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Críticas

Cineplayers

Que cinema é esse?

0,5

Em entrevista recente, o cineasta Miguel Gomes foi perguntado sobre a vitalidade do cinema português atual. E o autor de Tabu (idem, 2012) surpreendeu. Ele atribui esse frescor criativo não especificamente aos cineastas que o compõem, mas à pequena dimensão do mercado consumidor e da indústria cinematográfica de seu país. "Essa ausência da pressão por dinheiro oferece liberdade", disse Gomes. Ele tem toda razão, como comprova a plena contramão pela qual o cinema brasileiro trafega.

Apenas no primeiro semestre foram 13 milhões de espectadores. Entre os 10 maiores sucessos até então, seis filmes que seguem uma tendência flagrante, e o pior deles, Giovanni Improtta (idem, 2013), reúne todas as piores características desse grupo:  comédias dirigidas por homens de TV pouquíssimo preocupados em exercer uma linguagem cinematográfica; um humor grosseiro que muitas vezes apela ao mau gosto e a piadas prontas proferidas à revelia; elenco não necessariamente composto de grandes atores, mas de nomes familiares ao público (tanto melhor se num filme baseado no personagem trambiqueiro da novela das oito). Tudo tão uniforme que não é exagero prever um legado de obras esquecíveis, uma vez que nada as diferencia. Nada além de números, ou das sequências que cifras satisfatórias venham a viabilizar.

Produto dessa epidemia é O Concurso (idem, 2013), filme que traz em sua premissa o potencial de uma comédia de costumes de âmbito nacional, mas se limita a estereótipos e gags desgastados. É o resultado de um projeto que se propõe a embarcar no sucesso hollywoodiano de Se Beber, Não Case (The Hangover, 2009), quando teria em exemplares bem-sucedidos do cinema nacional  como O Auto da Compadecida (idem, 2000) e até mesmo o thriller policial Tropa de Elite (idem, 2007)  a fórmula mais adequada para ironizar as peculiaridades regionais de seu quarteto principal com inspiração, ou o mínimo que fosse.

Freitas (Anderson di Rizzi), Rogério Carlos  (Fabio Porchat)  e Bernardinho (Rodrigo Pandolfo) vão à cidade do Rio de Janeiro concorrer com o carioca Caio (Danton Mello) a uma vaga de juiz federal, ponto alto de uma grande obsessão dos brasileiros atualmente: um cargo público. O primeiro é um nordestino cuja fé abundante, aqui sinônimo de crendices múltiplas, o leva a experimentar uma boa macumba. Porchat vive um mauricinho de Porto Alegre, filho de um gaúcho típico e rígido (Jackson Antunes), que o amedronta e o leva a reprimir sua verdadeira sexualidade. O nerd do interior de Pandolfo tem cara de bobo, usa suspensório, gel no cabelo partido e, de quebra, vive uma relação surreal com uma vizinha Panicat (Sabrina Sato) que nada diz além de "me come ou eu te mato!", umas trezentas vezes. Por fim, um carioca cuja suposta malandragem se resume a repetir óbvia e forçosamente a validade de cometer uma "contravençãozinha", numa caracterização fajuta que jamais se aproxima das fiéis composições dos personagens de E aí... Comeu? (idem, 2012), para citar um similar muito mais eficiente e que perto dessa estreia ganha contornos de obra-prima.

Não bastasse um roteiro também ruim em seu desenvolvimento, que se rebaixa ao bizarro ao investir numa briga de anões, o diretor Pedro Vasconcelos ainda se mostra incapaz de conferir o mínimo de graça tanto à cena citada (eu, que não resisto a um humor politicamente incorreto, não movi um músculo facial durante o distinto combate) como ao resto do filme pelo contrário, ao invés de contornar a falta de timing do elenco, o realça ao antecipar gags que poderiam funcionar pelo efeito surpresa. A dura transposição da estética limitada da televisão para a tela grande é o arremate de uma direção desastrosa. Ou suficiente, como devem pensar seus contratantes, incapazes de corrigir um problema claro como o sotaque vai-e-volta de Fábio Porchat (ator muito competente em... emprestar o prestígio do nome mais famoso do hit Porta dos Fundos ao pôster do filme).

Afinal, não há necessidade de se dedicar com apuro e minúcia ao processo cinematográfico se o altíssimo investimento em marketing e distribuição se basta. Pois no Brasil, ao contrário da realidade portuguesa, o valor de um cineasta não é medido pela qualidade artística de sua obra, mas pela capacidade que a mesma terá de levar 200 mil espectadores aos cinemas em seu fim de semana de estreia uma mentalidade preocupante, que, como consequência, tende à uniformização da concepção de cinema nacional a comédias nos moldes do fatídico O Concurso, transformando em gênero todo o resto.

Comentários (49)

Adriano Augusto dos Santos | sexta-feira, 26 de Julho de 2013 - 11:29

Realmente falei algo idiota,pois qualquer um merece discussão.

Mas o que queria dizer mesmo é que é um filme limitado,pra comentarios curtos,rapidos,não existe algo pra explorar em texto longo.

Kennedy | segunda-feira, 29 de Julho de 2013 - 09:39

Cara, infelizmente o filme é mesmo uma merda. Poucos foram os risos que tive durante a sessão. A briga de anões, então, nem se fala: ridícula. Além de um punhado de cenas forçadas para rirmos.

Enfim, a crítica está certíssima, apesar de eu ter dado uma nota 4.5

Ma Rodrigues Barbosa | segunda-feira, 26 de Agosto de 2013 - 18:23

A película está dentre as 200 piores da História deste site.

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