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Críticas

Cineplayers

O cinema de ação moderno teve como uma de suas primeiras crias esse filme barulhento e explosivo estrelado por Bruce Willis.

8,0

Na década de 1940, com o surgimento do cinema noir, o mundo do cinema apresentava alguns de seus primeiros anti-heróis: pessoas pelas quais o espectador acabava torcendo mas que possuíam problemas morais repreensíveis. A história do cinema avançou e, nas décadas seguintes, o conceito continuou a existir, não mais em bares esfumaçados pelos cigarros, e sim nas delegacias de polícia, com detetives e policiais nem sempre tão honestos e idealistas. Ainda assim, o público continuava torcendo por eles. A década de 1980 surgiu, e os personagens antes tão complexos deram lugar a personalidades mais banais, mas ainda assim em sua essência eram os mesmos anti-heróis egocêntricos e arrogantes, cuja maior preocupação não era a de ajudar as criancinhas ou algo que o valesse, e sim a si mesmos.

Apresentado ao mundo em 1981, Indiana Jones foi um desses anti-heróis. Anos mais tarde, em 1988, o mundo conheceria John McClane em um filme que fez Bruce Willis ganhar fama definitiva. Duro de Matar marcaria, de certa forma, o início (ou a continuação de forma mais explícita) de uma fase de emburrecimento dos filmes de ação em Hollywood. Não há em seu personagem os conflitos morais do policial Popeye de Operação França, e muito menos a dualidade dos personagens de Humphrey Bogart, que marcou o cinema noir a partir da década de 1940. Mas há em McClane um pouco dos xerifes dos faroestes – algo que é sabiamente lembrado pelo próprio vilão do filme, vivido por Alan Rickman.

Não, o objetivo de McClane não é tão nobre. Ele quer apenas passar o Natal em paz com sua esposa, quando se vê no meio de uma ação terrorista e deve, com os poucos recursos que possui, dar cabo dos inimigos, porque nem a polícia local e nem mesmo o FBI aparentam que vão conseguir fazer isso. Nesse sentido, Duro de Matar é sim um filme burro, e limitadíssimo. Uma análise óbvia seria criticar o filme pelo mal que fez ao cinema (não é o único culpado, mas é um candidato forte a ser apontado como tal). Ele vulgarizou, mais do que nunca, os filmes de ação e abriu um precedente para o gênero se transformar no que vemos hoje: um amontoado de filmes vazios e redundantes, uma ode à potência norte-americana de fazer cinema ao explodir coisas (digitais ou reais) e a mostrar sua arrogância perante os pobres do Terceiro Mundo, que quase sempre aparecem nesses filmes como os vilões.

Sim, a análise acima seria óbvia, mas também deveras arrogante. É inegável que, inversamente proporcional à seu vazio, temos a excitação das explosões, dos momentos que somente um anti-herói como McClane poderia nos proporcionar. Ao lado de sua estrutura previsível e de inúmeros clichês (mesmo para a época, e sobretudo se visto nos dias atuais) há a ótima execução das cenas de ação, sempre apresentando-nos uma surpresa em suas mangas. E isso, ao lado do carisma de Bruce Willis (já disse algumas vezes que é meu ator de ação favorito em todos os tempos, pois cresci vendo seus filmes e não consegui largar mais), é suficiente para fazer deste primeiro exemplar de Duro de Matar um dos grandes filmes de seu gênero dessa “nova fase” do cinema de anti-heróis.

A estética do filme é bruta, assim como a edução de McClane. Passado quase que totalmente sob cenas noturnas, o filme é um amontoado de concreto e paredes baleadas. Provavelmente aí está seu charme – essa estética combina muito bem com a qualidade de seus personagens maus (os vilões): Alan Rickman e sua trupe de maldosos são estereótipos ambulantes, caricatos ao extremo, o tipo de personagem que hoje em dia é desprezado pelos críticos – e mesmo o público já não gosta mais de personagens tão unidimensionais assim. Há 20 anos, na década que muitos consideram a pior que o mundo do cinema já presenciou, esse tipo de material era quase uma regra, e é no mínimo interessante revisitá-lo agora, com a mente ciente de suas limitações.

Duro de Matar (especificamente este primeiro exemplar da série) é um filme de ação muito competente. Para cada buraco de qualidade, há uma cena divertida que faz compensar. O diretor McTiernan viria a fazer muitos filmes de ação depois, porém não voltaria jamais a repetir o sucesso deste aqui. De certa forma o mesmo vale para Bruce Willis: sendo um dos primeiros trabalhos seus para o cinema, esse foi o ponto alto de sua carreira (que inegavelmente é baseada nesse gênero, e não há porque ter vergonha disso), e as dezenas de filmes de ação que viria a fazer depois não se igualariam a sua primeira performance como John McClane. No final das contas, é apenas um filme de ação muito, muito bom, lotado de explosões e tiroteios interessantes, com um mocinho e bandidos caricatos ao extremo e um clímax cuidadosamente montado para extasiar o público. Livre de análises artísticas e históricas, fica muito perto da perfeição.

Comentários (1)

Cristian Oliveira Bruno | segunda-feira, 25 de Novembro de 2013 - 17:24

O símbolo máximo dos filmes de macho e de excército de um homem só!! Clássico!!!!!

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