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Amantes Eternos

(Only Lovers Left Alive, 2013)
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Críticas

Cineplayers

O sobrenatural de Jim Jarmusch.

8,0

Jim Jarmusch não faz um filme de gênero. Numa época em que pipocam filmes e séries de televisão com temas sobrenaturais, Only lovers left alive (2013) surge como uma refrescante comédia que busca no sobrenatural sua própria densidade – e não um pretexto para romance, aventura e ação. A imortalidade permite resgatar experiências e episódios da História da humanidade e colocar o presente em perspectiva – a perspectiva de uma sabedoria secular. O sangue traz reflexões sobre as doenças e vícios da vida contemporânea. A condição dos personagens não é romantizada, mas razão de sua marginalidade e deslocamento no mundo. A vida noturna, mais do que reveladora de violência e mistério, constrói um interessante cenário underground de duas cidades separadas pelo Oceano Atlântico: Detroit e Tanger.

O filme se arrisca a por em contato imagens e símbolos de diferentes naturezas, criando uma rica camada de sentidos. O primeiro plano é uma paisagem estrelar, que lentamente começa a girar a partir de seu centro, formando linhas ou rastros luminosos. Corta-se para uma nada óbvia rima visual: um vinil preto girando, em uma perspectiva semelhante, e, na sequência, uma montagem paralela que vai iniciar a apresentação dos personagens principais. A câmera se aproxima deles por um suave e musicado movimento que parte de uma plongée total (vista do alto em ângulo de 180º) até a altura dos personagens, descrevendo círculos em seu caminho – tal como uma órbita planetária. Como o nome técnico sugere (plongée é mergulho, em francês), vamos a partir dali literalmente mergulhar na realidade excêntrica dos dois personagens.

Aqui há um gesto que se repete ao longo do filme: aproximar terra e céu, mundo e cosmos, mitologia e misticismo. Uma articulação feita sempre por meio de contrastes, oposições. Não por acaso os dois personagens se chamam Adão e Eva. E enquanto Adão é melancólico, pessimista, obscuro, e se veste de preto da cabeça aos pés, Eva é calorosa, luminosa (com suas roupas e cabelos claros), trazendo consigo a vivacidade que dá equilíbrio ao casal. Como um Yin Yang personificado (algumas imagens, como a do cartaz do filme, parecem inclusive sugerir essa semelhança), os dois se complementam de forma harmônica, entrelaçam suas mãos, seus corpos e mentes. Eles se atraem e se desejam, sem discordâncias ou conflitos imperativos. Mesmo a perturbadora chegada Ava, irmã mais nova de Eva, não abala a sintonia dos dois.

Adão e Eva são extremamente inteligentes e sofisticados, mas precisam lidar com uma necessidade primitiva e animalesca, da qual depende sua sobrevivência. Por meio dessas antípodas, Jim Jarmusch dá cadência e humor a uma história aparentemente banal, encadeando-a ao movimento mesmo da vida e do universo. Ele nos dá, assim, uma visão distanciada – e por isso irônica – da civilização humana ao adentrar os conflitos de dois seres cuja sabedoria não esconde sua essência predadora.

Comentários (13)

Rodrigo Cunha | quinta-feira, 13 de Junho de 2013 - 22:46

Mas as pessoas nunca devem ser parciais em uma crítica, Rodrigo... Ela tá dando a opinião dela, como ser imparcial?

Patrick Corrêa | quinta-feira, 10 de Outubro de 2013 - 19:45

Adorei! Jarmusch continua em ótima forma.
E a crítica ficou boa.

Gabriel Severo | sexta-feira, 11 de Outubro de 2013 - 15:33

Alguém sabe se há alguma previsão pra esse ser lançado em circuito comercial por aqui?

Gustavo Hackaq | sábado, 05 de Julho de 2014 - 18:02

Obra-prima (repita isso cem vezes).

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