – sim, novamente ele) continua inútil e sem adicionar nada à trama principal da história. Como dito antes, pelo menos dessa vez ele faz menos caretas do que de costume. Com a morte de Richard Harris, Dumbledore ganhou um novo intérprete: Michael Gambon. Christopher Lee e Ian McKellen chegaram a ser cogitados para o papel, que ficou mesmo com Michael. Os demais integrantes do elenco também estão de volta, como Hagrid e o professor Snape, mas também houveram algumas inclusões, como o professor Lupin (David Thewlis) e Emma Thompson (em uma pequena ponta, aceitando o papel a pedido de sua filha pequena).
Com um orçamento de 130 milhões de dólares, o investimento em cima dos filmes de Harry Potter vem crescendo ainda mais. Um filme mais moldado, certinho, com menos erros, mas por causa de sua limitada história, que não muda e nem acrescenta em nada para a série de filmes como um todo, pode ser considerado o pior da série. E o melhor também. Agora posso afirmar com convicção, sem medo de soar ambíguo uma segunda vez.
Maravilhosa a transformação do homem em lobo. Daniel não sabe atuar, teve sorte, apenas. A Emma é quem conduz o filme.