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Críticas

Cineplayers

Uma esperada (e necessária!) seqüência de um dos melhores romances dos anos 90.

9,0

Lógico que a deliciosa pancada no coração que foi Antes do Amanhecer, mais cedo ou mais tarde, iria ganhar uma seqüência. Afinal, a bela história dos dois jovens apaixonados que combinam de se encontrar seis meses depois na mesma estação de trem que se despediram em Viena deveria, obrigatoriamente, continuar a ser contada. Por motivos óbvios não irei falar o que aconteceu na estação, fatos que são mostrados nos primeiros minutos deste filme, então pulo direto para a premissa básica de Antes do Pôr-do-Sol.

A história agora se passa nove anos depois, quando Jesse (Ethan Hawke) lançou um livro de sucesso, revivendo justamente o que aconteceu na noite em que passou com Celine (Julie Delpy). O reencontro entre os dois acontece em uma tarde em Paris, quando Jesse concedia reportagens sobre o seu romance em uma livraria e Celine resolveu ir até lá, após ficar sabendo de sua estadia na cidade. Novamente os dois têm pouco tempo para colocar o papo em dia, ao mesmo tempo que antigos sentimentos voltam à tona.

A principal diferença entre os dois filmes é que o diretor Richard Linklater não quis repetir a fórmula, apesar da sinopse básica indicar isso. Os dois filmes têm diferenças fundamentais, muito mais profundas do que simplesmente os personagens estarem mais velhos, ser de dia ao invés de noite e já se conhecerem. Se pudesse explicar em poucas palavras a diferença fundamental entre os trabalhos, diria que enquanto Antes do Amanhecer é mais emotivo, Antes do Pôr-do-Sol é muito mais um competente exercício cinematográfico.

Se os personagens estão mais velhos, eles são mais experientes, têm mais histórias para contar e suas opiniões estão muito mais definidas do que quando eram simples adolescentes. Se é de dia, a fotografia de Lee Daniel é espetacular e dá um brilho todo especial à Paris - a cidade já é bela por natureza, mas, com o amarelado de um pôr-do-sol bem captado pela câmera, fica ainda mais espetacular. E se os personagens já se conhecem, eles não estão mais se apaixonando um pelo outro, e sim se re-descobrindo, discutindo antigos sentimentos, e, na seqüência mais forte do longa, desabafando novas sensações.

O roteiro expande o mundo criado pelo primeiro de maneira bastante significativa. A abertura, por exemplo, repete o que o trabalho anterior fez em seu final, mas ao invés do filme passear pelos locais onde os personagens passaram, ele faz o inverso: visita os locais onde os personagens irão passar. Só que esse é o principal defeito do filme: querendo criar um clima de expectativa e tensão, o diretor colocou todo o falatório em dois terços da duração, para depois, na parte final, discutir o sentimento dos personagens. Isso deixou o filme mal balanceado, algo que não acontecia no anterior, quando os diálogos e os flertes eram perfeitamente conectados um ao outro.

O tempo é uma peça importante para a narrativa: ao invés de uma tarde inteira, eles têm pouco mais de uma hora para ficarem juntos, e o filme conta o período todo em tempo real. Richard não utiliza um único plano seqüência para isso, e sim uma junção de planos que, editados, complementam-se para formar o tempo em que os personagens estiveram juntos - porém, existem vários planos seqüência no longa, que enriquecem ainda mais o excelente trabalho dos atores e abre uma importante brecha para as improvisações.

Com isso, a direção e a  edição ficam um degrau acima da produção anterior, sendo uma verdadeira aula de como se filmar e montar um filme. A noção de timming para as cenas é simplesmente impressionante, uma vez que juntando diversos planos filmados em dias diferentes dão uma continuidade extremamente fluida após montados, e o tempo certinho em que os personagens ficaram juntos na história também.

Se o sentimento é todo descarregado apenas no final, pode-se dizer que ele faz valer a pena por causa de dois momentos em particular: a música que Julie Delpy canta e o final, que foge totalmente do óbvio, mesmo que não tenha a explosão sentimental do primeiro longa. É importante dizer isso, pois muita gente pode se decepcionar pelo fato desse ser mais lento, menos choroso e mais técnico, mas esse é justamente o seu grande diferencial. Você não vai estar se acabando de chorar quando este terminar, mas pelo menos um suspiro agradável será indispensável para expressar a satisfação de uma continuação que, em raros casos como este, não é apenas necessária, mas também muito bem executada.

O primeiro mostrava com perfeição como surge a paixão entre duas pessoas. Pois bem, espere para ver o que este filme reserva para você.

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