O neo-noir não-linear - e elementar - de Danny Boyle.
Em meados da década de 90, período em que o cinema britânico timidamente começava a se reerguer, Danny Boyle surgiu como um talento ao impor sua marca autoral no irônico Cova Rasa (Shallow Grave, 1994) e no sujo Trainspotting – Sem Limites (Trainspotting, 1996). Apesar da mediocridade de Por Uma Vida Menos Ordinária (A Life Less Ordinary, 1997) e A Praia (The Beach, 2000), o diretor voltaria a experimentar críticas positivas em Extermínio (28 Days Later..., 2002), provando neste filme com mortos vivos sua versatilidade. O problema é que a fase mais recente de Boyle comprova a falibilidade do estilo único do diretor nos diferentes temas que aborda: se em Quem Quer Ser Um Milionário? (Slumdog Millionaire, 2008) direção e montagem em ritmo frenético, embaladas por uma trilha sonora contagiante, conferem um tom destoante do ambiente de miséria (econômica e moral) retratado, em 127 Horas (127 Hours, 2010) esses mesmos aspectos tolhem o poder dramático da história de Aron Ralston.
Foi então que Boyle decidiu retomar um projeto antigo: Em Transe (Trance, 2013), filme em que Simon (James McAvoy), funcionário de uma casa de leilões, auxilia uma quadrilha no roubo de uma pintura milionária do estabelecimento onde trabalha. Durante o assalto, o leiloeiro sofre uma pancada na cabeça e adquire uma amnésia dissociativa circunstancial, sendo levado pelo líder da gangue, Franck (Vincent Cassel), ao consultório de Elizabeth (Rosario Dawson), uma hipnoterapeuta que os ajudará a encontrar o esconderijo da valiosa obra de arte, iniciando uma jornada que alternante entre realidade e sugestões hipnóticas.
Como se percebe, o material permite os excessos estilísticos que são peculiares a Boyle, que não faz por menos: desde a sequência inicial, uma avalanche de estímulos estéticos e sensoriais confere o dinamismo particular de seus filmes, divertindo o público que nota, por exemplo, a dupla referência que a batida de trance faz à trilha sonora de Trainspotting e ao título original do presente filme. Mas o cineasta se excede: no ato inicial, o personagem de McAvoy se dirige ao público indiscriminadamente. É informal, quase tão bacana quanto perceber o reposicionamento de uma câmera após ser atingida por uma xícara, mas também é frustrante perceber como nenhum desses truques é capaz de estabelecer diálogo com a narrativa. É, mais uma vez, a forma imposta por Danny Boyle sobreposta ao conteúdo. Mera perfumaria.
Por outro lado, há de se destacar a irregularidade do texto. Conveniências simplórias são inúmeras, como a ingenuidade de bandidos que se deixam hipnotizar ou de uma casa de leilão que desconhece o endividamento oriundo do vício em poker de um importante funcionário. A sugestão de um suspense psicológico elegante cede lugar a um narrativa não-linear cansativa, inflada de reviravoltas desinteressantes. Curiosamente, o excesso de plot-twists se torna uma complicação tamanha para Danny Boyle e ao criativo montador Jon Harris (Snatch - Porcos e Diamantes [Snatch, 2000]) que lhes resta abandonar o ritmo cool da trama e aplicar flashbacks à revelia, em seqüências longas, até descartáveis, a fim de traduzir o miolo truncado de um enredo que se revela, irônica e essencialmente, simples.
Curiosamente, quando Boyle investe na simplicidade e promove um desfecho fluido, tem êxito em tornar Em Transe inteligível e por acentuar as características positivas do longa-metragem, que, por sua forte carga psicológica, pela genuína ambiguidade de seu trio principal e pela femme fatale vivida por Rosario Dawson (que, em dado momento, aparece depilada em nu frontal!), em alguns momentos surge como um envolvente neo-noir – qualidade que torna ainda mais lamentável perceber que seu viés claramente comercial, destinado a apresentar um visual moderninho, uma penca de reviravoltas, um romance mal resolvido e um final surpreendente, impossibilitou o acréscimo de uma linha de diálogo minimamente intrigante ou reflexiva que fizesse emergir algum subtema (ética, hipnose, vida de crime de um gângster francês nas ruas de Londres) que vertesse a experiência em mais que um passatempo genérico que se esgota ao fim da sessão.
hahahahahahahahahaha
Eu tô sempre de óculos escuros, mas essa foto (que era a única que tinha em mãos quando entrei no CP) é muito blasé, não faz meu estilo. E a foto do perfil de editor é em baixa resolução, toda borrada; reparem minha cara toda marcada, acentuando minhas (habituais) olheiras. rs
Um dia eu ainda tiro uma foto decente e posto aqui.
Hummm...Pondo culpa na resolução, que baixaria em? 😏. Quanto a crítica, está boa, mas eu tinha esperanças por esse filme...
A feiura é inerente, mas é menor pessoalmente. 😏
Boa critica!
Visualmente o filme é muito legal, só a cena do [SPOILER(??)]Vincent Cassel com cabeça despedaçada ja vale o filme!!![SPOILER] mas o que tem de forcaçao de barra, Furo e incosistencias no roteiro nao tá no gibi!!!!
se por um lado conseguiu fazer um mix de elementos presentes em "memento" + "eternal sunshine of the spotless mind" + "inception" , por outro prejudicou o minimo de sanidade do roteiro. Tbm vou de 6/10
"strawberry!"😁