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Críticas

Cineplayers

Um filme despretensioso e divertido do diretor Brian De Palma. Uma sátira do comportamento da alta sociedade.

7,0

A Fogueira das Vaidades é uma divertida sátira sobre o poder dos ricos e políticos, e como esse poder é utilizado para abafar os podres em suas vidas pessoais. Dirigido com bastante estilo por Brian De Palma, o filme tem marcas bem profundas do diretor, mas ao mesmo tempo possui um estilo que ele não costuma utilizar. De Palma resolveu fotografar o filme de maneira bem  leve, lembrando o estilo de Robert Altman (Gosford Park), com câmeras soltas, “informais”, sem grandes ângulos de câmera (com exceção de seus enormes takes contínuos, seguindo os atores sem realizar cortes, técnica famosa do diretor). Essa mistura de estilos enfureceu muita gente, que torce o nariz para o filme, além do quê De Palma jamais foi amado incondicionalmente pelos críticos.

Mas como eu disse, é um filme divertido, talvez 15 minutos longo demais, o que também não serve para estragá-lo. Adaptação de um livro de Tom Wolfe, o filme possui duas linhas de tempo. No início, vemos o personagem de Bruce Willis, o repórter Peter Fallow, chegando em uma enorme festa para ser homenageado. Fallow logo nos apresenta o verdadeiro personagem principal do filme. Interpretado por Tom Hanks, Sherman McCoy é um milionário que trabalha na bolsa de valores de Nova Iorque, um sujeito divertido que anda traindo a sua mulher descaradamente (a cena de apresentação do personagem é ótima, retratando bem essa situação) com Maria, a personagem de Melanie Griffith.

Enquanto voltavam de mais um encontro, acabam perdendo-se no trânsito e vão parar no Bronx, um dos bairros mais violentos da cidade, onde arrumam um desentendimento e acabam atropelando um sujeito que iria violentá-los, e este vai parar em coma no hospital. O casal foge sem prestar socorro, achando que nunca iriam ser descobertos. Mas um político, candidato à prefeitura, precisa de votos dos negros do Bronx para ganhar a eleição, e resolve comprar a investigação para mostrar que um cara rico e bem sucedido como Sherman também pode ser preso, não apenas os bandidos sujos da cidade.

A história do filme é leve e fácil de acompanhar, filmada sempre em tom satírico, sem grandes pretensões. Mesmo as interpretações são um tanto quanto debochadas. Bruce Willis, por exemplo, tem cara de bêbado durante quase todo o filme, e parece estar se divertindo enquanto interpreta o repórter que resolve investigar o que realmente aconteceu na noite do atropelamento. As cenas de tribunal, presididas pelo juiz personagem do ator Morgan Freeman, são muito engraçadas, fazendo do estabelecimento um circo de interesses e mentiras.

De Palma , como já foi comentado no início, tenta uma abordagem de direção diferente do que costumava utilizar até então. O filme, lançado em 1990, não tem o tom sério de seus anteriores Os Intocáveis e principalmente Scarface, e a própria história por si só já é uma grande piada (no Brasil os interesses políticos postos à frente da justiça verdadeira acontecem todo o tempo, não é mesmo?). É certamente uma abordagem de direção incomum, mas que combina perfeitamente com o estilo da história.

Os atores estão muito bem, sempre soltos e descontraídos. Normalmente exageram na voz e gestos, provando mais uma vez o tom satírico do filme. Não há grandes interpretações para conquista de nenhum prêmio, mas é interessante ver figurinhas hoje carimbadas em uma fase mais inicial de suas carreiras. Tom Hanks havia feito apenas filmes bobos em sua maioria, como Quero Ser Grande; mas Bruce Willis, porém, já havia estourado com Duro de Matar (e sua seqüência também).

A Fogueira das Vaidades é um filme divertido, engraçado às vezes, que retrata o comportamento de parte das pessoas da “parte rica e importante” (fingimos que seja isso, certo?) da sociedade atual. Um filme que tem mais de uma década, mas que está cada vez mais atual. Tem suas falhas, como a de ser um pouco longo demais, e seu tom satírico certamente não vai agradar a todos, assim como a sua direção diferenciada. Sim, o filme concorreu a cinco “Framboesas de Ouro”, mas mesmo assim posso recomendá-lo numa boa.

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