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Empuxo

(Buoyancy, 2019)
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Sobre meninos e lobos

6,5

Há uma carência que assola a primeira parte de Empuxo, candidato australiano ao Oscar de filme internacional do próximo ano. Tanto em linguagem cinematográfica quanto em construção narrativa, aquele grupo de situações já parece ter sido visto consideráveis vezes anteriormente em outras produções. A busca pela sobrevivência em condições das mais precárias, a incompreensão familiar mediante o sonho de partir, a exploração do oprimido pelo também oprimido — nada disso é novo e tudo isso bate na tela de maneira pesada e cansada, como se fosse um almanaque de situações obrigatórias a um filme que se pretenda tratar de tais assuntos. Não há nesse terço inicial qualquer rigor ou diferenciação formal, apenas uma indiscriminada reprodução de imagens.

A partir do momento em que o jovem protagonista sai em busca dos seus sonhos, e os mesmos imediatamente viram pesadelos, o diretor Rodd Rathjen parece conhecer as chaves de tensão em que o pequeno Chakra se implicará e o filme ganha novo fôlego, ou o primeiro. Com o restante de sua duração praticamente encerrada nos espaços ínfimos de um navio pesqueiro de médio porte e o oceano por testemunha, Empuxo ganha pontos ao conseguir retirar tanto de tão pouco, em condições que não começaram propícias a elevar o nível observado, mas que se acerta e definitivamente eleva, graças a uma soma de fatores essenciais.

Ainda que o roteiro de Rathjen não apresente nenhuma grande novidade no que concerne à sua temática específica, a mesma é desenvolvida com segurança e competência. Porém, é do trabalho de direção o motivo da elevação gradual do longa, que sai do lugar de uma repetição para um projeto urgente em desvendar uma construção de personagem. Não há necessariamente um estudo de Chakra, mas uma absurda observação sobre sua mudança, e que é mais do que um processo de amadurecimento do mesmo, mas uma espécie de destruição progressiva de suas capacidades humanitárias. O personagem principal vai de determinado a assustado e depois então a desesperançoso até chegar a uma espécie de praticidade às raias da insanidade ele faz o que precisa ser feito para sobreviver.

Tratando de denunciar práticas que são cometidas ainda hoje pelo mundo, onde grupos sociais menos favorecidos são impelidos a explorar esses mesmos grupos de onde se originam, o filme radiografa o passo a passo do despertar de pequenos monstros, tanto em suas versões iniciais e já estabelecidas em seus graus de atrocidades, quanto em seu patamar mais jovem, como observar a criação do horror absoluto, em registro mais eficaz do que os Irmãos Dardenne realizam em O Jovem Ahmed nas propostas de nos vermos diante do início da desestrutura emocional de jovens cujas mentalidades estão sendo desenvolvidas; Chakra altera sua capacidade de reação e responde com veemência, mas a principal e mais significativa mudança é interna, realçada pelo belo trabalho de Sarm Heng

Sem excessos imagéticos, o filme poderia se tornar algo muito mais bombástico caso Rathjen tivesse escolhido o caminho da radicalidade. O que vemos em tela é mais fruto da sugestão, da edição eficiente e de uma tensão latente entre todos os personagens naquele espaço exíguo conseguida pela direção, cujo material se eleva a partir do momento em que a história parte para uma espécie de navio negreiro. Sim, exatamente aqueles que transportavam escravos, aqui modernizados em escala de crueldade tão abominável quanto sempre foi.

Crítica da cobertura da 43ª Mostra de São Paulo

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