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Elysium

(Elysium, 2013)
6,4
Média
422 votos
?
Sua nota

Críticas

Cineplayers

As dicotomias histriônicas de Neil Blomkamp.

5,0

Longe está Elysium (idem, 2013) de alcançar o mesmo sucesso do filme anterior de Neil Blomkamp, Distrito 9 (District 9, 2009), embora tente de alguma forma seguir pelos mesmos caminhos de seu antecessor, a começar por esse estilo de ficção-científica enraizado em nosso presente. Tal qual Prometheus (idem, 2012), que também se vale dos princípios de alguma história da mitologia grega para nomear sua trama, e assim criar um significado mais virtuoso em volta dela, o filme de Blomkamp remete aos Campos Elísios, um paraíso perfeito para onde os mortos que tivessem sido bons em vida pudessem descansar em paz, enquanto os que tivessem feitos coisas ruins eram relegados ao Tártaro – em nossa cultura, comumente representados por Céu e Inferno. E é com base nessa separação entre bons e maus que o diretor faz sua intervenção e cria um drama futurista que visa, em suma, retratar as injustiças que acometem o mundo hoje.

A grande sacada de Distrito 9, que tenta ser repetida aqui, foi erguer toda uma nova realidade com base naquela que estamos acostumados agora, evitando assim que a trama se perdesse em explicações muito mirabolantes e atraísse o espectador, que podia reconhecer na tela conflitos inesperadamente atuais e assim se identificar com eles, mesmo se tratando de um filme futurista. Na trama de Elysium, porém, tudo é muito mais convencional e, infelizmente, superficial. O personagem principal, Max (Matt Damon), vive na Terra, um lugar agora arruinado e habitado apenas por pessoas miseráveis, enquanto os bem afortunados vivem no satélite Elysium, um lugar paradisíaco que tem como principal vantagem uma nova tecnologia capaz de curar qualquer doença em pouco tempo. Depois de sofrer um acidente grave na fábrica em que trabalha e descobrir só ter cinco dias de vida restantes, Max tenta burlar as leis de imigração para entrar em Elysium, com a ajuda de um hacker (vivido por Wagner Moura, em boa forma) especializado no processo. Para isso eles terão de enfrentar Delacourt (Jodie Foster), a durona secretária de defesa contra imigrantes ilegais, e Kruger (Sharlto Copley), o mercenário enviado para impedir Max. 

Max, depois de uma cirurgia, se transforma em uma espécie de humanóide, ou um híbrido de homem e máquina, o que decerto o ajudará em sua missão. E parar coroar a aventura, temos o interesse romântico do personagem, Frey (Alice Braga), que tem uma filha que está morrendo de câncer e que também precisa dos benefícios da tecnologia desenvolvida em Elysium – uma subtrama melodramática que destoa de toda a produção.

Embora seja uma história que passeia por diversos dos problemas sociais mais gritantes do mundo moderno, que vai desde o drama dos imigrantes ilegais, passando pelas condições deploráveis de moradia de grande parte da população pobre dos países desenvolvidos, a questão da precariedade da saúde pública para essas pessoas, até a relação entre homens e máquinas, entre a humanização e a tecnologia, Elysium não passa de um conceito didático desenvolvido por Blomkamp para expor a gritante diferença entre classes sociais. Algumas sacadas são muito boas, como a transformação de Los Angeles – hoje uma das cidades mais glamorosas do mundo – em uma favela gigante, e a escalação de um elenco composto em grande parte por atores naturais de países que sofrem com essas condições (os brasileiros Alice Braga e Wagner Moura, o mexicano Diego Luna, o sul-africano Sharlto Copley, etc.) e que, portanto, conhecem bem essa realidade. 

Mas não há uma discussão relevante em torno desses temas, e tudo se resume ao estereotipo do povo pobre como vítimas e os ricos como algozes frios e dominantes. É muito categórico, sobre a como os pobres são injustiçados por não terem o direito à Elysium, sendo eles os “bons”, enquanto os “maus” ricos têm tudo do bom e do melhor. Elysium e a Terra formam uma dicotomia pobre e óbvia que só se permite discutir, da forma mais histriônica, as diferenças sociais entre a elite e a plebe. Se a princípio o diretor tenta se aprofundar nesses temas, com o tempo acaba perdendo o fio da meada e se rende às infindáveis explosões e o corre-corre dos personagens (justiça seja feita, todas as cenas muito bem executadas e empolgantes). Tudo bem que nunca fez parte da intenção do diretor formar uma análise comedida e profunda dos problemas sociais do mundo moderno, mas a partir do momento em que estes temas são levantados, o que se esperava era pelo menos um ponto de vista (mesmo que pessimista, como é característico dele) sobre tudo isso. Ele se resignou diante da crítica que tinha em mãos e acabou amarelando justamente no mesmo ponto em que ousou inovar anteriormente com Distrito 9.

Elysium poderia render bem mais, pois é um material que tem a seu favor um argumento diferente, mesmo dentro da mesmice das ficções-científicas recentes (como Oblivion [idem, 2013]), mas patina o tempo todo em cima da indecisão do diretor em se firmar, seja em uma crítica ou retrato social moderno, seja em um filme de ação descompromissado. O tratamento superficial com o que foi submetido o coloca à sombra do frescor e pulsão de Distrito 9, e faz de Neil Blomkamp uma promessa ainda incerta para o futuro. Para o espectador, pode servir como diversão ocasional (e, de certa forma, em comparação com a concorrência, já é um grande ponto positivo), mesmo que esquecível, mas jamais se formará como uma pertinente retratação dos males sociais modernos, e se identificar com a história é uma possibilidade praticamente nula para quem quer que seja.

Comentários (27)

Jairo Simões | segunda-feira, 30 de Setembro de 2013 - 12:04

A crítica social é leve e concordo que se perde nos melodramas. Ainda tem os clichês que me incomodaram. Funciona como filme de ação para divertir.

Ícaro Santana | sexta-feira, 04 de Outubro de 2013 - 20:56

Que filme horrível! Me senti ofendido e \"torturado\" durante cada segundo após o primeiro ato. A nota do Heitor ainda está alta, e se o filme fosse preto e branco mereceria 0,5, pois o que há de melhor nele é o visual, que se perderia muito se fosse P&B

Renato Coelho | quarta-feira, 16 de Outubro de 2013 - 13:00

Matt Damon, eterno Bourne, ser protagonista desse filme é decadente, decepcionante. Ator acomodado com papéis antigos.... deveria se preocupar mais com o roteiro.

Ted Rafael Araujo Nogueira | quinta-feira, 27 de Fevereiro de 2014 - 01:09

Porra acho que sou um dos poucos que gostou mesmo do filme, mesmo enxergando e criticando os clichês e algumas superficialidades do roteiro. Tudo isso dentro de um maniqueísmo clássico bem e mal do mesmo. Mas encontrei ali excelentes analogias filosóficas e sociais, que o problema foi não explorá-las o suficiente. Direção excelente e 2 grandes atuações (Wagner e Sharlto). Ótimo ritmo. Boa pedida.

Para comentários rechaçatórios...
http://www.cineplayers.com/comentario/elysium/37538

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