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Críticas

Cineplayers

Um filme inigualável em grandiosidade, um épico que, apesar de alguns problemas e de quase ter levado o estúdo à falência, é maravilhoso.

8,0

Muito antes de James Cameron assumir o timão do problemático Titanic, outro filme fez história em Hollywood, permanecendo por mais de 30 anos como a produção mais cara e conturbada do Cinema. Atrasos nas filmagens, doença da atriz principal, substituição de elenco, casos amorosos entre protagonistas e, claro, uma produção grandiosa e espetacular que quase levou a 20th Century Fox à falência. Esses e outros problemas enfrentados pelos envolvidos na produção de Cleópatra ajudaram, ao longo dos anos, a criar uma aura de lenda em torno do filme.

Contando a saga da famosa rainha egípcia, acompanhamos Cleópatra (Elizabeth Taylor) desde o momento em que conhece Júlio César em seu palácio em Alexandria, onde pede ajuda ao ditador romano pra voltar ao poder. César a ajuda e os dois iniciam um relacionamento que resultaria em um filho, Cesário. Cleópatra exige que seu filho seja nomeado herdeiro, mas antes que César possa tomar sua decisão, é morto no senado romano. Em seguida, Cleópatra pede ajuda a Marco Antônio, com quem igualmente começa uma relação. A paixão de Antônio por Cleópatra desperta a fúria de Roma e de Otávio, um dos herdeiros de César, que declara guerra ao ex-general e amante da rainha.

Mesmo que boa parte do público que assiste Cleópatra conheça a história da rainha e sua relação com Roma, saber como o filme termina não é empecilho algum para que se possa apreciar essa grande obra em toda sua magnitude. Cleópatra é um espetáculo inigualável, esplendoroso e deslumbrante que, por incrível que pareça, ainda não foi superado. É uma trama épica e grandiosa que mistura intriga, poder, paixão e aventura com habilidade e coerência. E, acima de tudo, é um marco do Cinema, uma obra obrigatória para os cinéfilos e imprescindível para se conhecer a Sétima Arte.

Dirigido por Joseph L. Mankiewicz (um grande diretor que não possui o reconhecimento que merece, já que é o responsável por ótimos filmes como De Repente, No Último Verão e A Condessa Descalça, além da obra-prima A Malvada), Cleópatra foi o filme que quase levou um dos maiores estúdios de Hollywood a fechar suas portas, tamanha foi a sua produção. Mas ninguém pode dizer que os 44 milhões de dólares gastos no filme (em 1963 isso era um valor inimaginável) foram mal aproveitados. Os cenários são magníficos, cada locação é inegavelmente espetacular, dando a exata noção do luxo em que a rainha vivia. Além disso, é embasbacante perceber que os cenários, que poucas vezes se repetem, são todos igualmente fantásticos e completamente diferentes uns dos outros (o meu favorito é o mausoléu de Alexandre).

Conta a História que, para atingir seus objetivos, Cleópatra procurava impressionar seus visitantes e adversários com espetáculos grandiosos, mostrando toda a riqueza de sua nação, mesmo quando passando por dificuldades, algo que pode ser visto no próprio filme, na belíssima cena da chegada da rainha a Roma. Mankiewicz parece utilizar o mesmo artifício. Mesmo vista hoje em dia, a produção realmente impressiona por sua grandeza, conseguindo esconder alguns de seus defeitos e prendendo a atenção do público durante suas mais de quatro horas de duração.

Além disso, o roteiro, escrito pelo próprio diretor em colaboração com Ben Hecht e Ranald MacDougall, consegue ser bastante fiel aos eventos, trazendo às telas com grande precisão tudo aquilo que imaginamos (ou ao menos se conta) ter acontecido naquele período. Ao mesmo tempo, a construção dos personagens é muito bem feita, graças, principalmente, aos belíssimos e inteligentes diálogos criados pelos roteiristas (“Se ela não fosse uma mulher, seria considerada uma intelectual”, diz certo personagem a respeito da rainha) e as ótimas interpretações de todo o elenco.

Elizabeth Taylor parece ter nascido para interpretar Cleópatra. A estrela jamais encarnou tão bem um personagem, transformando a rainha em uma mulher linda, inteligente e astuciosa, capaz de fazer o que for preciso para ter seus objetivos alcançados. Enquanto isso, Rex Harrison e Richard Burton (com quem Liz iniciou um relacionamento tumultuado durante as filmagens), interpretando Júlio César e Marco Antônio, respectivamente, estão igualmente ótimos nos papéis, transmitindo com eficiência a dualidade entre ser um general temido e um amante submisso aos desejos da rainha. A curiosidade fica por conta de ver um jovem Martin Landau no papel de Rufio e Hume Cronyn como Apolodorus, conselheiro da rainha.

De qualquer maneira, é difícil um filme com mais de quatro horas de duração não se tornar cansativo em alguns momentos. Claro que a história da rainha não pode ser contada em uma produção de menos de duas horas, mas o filme não consegue manter o mesmo ritmo durante toda a produção, principalmente enquanto nos aproximamos de seu final. Além disso, devido ao grande número de personagens, certos detalhes acabam sendo tratados apenas superficialmente, causando uma certa estranheza com algumas partes do filme. Por exemplo, a relação entre Cleópatra e seu filho poderia ser mais explorada, pois traria uma maior dramaticidade à resolução da trama.

Mesmo com esses defeitos, Cleópatra é um grande filme que não justifica o fracasso que obteve na época de seu lançamento. Visualmente estarrecedor e com uma narrativa exemplar, Cleópatra merece, indubitavelmente, seu lugar de destaque na galeria dos grandes clássicos do cinema mundial. Obrigatório.

Comentários (2)

Caio Santos | segunda-feira, 28 de Novembro de 2011 - 19:43

não seria "estúdio" ali no titulo? 😲

Leandro Moura Lima | terça-feira, 05 de Janeiro de 2016 - 12:37

Foi uma das mais grandiosas produções que eu já vi, e o melhor: sem efeitos especiais. No entanto, é uma pena que o filme tenha sido tão injustiçado (pelo menos, essa é a minha opinião). É inegável que um filme de 4 horas de duração, ainda mais assistido direto e em um único dia, acabe ficando cansativo, mas não vi nada que pudesse ser tão desabonador. O roteiro flui muito bem, as atuações estão ótimas e a parte técnica beira a perfeição.

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