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Críticas

Cineplayers

Marcos Paulo e sua tentativa falha de “americanizar” o cinema brasileiro.

3,0

O currículo de Marcos Paulo é tão extenso que fica até difícil afirmar se ele é mais ator, diretor ou produtor. Seus maiores êxitos profissionais são frutos de trabalhos na televisão, onde teve a oportunidade de fazer história ao dirigir novelas do calibre de Dancin’ Days (1978), atuar no clássico da dramaturgia brasileira Roque Santeiro (1958), além de participar do sucesso de bilheteria do cinema nacional que foi Se Eu Fosse Você 2 (idem, 2009). Considerando toda essa jornada, que ainda inclui outros grandes momentos, é até desanimador conferir sua decepcionante estreia como cineasta em Assalto ao Banco Central (idem, 2011). Para aqueles que pensavam que a história verídica, a respeito do maior roubo aos cofres públicos da história de nosso país, renderia um bom filme inteligente de ação nas mãos dele, se enganaram. Dentre todos os erros que cometeu na composição desse trabalho, nenhum é tão imperdoável quanto a falta de originalidade e comprometimento com o que o cinema nacional é capaz de oferecer.

De uns anos para cá, o Brasil vem sendo o cenário de inúmeras produções hollywoodianas, e tem feito sucesso mundo afora com o marketing em volta de sua beleza natural e sua política falha, uma combinação fatal que faz qualquer enredo de filme se tornar ainda mais instigante. Que surpresa então é ver Marcos Paulo, com uma autêntica história brasileira em mãos, filmando em território nacional, desperdiçar a chance de subir mais um degrau na ascendente trajetória que o nosso cinema anda caminhando. Deixando de lado qualquer vestígio de inovação, ele fundamenta sua história inteirinha na cartilha de clichês de filmes de roubo americanos. Desde a apresentação dos personagens, passando pelas lamentáveis falas de efeito até chegar ao final-surpresa obrigatório em todas as produções do gênero, Assalto ao Banco Central acaba lembrando em muito o que todos nós já estamos acostumados a ver em Hollywood.

O fato de ser uma história real pesa - e muito - na contribuição para um enredo diferenciado, até porque há toda uma engenhosidade arquitetônica envolvida na trama. Mas cada singular ideia original é sufocada pelas referências excessivas usadas por Marcos Paulo, a começar pela composição dos personagens. O time dos bandidos é liderado por dois dos mais clichês papéis de toda a trama: Barão (Milhem Cortaz) e Carla (Hermila Guedes), os dois “cérebros” da operação criminosa. Silencioso e dono de um autocontrole quase sobre-humano, Barão é um clichê ambulante, daqueles que vivem soltando frases de efeito e fazendo “cara de mau”. Carla é um dos poucos elementos femininos e acaba por aí. Sensual e misteriosa, ela só aparece para dar o toque de feminilidade essencial para filmes do gênero. Na outra ponta temos os “mocinhos”, policiais de QI inferior aos dos vilões, que em momento algum se mostram fortes o suficiente para tomar conta da situação e donos de uma vida pessoal problemática (para variar).

Para que tudo ganhasse uma agilidade e certo toque de “inteligência”, a direção optou por dividir em duas tramas paralelas os acontecimentos que envolvem o tal assalto engenhoso. Uma não está na mesma linha de tempo da outra, a fim de confundir o espectador até o momento da surpresa final. Mas acontece que esse recurso foi usado de forma tão estúpida que o gran finale é revelado ainda na metade, anulando um possível clímax para o desfecho. Ou seja, até na hora de plagiar ideias americanas, Marcos Paulo erra. O pior de tudo é que a única coisa ali que lembra, de alguma forma, as ficções brasileiras é o tom novelesco. O elenco, apesar de talentoso, lida com os textos como se fosse um folhetim, o que não combina de maneira nenhuma com a proposta do filme. O resultado é de um diretor perdido entre sua trama americanizada e seu texto melodramático.

Não é preciso nem dizer então que chovem momentos constrangedores durante toda a duração de Assalto ao Banco Central, mesmo se tratando de uma produção rodeada de diversos profissionais respeitados. Essa tentativa de Marcos Paulo em mergulhar em um tipo de cinema que não condiz com as realidades de nosso país conseguiu estragar uma história baseada em um fato real, que supostamente não deveria perder seus méritos, independente do processo que visa transformá-la em ficção. Inserir policiais corruptos no meio da fórmula também não é a ideia mais sutil em fazer com que tudo pareça “mais nacional”.

Não é justo exigir de Marcos Paulo uma grande obra logo em sua estreia na direção de um filme, por mais que ele tenha experiência como diretor de televisão. Mas nada mais justo do que esperar que ele tenha pelo menos a consciência do público com que está lidando. Chega a ser irônico o fato de Hollywood apostar cada vez mais no Brasil quando os próprios diretores daqui não querem saber do que nosso país pode oferecer.

Comentários (4)

Lairton Flores | domingo, 27 de Novembro de 2011 - 01:15

Concordo com a crítica, os momentos constrangedores são inúmeros, como a atuação da Giulia Gam como a de uma estudante numa peça de escola. Quiseram colocar um final surpreendente que teve mais a cara de um "tá, e daí?". Filme bobo e patético.

Adriano Augusto dos Santos | domingo, 24 de Junho de 2012 - 09:35

Achei bem divertido.O elenco funciona bem e as frases de efeito são boas.
Certos momentos como as aparições de Abujamra,Milton gonçalves,Daniel filho são o máximo,muito boas.

Mas a montagem é uma vergonha,amadora,perdida,quebra cenas,derruba ritmo,irrita...foi inteira ruim.

Rodrigo Torres | quarta-feira, 11 de Julho de 2012 - 02:03

Eis um filme que dá muita vontade de escrever sobre. Crítica pronta!

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