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Críticas

Cineplayers

Uma mistura de gêneros equivocada, demasiadamente longo e quadrado, Austrália acerta no visual – mas nem tanto assim.

2,0

Narrado pelo pequeno Nullah, um menino aborígene australiano, o filme conta a história de Lady Sarah Ashley (Nicole Kidman), que deixa a Inglaterra para ir ao encontro de seu marido na fazenda da família na Austrália. Ela desconfia que seu cônjuge não está apenas cuidando da propriedade e da venda de suas cabeças de gado, mas que também mantem relações com outras mulheres. Ao chegar ao país, Lady Ashley é recebida pelo capataz vivido por Hugh Jackman e, em seguida, descobre que seu marido foi morto. Daí em diante, cabe a ela optar pela venda da fazenda a um preço mais baixo que o de mercado, ou encarar a saga de cuidar do local dando continuidade aos negócios do marido.  

Infelizmente, o filme é um misto de tudo e torna-se um nada. Baz Luhrmann experimenta diversos gêneros em Austrália, o que deixa o filme sem personalidade alguma. Os personagens não são construídos de maneira adequada, principalmente a aristocrata vivida por Nicole Kidman, que muda da água para o vinho. Surge como uma mulher fresca, que se assusta com a brutalidade de um homem contra um canguru, para, minutos depois, ser uma pessoa de pulso firme, disposta a comandar a fazenda de seu falecido marido e de se juntar a seus empregados em uma jornada de travessia de bois. Não que uma mudança radical de comportamento não seja plausível de acontecer, mas a rapidez com que isso acontece é totalmente inverossímil. 

Austrália perde-se com a troca constante de gêneros. A trama dos desafios enfrentados pelo menino aborígene e por Lady Ashley cede espaço para outra subtrama e essa dinâmica de novas histórias dentro do mesmo filme é a tônica – nada esperta - da obra. Isso porque cada nova história tem um foco bem distinto das anteriores, em uma enrolação aparentemente sem fim. Não tenho nada contra filmes longos, mas para se estender por muito tempo é necessário possuir algumas qualidades, algo que Austrália tem pouco. Os destaques ficam apenas nas partes técnicas de fotografia, direção de arte e figurino.

Entre tantas tramas, a mensagem que sobrevive a todas elas é a do valor do lar. Não há lugar melhor do que nossa terra, nossa casa e nossa propriedade. Isso não tem preço. É com essa mensagem que o diretor aproveita para fazer referência a E o Vento Levou e para citar O Mágico de Oz. No primeiro caso, a referência está também no visual alaranjado dos planos e, no segundo, por meio da música “Over The Rainbow”, que pode ser escutada diversas vezes, e por meio das imagens que explicitam as semelhanças temáticas. 

Apesar de ser muito longo, duas horas e cinquenta minutos de duração, Austrália não satisfaz pelo ritmo acelerado de suas várias tramas, culpa do excesso delas. A travessia dos bois, por exemplo, é atropelada. Repentinamente ocorre o início da jornada, a dificuldade no percurso por falta de água e a chegada à cidade. Não há tempo para se envolver com a aventura dos personagens. Outro problema é o personagem Nullah que funciona como uma espécie de protagonista em alguns momentos e coadjuvante em outros. Não fica claro, por exemplo, se ele é apenas um garoto corajoso ou se realmente é um menino místico que, assim como seu avô, detém poderes sobrenaturais, como o dom de dominar a natureza por meio de canções proveniente da cultura aborígene.  

E é uma pena que Austrália não consiga abordar apropriadamente o tema da cultura aborígene e realize uma leitura superficial dos conflitos entre esse povo, brancos e negros. Luhrmann cita, e o início deixa a impressão de que o tema será levado mais afundo, a catequização da igreja sobre os garotos aborígenes. Os representantes da fé católica levavam os meninos para escolas nas quais aprendiam a se comportar para serem empregados das famílias brancas. 

A história também não se desenrola adequadamente justamente por rapidamente alterar o ritmo e estilo do filme. Os gêneros mudam a todo instante, e a cada mudança de tom parece que, enfim, chegamos ao final, mas, encantado com sua própria história, Luhrmann não se contenta em encerrar a trama e começa a explorar um fato novo na tentativa de construir um grande épico. No final das contas, é uma extensa novela, marcada por clichês que condenam grandes astros como Nicole Kidman a se portar de forma caricatural. Os vilões da trama, por exemplo, comportam-se de maneira excessivamente caricatural, com direito a caras, bocas e olhares sanguinários de personagens que só pensam em detonar com a vida dos retratados como bonzinhos. Um maniqueísmo clichê e desnecessário.

Austrália poderia perfeitamente ter abandonado algumas histórias para que não beirasse as cansativas três horas de duração e para que, talvez, pudesse desenvolver melhor a sua trama original e, por consequência, seus personagens.

Comentários (1)

Ana Luiza Aragão | sábado, 11 de Fevereiro de 2012 - 02:35

Muito longo!..Não tenho nada contra filmes longos,mto pelo contrário: adoro!,mas no caso de 'Austrália' chega a cansar.....

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