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Críticas

Cineplayers

Um pastiche de fábula natalina.

4,5

Criado para a literatura em 1957 por Dr. Seuss em Como o Grinch Roubou o Natal, o humanóide verde Grinch chega em 2018 a sua terceira adaptação audiovisual, após um especial de TV onde teve a voz feita por Boris Karloff (Frankenstein) e um live-action protagonizado por Jim Carrey (Todo Poderoso) em 2000. Agora, o estúdio Illumination, responsável pela franquia Meu Malvado Favorito, lança em 2018 a animação computadorizada O Grinch.

No novo filme, a dupla de diretores Peter Candeland e Yarrow Cheney não fazem muito além de trazer para a moda atual a história do Grinch, o seu ódio antigo e ressentido pela época do Natal e a redenção que encontra através da pureza da garotinha Cindy Lou. Por aí se entende uma grande participação de atores ou personalidades famosas para integrar o elenco, uma trilha sonora lotada de conhecidos hits da música pop e uma grande aposta no humor físico acima de tudo. Ou seja, apesar da história diferente, nada que divirja muito de filmes como Minions.

O Grinch não aproveita a duração menor em relação à versão anterior - vinte e quatro minutos a menos - para ser mais dinâmico. Ao invés disso, é bem mais apressado e menos desenvolvido. O novo filme dá destaque ainda maior para o cachorro Max e o novo personagem, a atrapalhada rena Fred. Com isso, boa parte do filme revolve ao redor das cômicas situações envolvendo Grinch querendo estragar o natal com ajuda dos ajudantes puros e bem intencionados demais para entender seu ressentimento. Por um lado, o filme trabalha bem o personagem de Max, que é leal e carinhoso mas também se chateia e discute com seu dono esverdeado. Já Fred é desperdiçado, entrando e saindo da trama de maneira puramente utilitária, mais para fazer graça e “ser fofo”, nunca demonstrando questões próprias e condenado unicamente às gags por seu tamanho avantajado.

Todo esse festival de piadas mencionado tem um preço. Boa parte da fama do Grinch para a cultura pop baseia-se em alguns elementos que o filme não explora. O primeiro é o passado do Grinch que torna compreensível seu ressentimento, aqui resolvido em um flashback de menos de um minuto, enquanto a versão dirigida por Ron Howard (Uma Mente Brilhante) em 2000 torna sua história intimamente ligada à Quemlândia. Assim sendo, a informação é até compreensível, mas nunca realmente sentida. Antes o Grinch virou “o Grinch” inclusive por ser vítima de bullying do colega que viria a ser o prefeito; aqui ele é apenas ignorado. 

E dramaticamente falando, talvez o pior aspecto do novo filme seja a relação entre o Grinch e Cindy Lou. É à princípio a história de uma alma salva da solidão pelo espírito natalino de solidariedade. Aqui, a dupla principal de protagonistas mal se encontra cinco vezes, então fica a dúvida de como a garota consegue transformar a criatura. Antes, Cindy ia especificamente até a casa do personagem-título para provar à Quemlândia que o Grinch era uma boa pessoa; aqui, ninguém é hostil ao Grinch e sua relação com sua coadjuvante é meramente circunstancial e acidental. 

O filme não consegue descolar da sensação irritante de linha de produção do estúdio, que um dia uma fórmula foi descoberta e então qualquer desafio foi então abandonado. O filme não tem carisma próprio nem uma linha narrativa focada em seu drama. Acerta na reprodução do humor visual que chamou a atenção em Meu Malvado Favorito, o misto de fofura com trapalhada, mas trabalha questões de drama forma genérica. Em certos momentos, nem se sabe para onde a trama está caminhando, ou seja, a sensação é de que as questões narrativas são mera costura para personagens batendo cabeça, dando topadas e dançando ao som de sucessos populares. 

Quando tenta ser dramático, é apelativo com closes e música alta mas sem desenvolvimento dramático, de nada adianta: o pedido de desculpas do Grinch após devolver os presentes é tão rápido e raso que praticamente joga fora o clímax de redenção e a catarse que toda fábula moral precisa ter. Com tamanha preguiça criativa, a nova obra da Illumination pode até divertir, mas sem situações e personagens para nos importarmos, jamais marca de verdade o espectador.

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