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Críticas

Cineplayers

Tony Scott segura seu ímpeto de ser um diretor exibido para se ater à boa história. O resultado é um belo filme.

7,5

Desde que dirigiu Inimigo do Estado, em 1998, o diretor Tony Scott adquiriu um vício que estava se tornando cada vez mais insuportável. A cada novo trabalho, o cineasta usava e abusava de excessos estilísticos, utilizando tudo o que é truque de câmera para mostrar seu “talento”. Foi assim que Scott prejudicou histórias interessantes, como em Jogo de Espiões, Chamas da Vingança e no simplesmente intragável Domino – A Caçadora de Recompensas.

E isto é uma pena, pois, quando contido e com um bom material em mãos, Scott é um diretor eficiente, capaz de estabelecer uma narrativa adequada e criar momentos de tensão, como fez em Amor à Queima-Roupa e Maré Vermelha, por exemplo. Felizmente, Déjà Vu é uma amostra do “bom” Scott, dirigindo em função da surpreendente história, e não utilizando-a como desculpa para exibir seu desnecessário virtuosismo.

Na trama, Denzel Washington interpreta o agente Doug Carlin, chamado para descobrir o responsável por um atentado a uma balsa que tirou a vida de mais de 500 pessoas. Inteligente, Carlin acaba impressionando seus colegas do FBI, que o convocam para fazer parte de um novo processo de investigação criado por acidente: através de aparelhos de última tecnologia, é possível acompanhar com detalhes o que aconteceu quatro dias antes. Mas, para Carlin, assistir a tudo não é o bastante.

Quanto menos se souber sobre o desenrolar da história de Déjà Vu, melhor. Na realidade, eu não sabia quase nada sobre a trama assim que entrei no cinema, uma vez que o trailer da obra foi um dos mais vagos dos últimos anos (e, diga-se de passagem, isso é um alívio, especialmente quando se analisa a quantidade de detalhes importantes entregues nas prévias). Déjà Vu começa de maneira bastante comum, com um primeiro ato nada diferente de centenas de filmes policiais que Hollywood produz todos os anos.

No entanto, assim que entra em cena a nova ferramenta de investigação proposta pelos roteiristas, a obra ganha em tensão e qualidade. Muito bem aproveitada pelos escritores Bill Marsili e Terry Rossio, a idéia joga Déjà Vu em um outro nível, tratando de questões maiores e brincando com a sempre interessante linha do tempo. Ainda que optem por colocar uma breve – e talvez desnecessária – explicação sobre como aquilo é possível, Marsili, Rossio e Scott são hábeis ao construir e explorar as situações proporcionadas pelo “equipamento”.

É assim, por exemplo, que Déjà Vu constrói uma das mais interessantes seqüências de perseguição dos últimos tempos, quando o personagem de Washington sai atrás de um personagem quatro dias depois das ações deste (pode parecer complicado, mas é fascinante acompanhar). Da mesma forma, Scott e os roteiristas superam o problema de grande parte da narrativa se passar com os personagens sentados diante de uma tela. A inteligência dos envolvidos na busca, a velocidade dos diálogos e a montagem eficaz garantem a atenção do espectador, construindo a base para a ação do terceiro ato.

Esta surpreendente inteligência do roteiro ainda ganha maior dimensão ao colocar questões sobre o destino: será que, se houvesse a possibilidade de modificar algum evento do passado, teríamos direito a isso? Neste sentido, Déjà Vu encontra semelhanças com o ótimo Minority Report, embora o filme de Spielberg seja sobre buscar algo no futuro, ao invés do passado.

Após alguns anos, Scott volta a deixar o espectador prestar atenção na história. Mais contido, sem interferências desnecessárias de estilo apenas para alimentar seu ego, o cineasta comanda Déjà Vu com segurança, aumentando e diminuindo o ritmo nos momentos certos. Além disso, Scott se sai bem em seqüências pontuais, como as cenas de ação (a já citada cena de perseguição) e as que se passam dentro da sala do equipamento.

Mas Déjà Vu não é só flores. Ainda que sempre dê ensejo para histórias e conceitos interessantes, a manipulação da linha do tempo acaba encontrando, inevitavelmente, problemas de lógica. Por exemplo: se Carlin já havia estado no apartamento de Claire, a explosão não teria sido evitada? Por que Oerstadt ligou para saber sobre a camionete se o agente ainda não havia atacado a sua?

Outro problema envolve a já citada explicação científica sobre o equipamento. Em determinado momento, Carlin pergunta como eles conseguem captar o áudio, recebendo apenas olhares como resposta. Pelo jeito, faltou para os roteiristas uma desculpa para esse detalhe, fazendo surgir a questão: será que precisava de toda a explicação científica? Apenas um “é um projeto novo que a gente desenvolveu” não seria suficiente? O importante para a história não é “como” eles chegaram ao equipamento, mas “o que” ele permite fazer.

Mostrando a competência de sempre, Denzel Washington segura bem o filme, ainda que não haja espaço para desenvolver seu personagem. Aliás, isso acontece com o restante do elenco, todos bem em seus papéis, mas sem material para um aprofundamento. Mesmo assim, Jim Caviezel deixa boa impressão como o vilão, oferecendo uma justificativa para os atos, fato que deixa Oerstadt mais humano.

Para quem não esperava nada como eu, Déjà Vu é uma bela surpresa. Um filme de suspense e ação bem construído e inteligente, embora com sua dose de problemas. E, claro, vale também para ver como Tony Scott, quando tem as asinhas cortadas, pode ser um diretor interessante ao cinema comercial americano.

Comentários (4)

Cristian Oliveira Bruno | segunda-feira, 25 de Novembro de 2013 - 15:16

O grande trunfo do filme foi ser ágil para não dar tempo de nos apegarmos às perguntas que vem à tona sobre o enredo. Ótimo filme!!! Ponto para o irmão menos famoso entre os Scott!

Pedro Henrique | segunda-feira, 30 de Maio de 2016 - 00:37

"Por exemplo: se Carlin já havia estado no apartamento de Claire, a explosão não teria sido evitada?" É exatamente isso o que ele percebe quando olha pras ataduras com sangue no apartamento - Ele já esteve lá, porém mesmo assim ela ainda morre queimada ( Repare no vestido que ela está usando, é o mesmo que tá no cadáver dela no início do filme, ou seja, aquela Claire morta do início do filme já havia sido salva por ele e levada pra casa, em outra linha temporal mas que mesmo assim não impediu o assassinato dela).

Eu também fiquei muito encucado com o final do filme e sempre tive um receio em assisti-lo pelas criticas negativas aos tais furos de roteiro. Quando você para pra raciocinar que a linha temporal que estamos acompanhando primeiramente no filme já é uma linha adulterada pela viagem no tempo de Doug(afinal o filme é sobre Deja Vu) tudo começa a se encaixar aos poucos. Na verdade eu achei o roteiro do filme bem fechadinho, é um ótimo Sci-Fi/filme de ação.

Guilherme Andrade | sábado, 22 de Abril de 2023 - 15:00

Sobre os furos: Ele liga pra Claire em busca do carro, mas como ela n tem tempo, ele consegue com outra pessoa. Não tem furo aí. Ele só quer rouba-la após o parceiro de doug furar o carro dele kkkkk

Ele passa na casa de Claire após a volta da batalha junto ao psicopata onde ele já havia matado ela. Ou seja, na primeira versão, ele passa na casa dela com ela já morta, por isso ele escreve: vc consegue salva-la, REVIVA.

Guilherme Andrade | sábado, 22 de Abril de 2023 - 15:03

O ÚNICO Furo real da história é saber como eles descobrem o esconderijo do terrorista.

Eles só descobrem na versão do filme, pq Claire morre. Mas não sabemos quantas versões tivemos e quantas explosões tiveram antes. Se formos pensar logicamente, Claire não deveria ter morrido, já q ele n precisou do carro dela.

Ele só passa a visar o carro dela, quando há uma interferência do futuro e eles enviam o parceiro de Doug pra lá.

Pra mim, esse é o maior furo.

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