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Críticas

Cineplayers

Ladrões de casaca.

6,0
A tradição dos filmes de roubo/assalto no cinema de ação americano se perdura desde os tempos da velha Hollywood até hoje, e sofreu poucas alterações em sua fórmula básica ao longo dos anos. Com a ressalva de que, de uma forma geral, os filmes foram ficando cada vez mais acomodados em clichês e estruturas prontas, de modo que hoje a maioria dos trabalhos desse seguimento se sustenta principalmente no carisma do elenco e no jogo de gato e rato entre o bandido e o investigador. A disputa de egos e de intelecto, fora a beleza e empatia que cada lado desperta no espectador, é a tônica inteira de filmes como Onze Homens e um Segredo (Ocean’s Eleven, 2001), quando o diretor é desencanado o suficiente a ponto de não se levar tanto a sério e sabe aproveitar a divertida dinâmica do gênero. No caso do mais recente Covil de Ladrões (Den of Thieves, 2018), não temos um elenco com o carisma e peso daquele filme de Soderbergh, assim como não temos um diretor com o mesmo talento, mas o real problema reside em outros aspectos. 

A trama de Covil de Ladrões não difere muito de qualquer filme de assalto a banco. De um lado temos o time organizado por uma mente brilhante e o plano aparentemente impossível de roubar o maior banco da cidade de Los Angeles. Do outro lado, um policial obstinado, que age às margens da lei e que não tem mais nada a perder após um pedido de divórcio seguido do afastamento de suas duas filhas pequenas. Entre os dois, um personagem ambíguo que trabalha para o bandido, mas que ao mesmo tempo fornece pistas para polícia, vivido por O’Shea Jackson Jr. 

Gerard Butler, na pele do policial, é a própria encarnação da caricatura do xerife machão, cínico e debochado, enquanto Pablo Schreiber oferece uma surpreendente humanidade verossímil ao bandido durão e introspectivo. Em um filme claramente direcionado ao público masculino, os dois comandam o embate de testosterona e abusam das poses e carrancas, a fim de provar qual ali é o verdadeiro macho alfa. Por focar tanto nesses tipos unidimensionais, o que inclui um time de coadjuvantes igualmente composto por bandidos e policiais durões, Covil de Ladrões não se sustenta quando o roteiro exige deles o intelecto e a agilidade. Por exemplo, depois de um personagem explicar em pormenores todos os obstáculos para conseguir penetrar a fortaleza ultra protegida do banco central de Los Angeles, logo o plano supostamente brilhante e detalhado para roubá-lo parece insuficiente e cheio brechas. 

Na reta final, o obrigatório plot twist de todo o santo filme de roubo se revela um verdadeiro tiro no pé, sendo revelando fora do timing e depois que todo o clímax e embate entre mocinho e bandido já se passou. Acaba soando como uma tentativa desesperada de fazer o filme parecer mais intrincado e bem elaborado do que realmente é, mas apenas expõe a ingenuidade do roteirista e o amadorismo de seu roteiro. Embora não ofensivo, acaba estragando o que poderia ser um trabalho mais modesto e suficiente em si. Por outro lado, uma direção comum, porém eficiente, garante um ritmo bom para um trabalho em que nada justifica as mais de duas horas de duração. 

As passagens mais pessoais sobre a vida familiar e amorosa dos personagens poderiam ser o volume para o aproveitamento da extensa duração, mas soam deslocadas e sem grandes propósitos para a narrativa. A verdade é que, para um filme de ação durar tanto e ser de fato excepcional, é necessário um diretor com um pulso muito firme e um domínio completo, tal qual um Michael Mann. Sem essa experiência por trás das câmeras, resta acompanhar o mais do mesmo e se deixar levar pelo cinema pipoca genérico que, mesmo não inventando a roda, diverte dentro de suas limitações.

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