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Críticas

Cineplayers

Filme de guerra abaixo da média.

3,0

Deve-se tomar imenso cuidado ao se falar sobre um filme como Amor Extremo: com sua temática batida e texto com pretensão a ser uma grande poesia em meio à Segunda Guerra pode-se cair em uma armadilha de se escrever um texto tão comum quanto a obra a ser avaliada. Porém, quantos clássicos já não foram feitos abusando das releituras e utilizando o lugar familiar como piso para sua obra se apoiar?

Mesmo que tente isso, o novo filme de John Maybury (de Camisa de Força) se embola todo em uma salada de fruta de gêneros. Os diálogos entediam em suas tentativas de impressionar e aprofundar o que os personagens sentem, e as seqüências, ao não serem filtradas, acabam passando rápido demais e misturando uma série de gêneros que azedam ainda mais o resultado final.

A história é sobre Vera Phillips (Keira Knightley), uma jovem que ganha a vida cantando em becos escuros da Inglaterra como uma musa durante a Segunda Guerra Mundial. Ela recebe constantemente os flertes de Dylan Thomas (Matthew Rhys), um poeta fracassado que conheceu na infância e escreve filmes sobre a batalha para ganhar a vida enquanto realiza sua verdadeira paixão: a poesia. Quando a mulher de Dylan chega à cidade (Caitlin, vivida por Sienna Miller), o que parecia ser um barraco formado torna-se um triângulo amoroso curioso, pois Caitlin é uma mulher moderna, que aceita o flerte do seu marido com Vera como algo saudável e acaba tornando-se sua melhor amiga. Porém, quando Vera conhece e se apaixona por William Killick (Cillian Murphy), um jovem que vai à luta e volta completamente alterado com a realidade que lá encontra, Dylan mostra-se bastante ciumento e disposto a separar o casal, iniciando uma série de eventos obviamente trágicos.

Escrito por Sharman Macdonald, mãe de Keira e de escola teatral, percebe-se claramente poder nos seus textos, mas que podem funcionar bem em um teatro, não na tela grande do cinema por se perderem em um ritmo sufocador e sem foco. Ao tentar desenvolver seus personagens, a autora acaba atirando para todos os lados e falha ao tentar ser um novo O Franco-Atirador: conhecemos os personagens antes, durante e depois da Guerra, com os efeitos que ela causa em todos, mas sem a mesma eficiência, impacto e beleza narrativa. E nisso o filme vira uma mistura quase indescritível, pois enquanto o trabalho de Michael Cimino tem três horas de duração e desenvolve pacientemente cada situação que cria, John Maybury cria vergonhosas passagens que são rápidas demais (o filme tem pouco mais de uma hora e meia – como uma peça) e simplesmente não dá tempo para nos apegarmos a nenhuma delas.

Para se ter uma idéia, não dá para nos apaixonarmos pelos personagens porque a parte de calmaria e prazer em suas vidas é mal realizada, não nos aproximando de suas causas e cinematograficamente escura demais, feia, mal filmada. Quando vamos à Guerra, há covardia do diretor de mostrar o que realmente quer e o que nos chocaria, tornando distante a mudança no personagem de Cillian e menos aceitável toda a mudança que teria na vida dos envolvidos no terceiro ato. Há apenas uma única cena realmente boa no filme, perto do fim, que nos leva a uma quase torturante passagem por tribunal, absolutamente dispensável.

Se há qualidades no filme, pode-se dizer que são notoriamente duas: a trilha e as atuações da ala feminina responsável pelas duas protagonistas. Com músicas de época refinadas e bem escolhidas, apreciar a trilha sonora é algo muito mais prazeroso do que assistir ao filme. Já Keira e Sienna quase conseguem carregar o filme nas costas com suas atuações naturais, convincentes e simpáticas. Keira chama atenção por sua beleza costumeira (e, diga-se de passagem, a atriz fica cada vez mais bela com o passar dos anos), sua inocência não tão inocente assim ao bater de frente com as situações e belíssimas interpretações das canções que sua personagem realiza nos becos volta e meia durante o filme, sem a necessidade de uma dubladora.

Já Sienna é algo realmente chamativo: sua personagem é altamente complexa e o ponto mais trabalhado do filme; sua mudança durante toda a projeção e o jeito que enxerga o ciúme são bem trabalhados, claramente por causa do envolvimento que ele achava que entendia do marido com Vera, mas que obviamente era bem diferente do que imaginava. E aí cabe uma observação interessante: por ser filha de Macdonald, a roteirista do longa, era para Keira ter ficado com a personagem Caitlin, mas optou por trabalhar com Vera – e fica óbvia a diferença de tratamento que Caitlin recebeu comparando-a a todos os outros do longa. Os dois atores principais, Matthew Rhys e Cillian Murphy, não conseguem se destacar em momento algum do filme, com um agravante para o segundo, já que ele é chave fundamental para que a idéia do filme funcione. Suas expressões são ruins demais, limitado como ator e com uma aparência totalmente anti-anos 40 – ele, definitivamente, não está vivendo em sua época.

Amor Extremo não fará o sucesso que o trailer sugere, até porque conseguiram fazer um trabalho melhor resumindo o filme em dois minutos e meio do que o filme pronto. Mesmo que tenha vencido o Bafta de Melhor Figurino, esse seu sumiço do circuito internacional é merecido e facilmente entendido pela qualidade do longa-metragem, bem abaixo da média de filmes de Guerra recentemente estabelecida – e que é bem alta, cabe dizer. Não vai conseguir conquistar ninguém justamente por não ter foco algum, mesmo com a rainha dos filmes de época em cena.

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