Saltar para o conteúdo

Críticas

Cineplayers

Ainda que não seja um desastre, A Origem do Mal é absolutamente desnecessário.

5,5

Quando Anthony Hopkins assombrou o planeta ao encarnar Hannibal Lecter em “O Silêncio dos Inocentes”, de Jonathan Demme, estava criado um dos mais famosos e aterrorizantes monstros do cinema moderno. Foram necessários três filmes depois, com o mesmo personagem (há ainda o “Caçada ao Amanhecer”, de 1986, que não faz parte da franquia, digamos, oficial, dirigido por Michael Mann) para que Thomas Harris, o recluso criador literário do personagem, tomasse as rédeas do roteiro.

Não me agrada a idéia de se fazerem prequels, o nome dado para filmes que retornam certa história a um ponto de origem. É mera desculpa para ganhar dinheiro em cima de cinesséries de argumentos já esgotados.  Aqui é o mesmíssimo caso: após arrecadar uma fortuna com “Hannibal”, de Ridley Scott, e “Dragão Vermelho”, de Brett Ratner, o já lendário produtor Dino de Laurentiis não conseguia pensar em uma saída para continuar a saga de Lecter no cinema até que teve a idéia de contar na tela a gênese deste. Harris concordou e criou um roteiro essencialmente voltado na tentativa de justificar as atrocidades futuras cometidas pelo psicopata. 

São as escolhas criativas de Harris o que mais incomodam ao assistir a “Hannibal – A Origem do Mal”. Ambientar histórias trágicas na Segunda Guerra Mundial já é um clichê manjadíssimo nos últimos anos e histórias sobre vinganças pessoais também já renderam o que tinham que render. Não há nada de novo, de desafiador – Harris preferiu reciclar o básico e deixou nas mãos do diretor Peter Webber a tarefa de trazer algum sopro inovador ao longa-metragem.

Webber, criado na televisão britânica, trouxe para o filme toda a elegância mostrada em seu primeiro trabalho em longa, o irresistível “Moça com Brinco de Pérola”, elegância esta praticamente ausente nos filmes anteriores da série. Demme utilizou-se da tensão psicológica; Scott, do desagradável e gratuito; Ratner, do espetáculo visual, e então vem um sujeito como Webber e deixa sua impressão sutil e delicada na condução, o que é algo surpreendente. Para alguém em seu segundo longa apenas, imprimir um estilo pessoal em um projeto de controle de produtor não é para qualquer um. É por isso que temos cenas belíssimas como, por exemplo, quando Lecter caminha pela neve algemado.  Só faltou mesmo o compositor Alexandre Desplat para retomar a simbiose perfeita entre som e imagem demonstrada em “Moça com Brinco de Pérola”.

Seria injusto também não citar o trabalho do francês Gaspard Ulliel, de apenas 22 anos, encarnando o Lecter jovem. Não deve ser nem um pouco fácil carregar um personagem imortalizado por Anthony Hopkins, mas Ulliel, cujo trabalho mais famoso até então era “Eterno Amor”, de Jean-Pierre Jeunet, não só evita imitar Hopkins como insere camadas próprias ao personagem. Seu rosto bastante exótico e seus olhos azuis expressivos são outros pontos pró.  Enquanto isso a diva Gong Li interpreta o possível pior papel de sua carreira como a senhora Murasaki, protetora de Hannibal, o sempre terrível Rhys Ifans mais uma vez extrapola na pele do perverso Grutas e Dominic West passa despercebido como o inspetor Popil.

Para terminar, um aviso aos espectadores de estômago fraco: “Hannibal – A Origem do Mal” possui várias passagens explícitas, grosseiras e nauseantes. Nada digno de reprovação, afinal estamos falando de um filme sobre o canibal mais famoso do cinema.

Comentários (0)

Faça login para comentar.