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Críticas

Cineplayers

Um prequel desnecessário, que falha ainda mais por não esclarecer quase nada do passado do famoso canibal.

5,0

Ok, sinceramente achei que seria pior. Não apenas inferior aos demais filmes da franquia Hannibal, mas sim muito inferior mesmo, principalmente depois que vi o cartaz do longa, com aquela máscara característica do personagem "sorrindo", quando o mais legal dela era a inexpressividade perante às crueldaedes cometidas por Lecter. "Legal, resolveram transformá-lo em um personagem 'pop' para atrair novos fãs". Somando um cartaz como esse ao fato de querer contar um prequel história de Hannibal, fica muito óbvio constatar que simplesmente não tinham mais nada para falar sobre o personagem e, na tentativa de tentar manter a franquia ativa, foram buscar uma desnecessária origem para justificar as maldades já famosas do canibal.

Prequel do prequel (não se esqueça que Dragão Vermelho se passa antes de O Silêncio dos Inocentes e Hannibal), o maior defeito de todos desse Hannibal – A Origem do Mal é não estabelecer uma conexão muito firme entre esse início dos assassinatos com os demais filmes da série. Se não fosse pela máscara risonha, seria um filme genérico de serial killer. Todo aquele conhecimento sobre mulheres, o fascínio pela arte e música clássica e o enorme conhecimento intelectual foram deixados de lado para a maior característica do personagem ser a vingança que sente pelos homens que mataram sua irmã, durante a Segunda Guerra Mundial.

Em um momento ou outro do filme o vemos lendo um livro, ouvindo uma música mais requintada, mas fica muito “solto”, quando todos conhecemos os gostos do personagem pela sua super-exposição ao longo desses anos. Alguns podem alegar que é tudo no início ainda, mas ora, se estamos tentando conhecer as origens do personagem, porque não explorar as características que todos já conhecem?

Não me incomodou muito o fato de pegar carona na Segunda Guerra para estabelecer um trauma psicológico no personagem (buscando uma justificação perante tudo o que ele fez). O que me incomodou mais foi que o fraquíssimo roteiro não aproveitou para engrandecer tudo o que o personagem passou. Veja bem, se ele ficou conhecido por ter um prazer mórbido perante ao que fez nos anos seguintes, porque não estabelecer essa conexão de prazer aos crimes que ele comete neste filme? Quando escrevi sobre Dragão Vermelho, chamei atenção para o fato do filme se vender como a origem de tudo, mas não cumprir essa promessa. É incrível que Hollywood tenha tido uma segunda chance para cumprir exatamente a mesma promessa e errar de novo, exatamente no mesmo ponto!

O mais impressionante é que o roteiro não foi desvirtuado para as mãos de um inexperiente qualquer. Quem escreve o longa (e estréia como roteirista) é o próprio Thomas Harris, autor dos livros de origem do personagem. A falta de ritmo de todo o filme pode até ser culpa dessa estréia, mas como explicar essa falta de objetividade e ligação entre os trabalhos?

Porém, tirando o péssimo roteiro, desnecessário e com falta de conteúdo, Hannibal – A Origem do Mal não é de todo ruim. Contando com uma fotografia exorbitante (algo, sinceramente, inesperado), o filme dirigido por Peter Webber acerta ao adotar um tom maduro, sem abrir exceções para um público mais pop – meu maior medo. Em apenas seu segundo filme (o anterior havia sido o belo Moça com Brinco de Pérola), Webber demonstra talento e segura a responsabilidade com belíssimas seqüências, cruéis, violentas e sem parecer exageradas – dignas de fazer Ridley Scott sentir inveja.

Já Gaspar Ulliel, que venceu uma quebra de braço de gigantes para ficar com o papel (bateu nada mais, nada menos do que grandes nomes de Hollywood, tais como Hayden Christensen, Macaulay Culkin e Dominic Cooper, entre outros) ficou com o difícil encargo de ser Anthony Hopkins jovem. Não achei de todo ruim, mas é óbvio que sua atuação não chega aos pés de Hopkins, principalmente por não conseguir fazer uma risada tão irônica quanto a do nosso amigo galês. É muito visível a superioridade de Hopkins, que consegue transmitir um vazio incômodo pelo olhar, quando sabemos tudo o que seu personagem é capaz de fazer. O jovem Ulliel perde-se em uma risada muito óbvia, quase gritando “vejam como eu sou mal!”, clichê que Hopkins conseguiu se esquivar com maestria.

Não que a atuação do garoto comprometa a qualidade do filme. Como falei, seu maior defeito está no péssimo roteiro, assim como sua maior qualidade está na brutalidade das mortes inseridas no longa. Para quem gostou de Hannibal, toda aquela violência explícita será vista aqui novamente. Tudo bem, não teremos um repeteco do jantar entre ele e a detetive, mas todas as mortes são brutais o suficiente para fazer os de estômagos mais fracos (eu incluso) desviar a visão em alguns momentos. Ver Hannibal brincar de samurai com algumas vítimas faz valer o ingresso por si só.

No fim, a experiência vale mais como uma curiosidade totalmente desnecessária do que como um filme a altura de Hannibal Lecter, o canibal mais famoso do cinema. Mas para quem esperava algo infinitamente pior, ver que a qualidade técnica do filme ainda se manteve alta foi compensador, principalmente pelas belíssimas imagens. Faltaram referências para que pudéssemos entender melhor o passado de Lecter; quando a vingança se transformou em prazer? Perceber que ainda não sei a resposta dessa questão só mostra o quão mal aproveitado foi este Hannibal - A Origem do Mal.

Comentários (1)

Cristian Oliveira Bruno | quarta-feira, 27 de Novembro de 2013 - 13:35

Nem devemos considerar esse filme como sobre Hannibal. Ao meu ver, as motivações são ridículas, dentro do contexto criado para o doutor. Hannibal não é motivado pela vingança, mas sim por algo maior. Ele é um predador. Consome suas vítimas por completo, não só sua carne, mas sua força, à começar pela mente, algo esquecido nesse filme. Hannibal lutando com espadas?? Por favor. E para alguém que sequer falava até a idade adulta, é difícil acreditar que chegaria ao nível de cultura mostrado nos filmes anteriores.
O que se salva é a interpretação de Gaspard Ulliel, que convence em seu sadismo.

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