Uma bela porcaria, se levarmos em conta o quanto era bom A Balada do Pistoleiro.
Tendo visto apenas recentemente A Balada do Pistoleiro (Desperado, 1995), eu estava esperando com razoável ansiedade esta seqüência, principalmente após o lançamento do bom trailer do filme. O elenco, felizmente, é praticamente o mesmo, com algumas exclusões importantes, como a do ator Steve Buscemi (o que é uma pena) e alguns novos atores de peso, como Johnny Depp e Willem Dafoe. Nota-se também um fato curioso: alguns atores, que interpretavam personagens menores no filme de 1995, e que morreram naquele filme, estão de volta. Como é um filme de exageros, não é um ponto negativo, bem pelo contrário, é muito engraçado.
Infelizmente, depois de alguns minutos, já dava para notar que esta seqüência não iria ser tão boa quanto o filme anterior. E o pior: não é somente um filme inferior, como também é um filme muito ruim por si só, e em certos momentos até mesmo horroroso. Vale destacar que sou um fã de Desperado, quase tudo naquele filme deu certo. Tinha tudo que um fã de Tarantino, por exemplo, poderia querer (inclusive ele mesmo): uma história exagerada, personagens caricatos mas divertidíssimos, ótimas cenas de ação e, claro, um roteiro muito interessante.
Esta seqüência tem o exagero do anterior, os personagens caricatos e até mesmo algumas cenas boas, que relembram os melhores momentos daquele filme. Mas só! Tirando esses poucos pontos positivos, Era Uma Vez no México apresenta um roteiro horrível, cheio de tentativas de reviravolta para deixar o espectador ligado na história (prestem atenção na palavra “tentativas”), um número muito grande de heróis, anti-heróis e vilões, que fazem a história se tornar uma bagunça enorme e desnecessária. Esse grande número de personagens faz com que nenhum deles, talvez com exceção do novo personagem interpretado por Depp, o agente da CIA Sands e, claro, El Mariachi, interpretado por Banderas, seja desenvolvido e conseqüentemente interessante ao ponto de proporcionar entretenimento, como quase todos os personagens do filme anterior faziam. O cantor latino Enrique Iglesias faz uma tentativa de atuação aqui, mas não passa de um elemento comercial para chamar a ala feminina para a sala de cinema (e a sessão estava cheia delas, de fato).
O pior mesmo em relação aos personagens é que a dupla que ocupa a maior parte do pôster do filme (belo pôster, aliás), Antonio Banderas e Salma Hayek, quase não aparece durante o filme. Antonio Banderas, que surgiu para Hollywood no filme de 1995, parece mais um coadjuvante nesta seqüência, há intervalos enormes entre seus aparecimentos, o que é uma grande lástima, visto que somente o fato dele aparecer na tela já desperta interesse, devido à sua presença sempre marcante, sobretudo com este seu personagem em específico. A belíssima Salma Hayek é ainda menos vista, e nem aproveitar seu corpo estonteante (coisa que o estilo do filme poderia fazer sem se tornar apelativo) o diretor Robert Rodriguez fez.
As cenas de ação (tiroteios, em sua maioria) são também ruins, e possuem uma edição estranha, cortes esquisitos e desnecessários, talvez para esconder melhor a sua mediocridade. Além disso, as cenas tornam-se rapidamente cansativas e são muito repetitivas. Tudo que havia de interessante em termos de ação já fora exibido no trailer do filme. A história é sobre a realização de uma revolução no México, e cada vilão tem um interesse diferente em torno dela. É um conto bem “tarantiniano” mesmo, o filme abre várias frentes, confundindo interesses de personagens e, eventualmente, fazendo-os chocarem-se entre si. Quem se confunde mesmo é o espectador, com toda essa bagunça na tela.
A bem da verdade é que Era Uma Vez no México é MAIS um filme decepcionante a sair em 2003 e, não por coincidência, mais uma seqüência. Não sou particularmente fã do diretor Robert Rodriguez, mas neste filme pode-se dizer que ele esculhambou de vez, exagerando demais elementos que, no filme anterior, já estavam no limite do aceitável para o estilo “faroeste moderno”. Não recomendo este filme para ninguém, a não ser se você tiver ‘A Balada do Pistoleiro’ como um dos melhores filmes que já viu na vida. Vale mais aguardar mais um pouquinho (até quando vão continuar atrasando TANTO os lançamentos aqui no Brasil?) Kill Bill – Volume 1, de Quentin Tarantino.
É inferior sim, mas não acho que seja tão ruim. Acho que, inclusive, fechou relativamente bem a trilogia.