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Gangues de Nova York

(Gangs of New York, 2002)
7,3
Média
829 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Gangues de Nova York é mais um filme muito bom nas mãos de Scorsese, que já fez obras melhores.

8,5

Sinto-me a vontade para começar a falar sobre este filme de Martin Scorsese que recentemente estreara em telas nacionais, Gangues de Nova York. Não só por com o tempo estar aperfeiçoando-me na arte da escrita, como por ter assistido ao filme três vezes (por enquanto) nos cinemas e em situações bem diferentes. Para que eu pudesse chegar a uma real conclusão sobre a obra de Scorsese, foi preciso assisti-la mais de uma vez. Sabe quando você sai do cinema cheio de perguntas sobre o filme (parte técnica, não do roteiro), às vezes até ou somente a nível de comparação? Então, assim que sai da minha primeira ida a Gangues de Nova York em um cinema de Brasília, fui novamente assistir ao filme em Campo Grande e, agora, em Florianópolis. Sem sombra de dúvidas essas tantas "idas" a um filme recém lançado, me ajudaram a analisar melhor certos trechos da obra, que hora é tomada por partes intensas, hora é tomada por partes monótonas.

O novo filme de Scorsese nos leva a Nova York do século retrasado, uma cidade ainda em formação que era completamente tomada por gangues que atuavam nas mais variadas camadas e de diversas formas na sociedade. O filme conta a história de Amsterdam (Leonardo Di Caprio, de Titanic, Prenda-me se for Capaz), um jovem rapaz que não sabe sua própria idade e que perdeu o pai ainda quando criança em uma sangrenta batalha que nos é apresentada no início da película. Anos mais tarde, Amsterdam resolve voltar às "Cinco Pontas" (5 Points), o local mais famoso da cidade na época, uma verdadeira visão do caos na qual a cidade estava mergulhada. Continuando em nosso breve resumo da história, digo apenas que o jovem "herói" busca sua vingança contra Bill, O Açougueiro (Daniel Day-Lewis); que havia matado o pai de Amsterdam, o padre Vallon (Liam Neeson).
 
Gangues de Nova York não é um filme, decididamente, para pessoas que costumam chegar atrasadas ao cinema, ou simplesmente não são pontuais; simples assim. Digo isso porque a seqüência inicial é um dos pontos fortes do filme, traz mil e um detalhes da trama que, de fato, são lembrados a todo momento durante o decorrer do filme. E por falar nessa seqüência, ela é magistralmente conduzida por Scorsese. Logo no início temos a batalha entre os "Nativistas" e os "Coelhos Mortos", que viria a resultar na morte do líder dos Coelhos Mortos, o padre Vallon, pai do pequeno Amsterdam. Méritos para Liam Neeson, que apesar de ficar pouco tempo em cena, passa de forma contagiante toda a emoção e outros sentimentos que seu personagem deveria passar. Um líder, um padre, um homem. Perfeito em cena!

Logo no início, também, somos apresentados ao açougueiro Bill, o homem que depois da disputa inicial do filme torna-se um líder local que impõe a seus moradores taxas, impostos e outras tantas coisas. Amedronta e intimida qualquer um por puro instinto e mata aqueles que se colocam em seu caminho. Seu ódio pelos Irlandeses e imigrantes que chegavam ao continente é marcante, você sente em cada gesto de Bill o desprezo que ele sente por aquela gente. Se justiça for realmente feita durante o Oscar 2003, o que eu duvido muito que ocorra, o Oscar de Melhor Ator já estaria nas mãos de Daniel Day-Lewis, que está impecável em seu papel. Sem sombra de dúvidas ele é o nome máximo de Gangues de Nova York, até mesmo mais que o próprio Martin Scorsese, mentor da película. Daniel incorpora o personagem como há muito tempo não via nos cinemas. É espetacular. Perfeitamente balanceado, o personagem de Daniel é um carrasco, um líder, um intimidador, um "herói" local que comemora durante todos os anos a morte "do último homem honrado" (como o mesmo proclamava) que existira nas 5 pontas; Padre Vallon. O personagem de Day-Lewis chama a atenção desde suas cenas mais desafiadoras às mais simples, como a seqüência em que o mesmo relata para Amsterdam como perdeu um de seus olhos e o que fez com o mesmo. Uma atuação exímia.
 
Outro ponto forte do filme são seus coadjuvantes. Cameron Diaz (As Panteras, O Máscara) até que se saiu bem como par romântico de Di Caprio. Seu papel não foi nada desafiador, nada que exigisse tanto trabalho e dedicação quanto os personagens de Day-Lewis, Di Caprio e Broadbent; mas ela segue a risca o script e faz bem sua parte, não atrapalha no andamento, sua atuação melhora da metade da projeção para frente. Jim Broadbent (Iris e Moulin Rouge - Amor em Vermelho) é outro que está perfeito em seu papel de "político corrupto que sempre quer ficar por cima"; Jim, pelo menos para mim, depois de Moulin Rouge, virou uma personalidade marcante, sua postura e voz são reconhecidas nos mais variados atos. Ele altera bem seus momentos engraçados com os escassos momentos sérios e, às vezes, até mistura os dois, como em uma das cenas finais do filme, quando seu personagem indaga-se: "Milhões de votos foram enterrados aqui hoje". Simplesmente demais.
 
Leonardo Di Caprio está de volta às telas de todo o mundo e em duas superproduções: Gangues de Nova York e Prenda-me Se For Capaz. Infelizmente, aqui Di Caprio parece não ter se adaptado tão bem ao papel de Amsterdam quanto o mesmo se adaptou ao personagem de Frank Jr no filme de Spielberg. Faltou aquela sutileza, aquela identificação pessoal com o papel. Não me entendam mal, o garoto está bem no filme, mas ainda assim algumas de suas passagens chegam a ser monótonas.

Outros pontos que chamam atenção em Gangues de Nova York referem-se aos quesitos técnicos. E tecnicamente falando, o filme de Scorsese é um filme perfeito. As cenas iniciais, a forma como elas são conduzidas, a fotografia, os efeitos sonoros, o som, a maquiagem, o figurino, tudo combinando em perfeita harmonia. Não gostei da forma em como Scorsese conduziu o "confronto" entre Bill e Amsterdam, mas infelizmente nem tudo é perfeito. A edição é boa, mas falhou nesse ponto. Entretanto, acerta em tantos outros.

Há quem ache o filme um pouco confuso por misturar assuntos tão variados como o romance, a guerra civil norte-americana, a sede de vingança de Amsterdam, as eleições, o recrutamento e diversos outros quesitos. Entretanto, depois de assistir ao filme por mais de duas vezes, percebi que as coisas não mais me pareciam tão confusas como da primeira vez. De certa forma, até gostei de como os fatos haviam sido apresentados. A edição que tanto reclamei na primeira vez em que assisti ao filme em Brasília, elogiei quando sai da terceira em Florianópolis. A primeira vista, pode parecer confuso pelo fato do filme não se segurar a um clímax apenas. Em seu terço final de exibição, entretanto, com um pouco de atenção, você pode aproveitar todos eles de forma agradável: o desfecho entre Bill e Amsterdam, as eleições e a Guerra Civil que naquele momento chegava à Nova York.
 
O som está ótimo no filme e os efeitos visuais razoáveis durante as cenas finais em Nova York. A trilha sonora é composta por músicas instrumentais que dão vida ao filme e conta com a participação do U2 na canção "The Hands That Build America".
 
Gangues de Nova York é mais um filme muito bom nas mãos de Scorsese, que já fez obras melhores, mas acerta mais uma vez com esse projeto rico e que nos trás tantas informações sobre aquele período. Cinema é cultura, lembre-se disso! Gostei da tomada final do filme onde, a partir de um ponto fixo que realmente existiu, um cemitério da cidade, é mostrado a evolução da cidade com o passar das décadas. Com direito a World Trade Center e tudo mais. Um bom espetáculo.

Comentários (1)

Cristian Oliveira Bruno | terça-feira, 26 de Novembro de 2013 - 16:37

Uma obra magnífica do mestre. Day-Lewis perfeito e Di Caprio muito bem de novo.

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