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Críticas

Cineplayers

Falácias da vida numa mesa de bar.

5,0

Fernando (Bruno Mazzeo), Honório (Marcos Palmeira) e Fonsinho (Emilio Orciollo Netto) estão constantemente juntos fazendo um Happy Hour no Bar Harmonia, sempre servidos por um garçom comparado fisicamente ao músico Seu Jorge; este vivido pelo próprio. Lá eles falam de tudo, sobretudo de mulheres, suas experiências e fracassos, compartilhando aventuras sexuais na noite carioca e buscando um sentido nessas relações. Essas conversas de clima descontraído são regadas a álcool e palavrões, viabilizando as personalidades do trio ciente do texto, numa intimidade que consegue, graças ao bom roteiro, empatia com o público - mas não de modo geral.  Tem força para alcançar seu alvo, sendo cômico e deliberadamente infame em suas reflexões tendenciosas e comuns, direcionando a um finalmente previsível e surpreendentemente significativo.

Descarado como esperado, E aí... Comeu? (idem, 2012), baseado em peça de Marcelo Rubens Paiva – há pouco o escritor já teve uma obra adaptada para o cinema, o interessante Malu de Bicicleta (idem, 2009) –, é um estupor dos comportamentos masculinos, com suas neuroses narradas à risca por um trio ferido pela vida igual a qualquer um que não se encontra suficientemente contente em suas atuais situações. Aí reside a empatia necessária que só poderia funcionar com caras entregues a esse universo com naturalidade e projeção pessoal. Mazzeo, por exemplo, contou que se identificava com a situação de Fernando. Milhões de outros diriam o mesmo. Emilio Orciollo Netto é quem fica com o papel mais vazio da trama, ao mesmo tempo que é o mais farto em relação a mulheres. Já Marcos Palmeira com seu Honório é o mais fértil personagem. Pai de família, convive com a dúvida quanto as saídas noturnas de sua esposa Leila (Dira Paes).

Partindo da ótica dos experimentos amorosos por parte de um trio que vive amarguras com ternura justamente como defesa para esconder suas vulnerabilidades, o filme dirigido por Felipe Joffily, de Muita Calma Nessa Hora (idem, 2010), entrega-se ao escracho, o que sugere divisão de opiniões e de público. A presença de Mazzeo colabora para a divulgação da comédia, uma vez que ele já é figura carimbada do humor nacional, embora tenha se ligado a uma das produções mais estúpidas do nosso cinema recente, a bobédia Cilada.com (idem, 2011). Unido a ele, Marcos Palmeira e Orciollo Netto, nomes famosos da teledramaturgia, adéquam-se aos papéis com vivacidade e carga dramática necessária, experiência de anos que colaboram para o desenvolvimento do tema e dos personagens.

Felipe Joffily não tem lá muita experiência por trás das câmeras, não se atreve a transformar o filme em um autêntico filme, soando mais como uma esquete demasiada prolongada mesclando boas e péssimas piadas. Ao menos acerta na espontaneidade por parte de seus atores e não economiza nos takes longos, trabalhando bem a mise-en-scène, proporcionando liberdade para o elenco. Uma cena envolvendo Honório e Leila quase em seu ato final se destaca entre as outras. A mesa de bar como cerne de distintas tramas abriga relatos questionando a mulher de maneira popularmente machista. Aí entram as reproduções humanas daquelas conversas: Vitória (Tainá Müller), que repentinamente terminou o namoro com Fernando; Gabi (Laura Neiva, a garota descoberta na internet para protagonizar o ótimo À Deriva [idem, 2009]), encarnando uma adolescente pulsante; e Alana (Juliana Schalch, de Os 3 [idem, 2011]) como uma prostituta das ruas e da internet responsável por acalentar os hormônios de Fonsinho. Além delas, está a já citada Leila.

Após tantas intrigas e insatisfações em cena com condições dos homens em terno sofrimento e solidão – soma-se lições vagas de importâncias do convívio a dois –, o cineasta põe em relevo questões imutáveis e tradicionais envolvendo o masculino e o feminino, com o papel moderno do dito sexo frágil gozando de independência. Os homens já não são os mesmos. Há muito por trás desses diálogos de bar, um solo não explorado pelo realizador, temendo talvez o afastamento de um público arredio a questões mais amplas. Por abrir mão disso e se ater a piadas com quase tudo, E aí... Comeu? não faz melhor que tantos outros filmes que saem aos montes anualmente, no entanto, abre caminhos.

Comentários (18)

Lucas Ribeiro | terça-feira, 24 de Julho de 2012 - 00:11

Suuper concordo com o Luan... Keep Calm and Stop the mimimi.
Assisti e sinto que valeu a pena, NÃO é o tipo de filme que você sai com a sensação "acho que já vi isso" como outros Globo Filmes... Uma comédia que pouco se preocupa com o politicamente correto (que já saiu de moda há tempos) e tem um final sem moralismo dominical de novela das 8.
Podia ter ousado mais tecnicamente, temos "cacife intelectual" para isso.

E sério, Walter... porcaria de "reunião de amigos homens"... WTF, hein velho? Não viu o trailer, né colega? Tava na cara que o assunto do filme era esse... E se o tema já não te agrada, bem podia ter ficado em casa curtindo um Morangos Silvestres... 😉

Raphael da Silveira Leite Miguel | domingo, 25 de Novembro de 2012 - 18:12

Me surpreendi com esse filme, ainda mais depois de ver aquele desastre do Cilada.com. Esse é beeeem diferente, totalmente machista mas que funciona, não sei se é por eu ser homem, mas creio que seja pela sinceridade e não ser politicamente correto, pois é mais ou menos isso que a maioria dos brasileiros faz numa mesa de boteco.

Essa identidade com o povo brasileiro, mais especificamente o masculino, foi uma das melhores idéias para esse filme, praticamente todas as piadas ficaram muito bem feitas. O trio de protagonistas parece realmente serem amigos que se encontram quase sempre pra jogar aquela conversa fora.

Um filme descompromissado, porém competente e ousado, e que não caí em clichês em quase momento algum, fato foi o que aconteceu com o personagem do Mazzeo que teve uma reviravolta inimaginável no final e que é realmente politicamente incorreto, essa foi a grande graça do filme, a imprevisibilidade.

Adriano Augusto dos Santos | terça-feira, 09 de Abril de 2013 - 10:04

Seu Jorge é um presente aqui,suas tiradas são o máximo !

E Juliana S. confirma minha previsão.Que menina ótima !

Matheus Veiga | segunda-feira, 02 de Setembro de 2013 - 21:17

O filme tem seus bons momentos comicamente falando, mas quando tenta ser dramático vira uma bela porcaria.

Ps.: Como eu faço pra curtir o comentário do Lucas Ribeiro? lol 😁

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