Não chega a causar indigestão, mas é um prato que está longe de matar a fome.
Não é raro ver cineastas comumente associados aos chamados blockbusters voltarem-se a projetos mais pessoais e intimistas. A lista é longa. Apenas recentemente, diretores como Roland Emmerich, Joss Whedon, para citar dois, realizaram filmes menores, longe da pressão dos estúdios, onde puderam encontrar a tão sonhada liberdade criativa. O mais novo nome dessa lista é Jon Favreau: após comandar Homem de Ferro, Homem de Ferro 2 e Cowboys & Aliens, estabelecendo-se como figura importante do cenário comercial do cinemão norte-americano, o cineasta preferiu se afastar dos holofotes e chamar alguns amigos para a execução de um projeto de estimação, a comédia Chef.
Escrito, dirigido, produzido e estrelado por Favreau, o filme é decepcionante exatamente por se tratar de um projeto pessoal. Chega a ser curioso: logo quando tem controle total sobre a obra, com a oportunidade de arriscar e experimentar a seu bel-prazer, Favreau despe-se de ambição e opta por jogar na zona de conforto, abandonando qualquer resquício de ousadia. Chef é um filme extremamente simples e inofensivo, bobinho até o último frame, evitando ideias originais, deixando de lado a profundidade e preterindo a coragem narrativa em função de uma construção segura e banal. O resultado é uma daquelas obras que, quando chegam ao final, a plateia se entreolha e pergunta: “Mas é só isso?”
Mesmo almejando pouco, Chef ainda apresenta sua parcela de problemas. O mais gritante deles talvez seja a própria estrutura adotada por Favreau, com um primeiro ato longo demais, que leva quase uma hora até chegar ao primeiro ponto de virada do enredo. Dessa forma, o filme demora para realmente “começar”, uma vez que o espectador já sabe que algo dessa natureza irá acontecer e aguarda por tal momento. Para piorar, o roteiro também parece fugir de possíveis conflitos que possam tornar a narrativa mais interessante: exceto a demissão do protagonista, o restante da produção traz as coisas acontecendo de forma rápida e fácil, o que acaba tirando qualquer possibilidade de emoção que a história pudesse oferecer.
As próprias relações entre os personagens, aliás, são tratadas de maneira rasa e superficial por Favreau. A subtrama envolvendo pai e filho, por exemplo, é resolvida em uma única cena de alguns segundos, onde os dois parecem encontrar uma conexão que nunca mais será quebrada. Mas isso é pouco, porém, perto do que Chef faz com o casal interpretado por Favreau e Sofia Vergara, cujo destino é indiscutivelmente um dos mais abruptos e inverossímeis do ano – o que leva a um final totalmente anticlimático. Como se não bastasse, a previsibilidade incomoda e personagens desaparecem da trama sem muita explicação, prejudicados pela já citada estrutura deficiente, que parece não se preocupar em desenvolver um terceiro ato capaz de amarrar e encerrar o filme de maneira coerente.
Vale ressaltar, ainda, que a falta de imaginação de Favreau não se restringe apenas ao texto e à espinha dorsal da narrativa, mas também às suas escolhas atrás das câmeras. Embora tente assumir um tom moderno com a inserção orgânica dos tweets – e dos passarinhos voando para representar seus envios –, na maioria das vezes as soluções visuais são óbvias, como as montagens durante a viagem (ao som de uma trilha sonora caricata) e gags visuais fáceis de antecipar por quem já assistiu a pelo menos dois filmes de comédia na vida. Em certo momento, por exemplo, o personagem de Robert Downey Jr. fala sobre o veículo que colocará à disposição do protagonista, vendendo-o como uma grande máquina. Não é difícil prever que haverá um corte seco para a próxima cena apresentando o furgão caindo aos pedaços. (Que saudade da criatividade das transições de Edgar Wright...)
Mas Jon Favreau deve ser um cara legal, pois é a única explicação para conseguir juntar um elenco desses em uma produção independente e tão insossa quanto Chef. As aparições de Scarlet Johansson, Dustin Hoffman e Robert Downey Jr. podem até ser consideradas cameos, de tão pouco tempo em tela, mas já ajudam a trazer um certo apelo ao filme – o último, por sinal, brilha como sempre, entregando todas as suas falas com a ironia e o timing cômico perfeito ao qual o espectador já está acostumado. E, se é difícil visualizar Favreau como par romântico da espetacular Sofia Vergara, ao menos o estilo bonachão e gente boa do ator/diretor/roteirista contribui para aproximar a plateia de Carl Casper, requisito fundamental para o filme não se tornar insuportável até o desfecho.
Mesmo que ocasionalmente encontre momentos de verdade, como em instantes específicos da interação pai e filho e na química entre o protagonista e o personagem de John Leguizamo, Chef jamais chega a ser um filme particularmente engraçado ou emocionante. Na verdade, é como aquela refeição que fazemos em uma dieta: pode até ter um certo valor nutritivo, mas está longe de nos deixar satisfeitos.
vontade zero de ver esse filme. [3]
Sinto cheiro de lixo...
Esse Lucas é carinha bastante repetitivo, viu...
A sinopse até me lembra Soul Kitchen, do grande Fatih Akin, mas como nunca vi nada bom desse diretor aí, vou deixar passar.
Vontade zero de ver esse filme (125) mas... eu assisti, uma pena, a historia é boa, um prato cheio digamos assim, poderia ser muito divertido mas não é. Na minha humilde opinião o personagem não sofre nada, sua vida se resolve muito facilmente e suas crises existenciais são quase patéticas.