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Críticas

Cineplayers

Esquemático e bem intencionado.

5,5

Há um tempo considerável, Breno Silveira levava às telas do cinema Dois Filhos de Francisco (idem, 2005). Egresso do mundo dos documentários, comerciais e videoclipes e da fotografia em filmes como Bufo & Spallanzani (idem, 2001), de Flávio R. Tambellini, e O Homem do Ano (idem, 2003), de José Henrique Fonseca, Breno conseguiu o feito de fazer um dos filmes mais populares pós-retomada: mais de cinco milhões de espectadores e o filme mais assistido do Brasil na época – e de quebra, consagrou a dupla sertaneja Zezé di Camargo e Luciano ao representar as agruras da vida e a música da região Centro-Oeste.

Anos depois de alguns projetos que não alcançaram uma repercussão tão grande, Breno agora volta a apostar no terreno das cinebiografias com este Gonzaga – De Pai Para Filho (idem, 2012), sobre o rei do baião, Luiz Gonzaga, e sua relação com o filho, o compositor de protesto Gonzaguinha. O foco principal é enxergado do ponto de vista do pai, que relembra toda a sua difícil trajetória, desde pobre trabalhador do campo em Exu, município de Pernambuco, até músico consagrado em todo o Brasil. Como tantos outros, foi um que deixou para trás, por muito tempo, sua terra natal, árida e de vida difícil para tentar a sorte e estourar no Sul Maravilha, onde era reunido o grande interesse comercial e cultural da época.

O filme, obviamente, é bastante reverente: Luiz Gonzaga era um artista que o grande público desconhecia, com uma abordagem melódica e rítmica inovadora, resultante da união singular e característica dos instrumentos. Várias canções, como Baião de Dois, Baião e a tristíssima Asa Branca, considerada o hino do Nordeste, entraram de forma definitiva para o cancioneiro popular brasileiro. E com esse tom reverente, evita grandes polêmicas, apesar de ainda se preocupar em expor certas falhas de caráter: o jeito duro, obstinado e impetuoso lhe custou muitas brigas com cônjuges, familiares e amigos. Porém, o foco principal no filme é a relação conflituosa com o filho Gonzaguinha. Preocupado em sustentar a família, acabou sendo um pai ausente e distante, que acabou criando um filho de personalidade e contestadora.

Obviamente, por mais que encoste em certos problemas, jamais os aprofunda: o objetivo de contar a história do homem por trás do mito intenta abarcar várias camadas, mas acaba comentando sempre de maneira superficial. Obra respeitosa, a linguagem e a narrativa do filme são tipicamente classicistas e não inventam muito – e não é nem um pouco diferente de outras cinebiografias como Ray (idem, 2004), Johnny e June (Walk The Line, 2005), entre tantas outras. Introdução, apresentação do personagem, descoberta do talento, problemas particulares e redenção final: trama e subtramas resolvidas de maneira quase mecânica com uma direção tão simples e comercial quanto (o velho esquema do plano geral, dois planos mais fechados e um plano detalhe domina a maioria das seqüências).

A bela fotografia junto com a música fortalece o lado sensorial: a temperatura de cor forte e calorosa do Nordeste, o clima urbano, caótico e sensual do Rio de Janeiro – e combinando com a música apropriada, agitada e percussiva para os momentos de alegria, cordas para os momentos de tristeza, e por aí vai, no final das contas temos um produto direto e objetivo na sua intenção de prestar homenagem e resgatar a memória enquanto essa mesma figura cria um outro mito para a geração posterior – que partiram deste mundo em um período relativamente curto de tempo (Gonzaguinha faleceu menos de dois anos após a morte de Gonzagão).

É claro, interessa mais ao filme, abarcando mais de quarenta anos de sociedade e música brasileira, os dramas pessoais que também vão despertar interesse no grande popular brasileiro: os conflitos familiares, que tem uma atenção muito mais privilegiada que a própria música, sempre pontual para demarcar a diferença entre a música em tom de lamento e as canções indignadas do primogênito. Está tudo lá, mas a vontade de diretor e roteirista de abraçar o mundo em pouco tempo acaba não permitindo que o filme vá mais além em qualquer ponto que seja. A sequência sobre Asa Branca, particularmente, fica devendo muito, assim como a parceria com Humberto Teixeira. Fãs do baião, do xote e do xaxado talvez não fiquem tão satisfeitos quantos os que são fãs basicamente apenas da figura de Gonzaga.

O que pode ser chamado de filme “redondo” ou ainda “correto” acaba impedindo Gonzaga – De Pai Para Filho de crescer – mas também o impede de rolar ladeira abaixo. Pensado e calculado para jamais ofender ou perturbar, apenas engrandecer e celebrar, o filme tem certamente valor em seu propósito, mas a nobreza de um conceito nunca deveria ser colocada à frente dos próprios méritos cinematográficos. Ainda assim, o filme vale a assistida. Não é tão gostoso quanto um verdadeiro baião de dois, mas ainda dá um caldo.

Visto no 14º Festival do Rio

Comentários (6)

Angelão | sábado, 29 de Setembro de 2012 - 08:58

[2]

Paco Picopiedra | sábado, 29 de Setembro de 2012 - 12:55

O cara fez sucesso com o 2 Filhos de Francisco, já era de se imaginar que seguiria o mesmo caminho seguro e didático. Por isso evito cinebios, raramente mudam o formato.

Gosto de Luiz Gonzaga e não gosto de Gonzaguinha - apesar de conhecer pouco.[2]

Alexandre Carlos Aguiar | domingo, 30 de Setembro de 2012 - 10:33

Gosto de ambos e creio que será um sucesso. Li a crítica de Luiz Carlos Merten, no Estadão, que teve uma boa impressão do filme.

Alan Principe | sábado, 27 de Outubro de 2012 - 23:42

Estes meios abrem caminhos para a descoberta das pessoas, o que elas produziram e/ou o que supostamente foram. Vale a pena. Conheço muito Luiz Gonzaga e pouco o filho. O filme me instigou e já estou estudando Gonzaguinha.

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