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Críticas

Cineplayers

Transição fracassada.

1,0

Da literatura à teledramaturgia, o tom investigativo adotado por uma narrativa sempre fora uma grande isca de públicos, de modo que o famoso recurso do “quem matou” conseguia, muitas vezes, atiçar a curiosidade do consumidor daquele produto, seja ele um leitor ou um espectador. Aguardando os mesmos resultados, Catherine Hardwicke se vale deste artifício para sustentar e conduzir sua versão para o famigerado conto de fadas Chapeuzinho Vermelho. Contudo, a cineasta se mostra totalmente perdida em seu apelo incessante para fórmulas sempre óbvias, limitadas e imaturas.

No caso de A Garota da Capa Vermelha (Red Riding Hood, 2011), o roteiro escrito por David Johnson pretende guiar a curiosidade da platéia ao entregar-se completamente ao mistério existente por trás da identidade do Lobo, visando adornar esse segredo através de um nítido revestimento de horror. Não se contentando com a obviedade dessa proposta, Hardwicke consegue sabotar ainda mais a narrativa ao lançar a mão de uma direção preguiçosa, de movimentações evidentes e táticas fadadas ao fracasso. O que dizer de uma câmera serelepe que sempre tira o foco do(a) culpado(a)? Logicamente, a intenção predominante é a de trazer o impacto acompanhado da constatação de que a criatura é a pessoa que jamais aguçaria quaisquer suspeitas.

E o erro reside justamente aí, no fato de tanto a diretora quanto o roteirista confiarem realmente na astúcia desse pensamento, que com isso estarão a um passo adiante da sagacidade do espectador, quando na verdade estão somente denunciando as próprias fraquezas de seu trabalho. A dependência desse mistério é tamanha que o filme adiciona naquele meio uma espécie de triângulo amoroso (que compreende Amanda Seyfried, Shiloh Fernandes e Max Irons), onde a desconfiança colocará à prova o sentimento dos envolvidos. Com isso, Hardwicke se arruína de vez no auto-plágio que comete, quando os elementos que envolvem o núcleo romântico da produção nos transportam diretamente ao seu trabalho em Crepúsculo (Twilight, 2008); o que, visto o considerável sucesso da adaptação do livro de Stephenie Meyer, delata seus interesses inteiramente comerciais.

Talvez tenha sido isso que a levou a acreditar que com esta sua transposição, ela estaria dando ao clássico literário uma face mais madura, mais forte, mais intensa. Não obstante disso, a trama altera a idade dos personagens (elemento utilizado pelo recente Alice no País das Maravilhas [Alice in Wonderland, 2010], de Tim Burton), transformando a criança protagonista da obra literária numa adolescente de hormônios em combustão. Isso nos leva a um grave erro de análise por parte dos responsáveis da produção, que parecem não compreender que estão adaptando não uma fábula infantil, mas um conto dotado de mensagens tácitas e insinuações implícitas. Na verdade, parte do fracasso dessa transposição de Chapeuzinho Vermelho para um universo mais “adulto” se culpa à infantilidade do texto (paradoxo? Não. Inaptidão) ao implantar a estória no campo do absurdo - um elefante de metal utilizado como método de tortura! -, perdendo de vez quaisquer parafusos que lhe restavam.

Se a imaginação já é claramente escassa no que toca a narrativa, o mesmo se aplica aos quesitos plásticos da obra, que abraça de vez a artificialidade, em cenários exagerados que buscam remeter ao ambiente tradicional dos velhos contos de horror. E esse é um elemento que realmente não encontra reflexo na narrativa, seja pelas tentativas inférteis de dar vida a um clima de tensão, ou pelo desperdício de um ator como Gary Oldman, que encontra-se na pele de um sacerdote inquisidor mergulhado em estereótipos e detentor de uma importância questionável dentro da estória. Tudo faz parte do engodo que Hardwicke pretende montar em seu filme, comprometendo a trama já desgastada ao incluir figuras e eventos destoantes do que seria cabível apresentar, apenas em nome do marketing e do chamariz de públicos. Objetivos esses que, naturalmente, falham diante de pretensões vazias e incompetência exacerbada.

Comentários (17)

Bruno Kühl | quarta-feira, 19 de Outubro de 2011 - 19:48

Eu continuo achando que fazer críticas para filmes como esse é algo irrelevante...

Marcelo Leme | quarta-feira, 19 de Outubro de 2011 - 22:47

Ótimo texto!!!

Matheus Soeiro Villela | quarta-feira, 19 de Outubro de 2011 - 22:51

Só tava brincando. É que ele faz mais críticas metendo o pau em porcarias do que de fil-mes que ele gosta. E ele é um crítico que sabe detonar um filme 😎

João Carlos Soares de Lima | segunda-feira, 24 de Outubro de 2011 - 21:51

n consegui assistira a 20 minutos de filme... quando vi aqueles caras com os cabelos cheios de gel em uma época dita medieval, vi que era apenas uma um besteiros feito para minas virgens de 15 anos, como crepúsculo(esse eu assisti ainda até a parte que o vampiro brilha na luz...um dois piores momentos da história dos filmes de vampiro)

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