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... E o Vento Levou

(Gone With the Wind, 1939)
8,3
Média
784 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Uma das maiores obras do cinema de todos os tempos, que continua emocionando a todos.

8,0

Um filme não se torna um dos mais assistidos de todos os tempos à toa. “...E o Vento Levou” é um épico maravilhoso e inesquecível, que faturou inúmeros prêmios importantíssimos ao longo da história: 10 Oscars, incluindo filme e diretor; está entre os 10 primeiros na lista dos 100 melhores filmes de todos os tempos da AFI; é o filme que mais faturou nas bilheterias de todos os tempos (segundo nossa matéria especial sobre bilheterias, com o discutível reajuste dos valores), entre outros números importantíssimos. Mas não são os prêmios que fizeram dele um grande filme. Eles foram apenas conseqüências de sua magnitude que reside até hoje nas telas.

Victor Fleming (de O Mágico de Oz, lançado também em 1939) acabou como o diretor da obra, mesmo tendo dirigido um pouco menos da metade de toda a filmagem. Isso porque o poderoso produtor David O. Selznick trocou nada mais nada menos três vezes de diretor, não creditando nenhum outro pelo trabalho. Seu poder na obra era tanto que até dirigir algumas seqüências ao longo da produção ele dirigiu. David foi muito feliz em sua visão da força da obra, que poderia render um bom fruto cinematográfico. Comprou então os direitos autorais para transformar o livro de Margaret Mitchell logo que sua distribuição ao mercado foi lançada pela colossal quantia de 50.000 dólares. Se o livro fosse um fracasso, seria bem provável que o filme fosse pelo mesmo caminho, afundando junto o produtor, os diretores, o elenco e os 15 roteiristas pelos quais a história passou em mãos.

História que narra a complicada vida de Scarlet O’Hara (vivida magistralmente por Vivien Leigh), seus amores e desilusões em um período que tem a Guerra Civil Americana como pano de fundo. Clark Gable é Rett Butler, um vivido aventureiro que passa pela vida de Scartlet, em uma relação de amor e ódio marcada por conflitos já clássicos e cenas inesquecíveis de amor. Este filme praticamente inventou as telenovelas, devido aos conflitos constantes de emoções manifestadas e o romance como tema – não necessariamente por uma outra pessoa, e sim por uma causa, lugar ou qualquer outra coisa que se refira sentimentalmente ao personagem. Por isso, não estranhe se, ao assistí-lo, você ficar com a sensação de “já vi isso tudo antes em algum lugar”.

Scarlet é uma personagem bastante complicada, uma vez que em plena época de protagonistas perfeitos, de ideais fortes e ordeiros, ela se apresenta egoísta e determinada a passar por cima de todos para conseguir defender sua terra que tanto ama – Tara. Isso pode soar feminista e irritante para alguns, mas na verdade é justamente aí que está o charme da personagem. Seu modo de lutar, sua força de vontade para trazer o bem aqueles que a rodeiam, sem nunca deixar de pensar na própria felicidade fazem de Scarlet uma personagem complexa e bastante profunda.

Inúmeras cenas marcam esta forte caracterização de Scarlet. Em certo momento, ela chega a matar para impedir que os ianques retirem o pouco que restou de sua casa após o término da guerra. O que não necessariamente corresponde ao final do filme, uma vez que ele procura explorar também as horríveis conseqüências do pós-guerra em cenas chocantes. Outra, por exemplo, pode ser facilmente identificada como quando Scarlet parte em busca do doutor em pleno campo de batalha, para que ele faça o parto em Melanie Wilkes (Olivia de Havilland). A câmera vai se afastando e subindo em um gigantesco traveling para mostrar a dimensão dos mortos e feridos naquela batalha – uma cena fantástica, por sinal, ao combinar perfeitamente o incrível número de figurantes com a avançada técnica de filmagem da época, que só foi possível por causa de um imenso guindaste.

As cenas de Butler funcionam quase que em sua totalidade em função de Scarlet, uma vez que ela está praticamente presente em todas as seqüências com o aventureiro. Em particular, a cena do primeiro beijo, enquanto ambos fogem da cidade incendiada, é uma das mais famosas da história. Scarlet está jogada nos braços de Butler, inteiramente vulnerável, enquanto este se aproveita da situação e beija nossa protagonista de força romântica e única, tudo fotografado em uma semi-silhueta de fundo rubro. Vemos esse amor entre os dois crescendo de forma quase que inaceitável por parte dos personagens, que aos poucos vão se rendendo e passando a se ajudar não só por uma questão de sobrevivência ao meio, e sim por amor.

Quando digo que a técnica de “...E o Vento Levou” é avançada para a época, não achem que eu estou exagerando. Para dizer a verdade, isto é até pouco perto de sua representação na história, uma vez que esse filme foi o primeiro a faturar o Oscar de melhor filme, feito originalmente a cores. Isso mesmo, aquela outra silhueta famosa, onde Scarlet declara seu amor à terra, foi originalmente filmada a cores e, acreditem ou não, em locação. Como Victor sempre mostrou competência ao trabalhar com cores, mesmo elas sendo uma novidade no modo de fazer cinema (vide novamente Mágico de Oz, que tinha uma complexa composição de cores em seus quadros), ele insistiu e gravou várias vezes a cena em locação, não se rendendo ao luxo e a facilidade de ir para um estúdio filmar esta seqüência para alcançar a beleza desejada.

Se pararmos para analisar, este também é um dos grandes trunfos de “...E o Vento Levou”, saber utilizar as locações de maneira verossímil e satisfatória, sem perder a magia e o encanto da obra. Só que para algumas seqüências mais complicadas não houve jeito: a solução foi mesmo filmar tudo em estúdio. A cena em que Scarlet foge com Butler e Melanie na carroça, por exemplo, além de muito bem escrita (“[...] não perca o cavalo, já deu muito trabalho roubar esse”), foi simplesmente uma das mais fantásticas já filmadas em Hollywood. Vários estúdios inteiros tiveram de ser entregues às chamas para que tudo ficasse real e assustador. O sucesso na execução foi tanto que alguns vizinhos da MGM chegaram a chamar os bombeiros achando que o estúdio estava em chamas realmente. Mas na verdade, nada mais do que os antigos cenários de King Kong (1933) estavam sendo queimados e quase duas horas de incêndio filmados para um maior realismo chegar às telas.

Para entender um pouco a grandiosidade de “...E o Vento Levou” basta pensarmos que, de mais de 28 horas de cenas filmadas, apenas 4 foram utilizadas no produto final. Horas e mais horas foram gastas na edição, sem ao menos David ter consultado algum de seus diretores para nenhum dos cortes. Uma produção imensa que custou aos cofres da MGM cinco milhões de dólares, quantia irrisória se pensarmos nos valores atuais de produções, ainda mais se pensarmos nos lucros que o filme deu e continua dando ao estúdio.

Vivien Leigh foi uma felizarda. Convenhamos, entrar em uma produção desse tamanho, com as filmagens já iniciadas e ser a escolhida dentre mais de mil atrizes cotadas para o papel não é apenas talento, é sorte também. Bette Davis (do ótimo A Malvada) foi uma das que recusaram o papel de Scarlet, para sorte de Vivien. Ela balanceou perfeitamente a ingenuidade que Scarlet deveria ter no início do filme e protagonizou uma bela mudança de comportamento da personagem devido ao rumo que as coisas tomaram na história e conforme suas necessidades foram se apresentando. Já Clark Gable parece não ter tido muito trabalho para interpretar Butler, uma vez que ele é o tipo de personagem galanteador canastrão que estava acostumado a encarnar. Não que fosse uma tarefa fácil interpretar Butler, mas Clark já sabia a medida certa de romantismo e esperteza que deveria conceder ao seu personagem para que ele nunca atraísse a antipatia do público com o desenrolar da história, mesmo com as sacadas que ele fazia com Scarlet. Butler sempre se mostrou louco por Scarlet, essa é a verdade.

Mas claro, há problemas em meio a isso tudo. Acontece tanta coisa na história, mas tanta coisa, que o filme fica cansativo de se acompanhar nas primeiras vezes em que é assistido. Com o DVD é perfeitamente possível assistir “...E o Vento Levou” em várias seções sem que ele perca seu clima ou charme, mas ver tudo direto é uma missão complicada e que exige disposição. Como estamos nos referindo também a uma época pré Cidadão Kane, onde muito da linguagem cinematográfica ainda não estava desenvolvida, é fácil também achar algumas partes primitivas e extremamente ultrapassadas. Mas pelo fato de ter sido feito antes da obra-prima de Orson Welles e mesmo assim apresentar algumas tomadas ótimas, “...E o Vento Levou” consegue seus méritos em vários momentos. Duvido que alguém esqueça sua canção tema, por exemplo. Muitas pessoas, inclusive, reconhecem-na mesmo sem nunca ter assistido ao filme.

Lançado em uma época complicada da história, ...E o Vento Levou construiu uma história tão interessante quanto a que é contada no filme. Se vocês acharam emocionante Halle Berry ter recebido seu Oscar aos prantos, o que dizer de Hattie McDaniel, que não pôde receber sua estatueta de coadjuvante simplesmente por ser negra? Sua produção é de uma grandeza igualada por poucos com o passar do tempo. Seus 10 Oscar (um honorário e outro técnico, por isso talvez alguns o considerem vencedor de apenas oito estatuetas) representam um pouco da imortalidade da obra. Para todos os cinéfilos de plantão, uma obra obrigatória em nossa lista de filmes assistidos. Gostando ou não do resultado final, é certo de que assistir “...E o Vento Levou” será uma experiência única para toda a vida.

Comentários (4)

Jackie | domingo, 21 de Novembro de 2021 - 09:44

Obra-prima e dá oito?
E o filme é racista e piegas ao extremo. Não devemos passar pano, na época já havia debates e protestos contra esse tipo de coisa.

Jonas BSJ | domingo, 21 de Novembro de 2021 - 13:23

Descansa, militante. Essa tua trolagem aqui no site já tá ficando patética, tá implorando por atenção, coitado...

Jackie | domingo, 21 de Novembro de 2021 - 14:11

@Jonas Bittencourt. Ser autêntico e ter opinião própria é ser Troll?.
Eu, ao contrário da maioria daqui não tenho vergonha de dizer que não gosto de algo. Só porque é um "clássico" ou outro motivo elitista.

Cidadão Kane e esse filme são dois grandes chutes no saco. Que somos obrigados a aguentar calados e aclamar igual aos pobres camponeses de "O rei está nu".

Jonas BSJ | domingo, 21 de Novembro de 2021 - 21:58

Legal fera, SUA OPINIÃO... Se vc tem algo à dizer, diga de forma articulada e respeitosa, se vc realmente é um cinéfilo e está interessado em um debate frutífero, mas seu tom desnecessariamente jocoso e infantil apenas demonstra que você está procurando por atenção através do ataque à obras aclamadas.

Jackie | segunda-feira, 22 de Novembro de 2021 - 05:27

JONAS BITTENCOURT. Só aqui no Brasil que essa novela continua sendo elogiada. É só ver que essa novela de protagonista insuportável tinha 8,5/10 no IMDB e caiu para 8,1/10.
Porque?, Porque as pessoas perceberam que essa desculpa de que "é anacronismo" não cola. Já na época haviam curtas-metragens e filmes anti-racistas e já haviam críticas ao filme.

Além disso, o filme não é uma obra-prima. É uma novela das seis bem conduzida ("farsa novelesca" como disse um dos usuários). Mais brega que os filmes dos anos 80.

Jonas BSJ | terça-feira, 23 de Novembro de 2021 - 16:47

Usa IMDB como parâmetro pra qualquer coisa=Militantes políticos disfarçados de cinéfilos q não se preparam antes de se meterem a criticar um filme clássico cheio de nuances e características próprias de sua época,características essas que a luz de sensibilidades modernas podem ser problemáticas,oq não justifica usá-las para diminuir o filme em si,''mensagens retrógradas'' ou coisa do tipo,embora não devam ser imunes de justas críticas,não anulam a obra numa perspectiva técnica/estrutura narrativa,etc.Fanatismo ideológico e falsa empatia é só oq vejo na grande maioria das pessoas q querem ''cancelar'' esses filmes clássicos.Podem fazer malabarismo argumentavio q for pra justificar o mimimi militante e anacronismo histórico de vcs,q só querem sinalizar virtude por auto-validação,num pagamento de pedágio pra suas claque radicais.Podem ''esculhambar'' a vontade,o filme continua existindo e sendo visto e apreciado por quem realmente gosta de cinema.

Qate | quarta-feira, 29 de Junho de 2022 - 19:45

Quem é esse Jackie que perde tanto tempo escrevendo textos gigantes que só ele mesmo deve ler kkkkk, coitado. GET A LIFE LOL!!!!!! Antes dele, tinha um outro ignorante (se não for o próprio fracassado com conta fake) que perdeu um tempo gigantesco com textos, acho que ficou com vergonha e apagou os comentários risíveis. Quem diabos vai ler comentários pobres que demoram mais que o filme em si kkk, pena define.

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