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Críticas

Cineplayers

Um budddy movie apocalíptico.

7,0

Seth Rogen, em parceria com Evan Goldberg (roteirista de filmes como Superbad – É Hoje [Superbad!, 2006] e Segurando as Pontas [Pineapple Express, 2008]), aposta no inusitado É o Fim um revisionismo de uma geração de comediantes que fez sucesso levando o besteirol escatológico ao terreno do filme moralizante; aqui todos os atores interpretam versões ficcionais de si mesmos, sendo questionados por seus projetos fracassados, vivenciando o lado inconveniente da fama e tendo que conviver lado a lado com egos gigantescos. Com o adendo, é claro, de que o mundo está acabando, as pessoas estão sendo arrebatadas para o céu ou sendo condenadas ao fogo eterno e de uma festa dionísiaca restam apenas seis atores confinados na casa de James Franco, que tentam entender a situação e sobreviver.

Parodiando os filmes de confinamento, a estrutura logo faz questão de trazer os relacionamentos aparentes abaixo; do mau-caratismo camuflado de um gentil Jonah Hill até o elemento de perigo que um teimoso e rebelde Danny McBride traz para o grupo, desequilibrando uma harmonia já frágil. Como nos melhores filmes que envolviam zumbis, fortalezas misteriosas, catástrofes ou ameaças naturais ou não, o maior perigo para o ser humano é ele próprio, tanto que apesar dos demônios gerados por computação gráfica, os personagens já se encontram em problemas desde anteriormente, sem muitos suprimentos ou contato com o mundo externo.

Como acontece nos filmes dirigidos por Gregg Mottola, Judd Apatow e David Gordon Green, entre outros menos conhecidos, a resistência e subsequente redenção de seus personagens frente a um mundo opressivo – o fim da adolescência ou a vida adulta, violentos traficantes de drogas ou, nesse caso, o apocalipse – reside na aceitação e compreensão dos erros e falhas de caráter, na conquista de alguma maturidade (mas não muita) e no resgate e reconstrução de elos de amizade que são fragilizados pelo drama apresentado.

Filão conhecido por “buddy movie”, é a inspiração de toda essa particular geração cômica contemporânea que vai desde O Gordo e O Magro, passando pelos maconheiros Cheech e Chong e as duplas policiais de Nick Nolte e Eddie Murphy e Mel Gibson e Danny Glover e desembocando no esculacho pós-irmãos Farrely e John Landis, a tônica desses filmes reside no sem-número de referências culturais, na atenção às piadas envolvendo bizarrices, nojeiras, sexo e violência e na caracterização grosseira seus protagonistas como “perdedores”, desocupados que se recusam a andar em uma linha normal no que tange à costumes, estética e relacionamentos: a sinceridade doída provocada pelas situações desses filmes são sempre detonadores dramáticos para que a moral da história, sua pathos, venha à tona. O companheirismo, a amizade, o sacrifício, o compartilhamento de experiências e a fidelidade são os essenciais para protagonistas virtualmente desinteressados em tudo que foge o seu universo e seus amigos.

Esta geração que nasceu nos anos oitenta e agora atinge a maturidade são tão slackers como seus predecessores da década de noventa; a alienação de seus protagonistas, o seu largo conhecimento de cultura popular em detrimento da erudita e sua tendência à introversão, ao isolamento, somado a um medo galopante de se arriscar ou se comprometer, os leva numa jornada heroica onde o único heroísmo importante para seus personagens é ficar em bons termos com seus camaradas, mais tolerantes do que quando começaram, mas não menos padecendo da idiotia que os alienou.

Idiotia que, podendo parecer pejorativa para muitos em a recusa à maturidade tradicional, é sempre recompensada quando a maldição de ser desajustado torna-se privilégio de não pertencer, como uma forma de resistir contra o comum e o medíocre. É o Fim, em sua mistura de vida real com ficção absurda, mostra o quanto aqueles filmes e personagens são autobiográficos e como as situações, tão repetidas, já tornarem-se naturais e criaram uma certa aura de culto, uma atmosfera característica que, ainda que atraia muitas vezes olhares detratores, desgostosos da imaturidade dos filmes e de seus personagens, se sustentam de forma tão duradoura que seus atores não precisam nem mais de nome para seus personagens – já os assumiram e fizeram de seu estilo de comédia uma profissão de fé no escracho. Idiotas? Pois sim, e com orgulho.

Comentários (11)

Renato Coelho | segunda-feira, 28 de Outubro de 2013 - 13:00

Como é sofrível esse filme....nota 4

Vinícius Aranha | segunda-feira, 28 de Outubro de 2013 - 17:13

Mas, Bruno, o (b)romance, ou melhor, sentimento, é justamente o mais importante no clã Apatow, não o escracho.
Mas This is the End é meio zuado mesmo, lá pela metade se perde bastante nas apelações. Vale só pela proposta e pelas sacadas.

Patrick Corrêa | terça-feira, 29 de Outubro de 2013 - 23:12

Bom texto pra um filme que não é nenhum primor de comédia (pelo menos, para o meu tipo de humor), mas reserva seus momentos divertidos.

Elton Ferreira | quinta-feira, 31 de Outubro de 2013 - 13:14

Eu gostei do filme. Não é nada fantástico de bom, mas achei que seria bem mais zoado. Me surpreendeu de certa forma, então darei nota 7. Acho que vale à pena ver pra passar o tempo pelo menos.

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