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Críticas

Cineplayers

Um banho da simples normalidade do cinema de Chico Teixeira.

8,5

O diretor Chico Teixeira tinha aparecido da ultima vez aqui mesmo no Festival do Rio, mas já fazem alguns anos. O filme era A Casa de Alice, e garantiu a Carla Ribas um merecido Redentor de melhor atriz. É cedo pra medir, ainda nem cheguei na metade da competição, mas acho difícil que seu novo filme não seja considerado para a premiação, principalmente em roteiro. Delicado e cheio de nuances sutis, o filme mostra o abandono e a solidão que nasce literalmente de berço. Ou que se forma no seio da família e é cada vez mais corriqueiro, infelizmente. Independente de seu tema, Chico persegue a delicadeza mais uma vez, com resultados igualmente bem sucedidos e tocantes.

O filme acompanha o dia a dia de Serginho, que é uma espécie de faz-tudo com 15 anos: ajuda a mãe com o irmão caçula, provém a casa com o dinheiro que ganha ajudando o tio na feira, tenta controlar o alcoolismo da mãe, tenta também não abandonar os estudos, e para isso conta com a ajuda do professor Nei. Vemos a trajetória desse personagem, que é fascinado pelo circo local, que observa a mãe fazer bolos para fora, que se apaixona pela japonesinha que também trabalha na feira, que sofre bullying, que tem um amigo mudo. Depois da metade do filme surge algo parecido com um conflito, que irá todas as peças do tabuleiro de Serginho.

Com fotografia de Ivo Lopes Araújo, o filme amplifica o 'cinema simplicidade' de Chico, que continua mostrando um lado de São Paulo sem filtro e sem atrativos aparentes, uma vida cuja sensibilidade precisa ser quase cultivada. O filme abre com um vislumbre do futuro muito interessante, que só será entendido lá pelas tantas; de forma bem seca, não se sabe que essa cena é um trampolim de mudança e renovação, por vias muito díspares.

No campo do elenco, o destaque absoluto vai para o menino Matheus Fagundes, que capta o olhar profundo e sem dono de Serginho, literalmente o cachorrinho que caiu do caminhão. A todos ele parece suplicar carinho e atenção, e o menino tem percepção dessa força. Coadjuvado por Irandhir Santos e Gilda Nomacce, Matheus se junta a Chico na difícil arte de radiografar o interior de um personagem, e uma paz de espírito que nunca chega.

Comentários (1)

Landerson DSP | quarta-feira, 01 de Outubro de 2014 - 18:05

Na moral, Irandhir Santos é de outro mundo. O cara vai de projeto interessante a projeto interessante. Se Deus exite, eu acho que é ele.

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