Tom Cruise e Cameron Diaz em uma sátira aos clichês dos filmes de ação.
Tom Cruise por um bom tempo foi considerado o maior astro de filmes ação do mercado americano. Filmes distantes como Top Gun, Dias de Trovão e os primeiros da franquia Missão Impossível lhe garantiram esse status, que foi muito bem aproveitado. Já Cameron Diaz se destacou desde cedo no ramo da comédia. Descoberta em O Máscara, ganhou prêmios importantes e reconhecimento da crítica com Quem vai ficar com Mary? e Quero ser John Malkovich. Logo, juntá-los em um filme que trabalhasse o forte de cada um dos seus astros parecia uma jogada fácil. E é quase bem sucedida.
Cameron Diaz interpreta June Havens, uma mulher que acaba se apaixonando por um agente secreto em fuga. O ponto mais interessante do filme é que, em muitos momentos, acompanhamos a perspectiva feminina da ação, da pessoa que não sabe manejar armas, não sabe como se colocou naquela situação, nem como sair dela, e que frequentemente tem que confiar na bondade de estranhos, sem saber em quem acreditar. É a pessoa que corre para onde é mandada (quase sempre), bebe o que lhe ordenam, porque simplesmente não tem muitas opções. Uma pena que o roteiro acabe por seguir algo mais clichê e Cameron, conforme sua personagem se envolve com o agente, começa a pilotar motos e atirar com armas de fogo como se fosse um talento nato, ou aprendesse por osmose.
Já Cruise parece em seu habitat natural. Explosões em ilhas paradisíacas, saltando de carros em movimento, atirando para todos os lados, e sempre com aquela cara de que tudo está sobre controle. Tudo em seu personagem parece um pastiche dos filmes de ação. Ele precisa proteger a mocinha, impedir que todos os vilões (incluindo alguém que virou a casaca) peguem uma bateria que poderia iluminar uma cidade pequena, possuí todos os apetrechos dignos de James Bond, pilota todos os tipos de veículos e viaja por várias atrações turísticas enquanto salva o dia.
O maior problema do filme certamente está em seu diretor, James Mangold, uma pessoa que claramente está tentando fazer um filme de cada gênero. Depois do faroeste de Os Indomáveis, o drama musical e biográfico Johnny & June, o suspense Identidade, a comédia romântica Kate & Leopold, um filme de ação parecia ser mesmo o próximo passo na lista de afazeres dele. E embora seja eficiente o suficiente para satirizar um filme com tantos elementos clichês, na parte da comédia ele não consegue disfarçar que não possui timing cômico, estragando momentos potencialmente engraçados.
O elenco coadjuvante também peca pelo excesso de qualidade. É um desperdício colocar Viola Davis, indicada ao Oscar por suas duas cenas de Dúvida, num papel tão insignificante e insosso. Da mesma forma, colocar Peter Sarsgaard, ótimo ator, péssimo pra escolher papéis, para ser antagonista ao sempre sorridente e Tom Cruise. Era mais fácil colocar uma camisa escrito “Eu sou o vilão”. Por mais que o filme não se esforce para criar questionamentos sobre as verdadeiras intenções de Cruise, escalar Sarsgaard foi óbvio demais. Paul Dano (Pequena Miss Sunshine, Sangue Negro) pelo menos parece se divertir, e não estar ali apenas pra levar o cheque pra casa.
Ainda assim, o filme diverte principalmente pelos protagonistas, que demonstram a mesma boa química de Vanilla Sky, e por algumas tiradas inspiradas do roteirista estreante Patrick O'Neill, que dá ao texto um espírito feminino difícil de encontrar nessas produções. E, ao mesclar os clichês de dois gêneros diferentes, criou algo divertido, satírico e não tão lugar comum quanto se poderia esperar. Também é louvável acompanhar um filme de ação com atores de 40 e 50 anos, provando que situações inverossímeis repletas de sentimentos insensatos no meio de explosões podem acontecer com pessoas de qualquer idade. Talvez algum dia Megan Fox e Shia LaBeouf sejam os projetos de atores mais utilizados em Hollywood, mas por enquanto, Tom e Cameron mostram que ainda sustentam um filme, mesmo quando nem tudo em volta ajuda.
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