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Críticas

Cineplayers

Apesar da previsibilidade, o filme convence pelas boas atuações e pelo retrato fiel do mundo da moda.

8,0

Em certo ponto de “O Diabo Veste Prada” a personagem de Meryl Streep pergunta, ou melhor, pergunta não – afirma – à mocinha do filme com toda certeza, arrogância, luxúria e calma do mundo: “Essa é a vida que todos querem”. A partir dessa frase e reconhecendo o semblante, perfil e personagens que a devida mocinha em questão, Anne Hathaway, costuma fazer em seus papéis, não fica difícil imaginar por quais caminhos o filme seguirá e a qual final chegaremos. Não sejamos tão pessimistas assim, afinal, não estamos tratando aqui de um filme qualquer, mas sim de um filme interessantíssimo que conta com uma inspirada atuação da deusa Meryl Streep em uma produção que agrada desde o ignorante fashion até os exigentes jornalistas de moda.

Uma das primeiras questões que o filme aborda é justamente o que atrai tanta gente a esse mundo? Seria o glamour? Fama, sucesso, altos salários, sonhos, possibilidade de se trabalhar com seus ídolos? Qualquer que seja sua ambição, David Frankel procura tentar lhe dizer através de sua obra que o caminho no ninho de cobras, interesses e coisas do tipo não será nada fácil. Seus preconceitos de hoje poderão se tornar a sua imagem de amanhã. E uma das coisas mais bacanas no filme é justamente acompanhar essa mutação pela qual a personagem principal passa do momento em que ela pisa em seu local de trabalho pela primeira vez até o final do filme. Uma mudança nada sutil. E ainda que ela tente re-assimilar sua antiga personalidade, Hathaway passa por tantas transformações que nem mesmo na cena final conseguimos lembrar daquela apagada atriz do início.

O filme conta a história Andy Schs (Anne Hathaway), uma jovem menina interiorana que vai para New York atrás de um emprego na sua área, editorial de revistas de esporte, mas acaba mesmo começando a trabalhar como segunda assistente que, ninguém mais, ninguém menos, Miranda Priestly (Meryl Streep), editora principal da revista de moda Runway, uma das mais respeitadas no mundo. Como podemos adivinhar, o perfil de Miranda não é nada convencional, ou talvez até seja, para aqueles que não estão acostumados com os inflamados egos da moda.

Pessoalmente falando, foi difícil assistir ao filme, olhar para Hathaway e não lembrar de Audrey Hepburn. De certa forma acho que até seja intenção do filme em traçar esse paralelo. Ao mesmo tempo que a semelhança aparentemente física seja bastante forte, o mesmo ainda não podemos dizer quanto a qualidade cinematográfica. Audrey é outro patamar. Mas de qualquer forma, um ótimo começo para Hathaway que significativamente surpreende ao afastar-se de atuações apagadas em filmes adolescentes como “O Diário da Princesa”. Anne está sempre bem em cena, despojada ou muito bem vestida, sempre meiga e “alegre mesmo quando triste”, o que faz com que o público identifique-se com a personagem com leve facilidade. Não seria de espantar se no próximo ano “Anne” receber algum prêmio do nível MTV Awards por breakthrough performance.

Não me levem a mal, não quis desdenhar Anne ao elegê-la a um MTV Movie Award, mas... No filme Anne está para MTV assim como Maryl Streep está para Oscar. Não há duvidas de que ela é a verdadeira estrela do filme. Meryl rouba absolutamente todas as cenas em que aparece. Um personagem forte que representa suas vontades através de gestos extremamente meticulosos e cuidadosos que revelam suas quase que corriqueiras opiniões frias e ditas sem pingo algum de simplicidade. Miranda Priestly é uma pedra que vai ficando “humanizada” a partir do momento em que Andy vai entrando em sua vida. Mas Meryl está tão excepcional em cena que mesmo nas seqüências mais sentimentalóides – como a em que Andy descobre sobre o divórcio de Miranda na suíte do Hotel – a personagem de Streep está sempre íntegra e forte. Muito forte. Mesmo com o choque de vê-la pela primeira vez sem sua “casca”, sem maquiagem, sem absolutamente nada. O filme é todo de Meryl Streep.

Como não poderia deixar de ser, apesar do ponto alto do filme ser Meryl Streep, O Diabo Veste Prada ainda conta com alguns outros aspectos positivos que fazem por merecer serem citados. O primeiro deles é a excelente gama de atores coadjuvantes que trabalham na produção. Emily Blunt (Emily) – a primeira assistente e Stanley Tucci (Nigel) – produtor da revista, são os que chamam mais atenção pelo trabalho em cena. Sempre divertidos e interessantes só vêm a acrescentar ao filme, Emily com seu jeito certinho de atender Miranda e de psicótico de levar sua vida profissional, Nigel por seus comentários sarcásticos e irônicos quase sempre certeiros.

Sei que é até redundante dizer isso, mas a produção é realmente ótima para quem se interessa por moda em geral (não estou me referindo apenas ao ato de comprar roupas). Figurino excepcional, em certas tomadas do filme temos seqüências de Hathaway desfilando com vários modelos de roupas, as comparações com Hepburn em especial nessas passagens ficam mais claras. A fotografia do filme não chega a ser exemplar, mas agrada. New York linda como de costume. A produção ainda conta com uma trilha sonora que cai como uma luva para esse tipo de filme.

No alto de seus 109 minutos de duração, “O Diabo Veste Prada” não deixa de ser um filme pra lá de previsível. Francamente falando não que isso seja o defeito mais cruel do filme, mas aqui é verdadeiramente deixado de lado. Abordando desde esferas comportamentais de profissionais do mundo da moda até as grandes festas de lançamento de coleções e a orientação para o trabalho que grande parte das grandes corporações norte-americanas possuem e buscam em seus CEOs (orientação essa refletida na imagem mãe-trabalho de Miranda Priestly), o filme agrada por seu humor digno e cheio de referências ao mundo da moda. Fãs de seriados como “Project Runway” (exibido no Brasil pelo canal pago People+Arts) vão com certeza adorar o filme. Mas não se deixe enganar, como havia dito, o filme agrada tanto ao casual ignorante fashion quanto o sádico jornalista de moda.

Comentários (1)

Fernanda Pertile | quinta-feira, 15 de Dezembro de 2011 - 14:41

O diabo veste prada está entre os melhores filmes que eu já vi, eu adorei assistí-lo.

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