Animação impressiona por visual primoroso, mas peca em vários outros quesitos.
Quando dirigiu o irretocável curta de animação 9, em 2005, Shane Acker não poderia imaginar o que alcançaria com ele. Os 10 minutos de filme abriram caminho para o jovem realizador, estudante recém-formado da Universidade da Califórnia e que obteve o grande feito de concorrer a um Oscar – perdendo para o curta igualmente estadunidense The Moon and The Son. Mas o ápice de 9 foi atingido quando os olhos do cultuado cineasta Tim Burton se voltaram para a animação, que decidiu produzir uma versão em longa-metragem da história original de Acker.
E assim nasceu este 9 - A Salvação, com história adaptada por Pamela Pettler, roteirista que já havia trabalhado com Burton em A Noiva Cadáver. Na animação acordamos com a pequena criatura que dá título ao curta e ao filme, espécie de boneco de pano que nasce em um mundo pós-apocaliptico onde máquinas dizimaram a humanidade. 9 então conhece outros como ele, cada qual carregando um número e características próprias: a aventureira 7, o medroso 5, o grandalhão 8 e o ancião 1 são os de maior destaque. Quando 9 acidentalmente desperta uma terrível criatura mecânica, eles se unem para tentar recuperar a paz perdida no meio de tamanho caos.
A principal diferença entre o curta-metragem e o filme de 2009 é justamente o que caracteriza o último como uma produção falha: o excesso. Se antes a história e a economia no roteiro existiam em benefício ao belo trabalho visual, algumas explicações truncadas aparecem desnecessariamente no novo filme, dando importância demais à origem dos pequenos bonecos e à sequência de eventos que deixou o mundo em tal estado – acontecimentos que não são explicados no curta. Era evidente que tais informações seriam válidas em um filme de maior metragem, mas o caminho escolhido por Pettler para ampliar a criação de Acker é simplista demais e apela para elementos recorrentes em produções do gênero, explicando tudo através da já muito utilizada saída que mostra as intenções gananciosas dos humanos se voltando contra os mesmos.
O desenvolvimento de 9 - A Salvação acaba se tornando bastante esquemático e o filme recorre aos mesmos recursos inúmeras vezes, como quando insere seus novos personagens, sempre saindo das sombras, e também nas cenas de ação, que se baseiam numa mesma estrutura bastante previsível. Enquanto o curta-metragem conseguiu construir uma narrativa instigante sem o uso de diálogos, o novo filme acaba exagerando nas frases de efeito, que utilizam vários clichês dos filmes de aventura, como o muito gasto “eu criei o problema e agora tenho que o resolver”. O elenco de dubladores é algumas vezes óbvio, como na escolha do eterno Frodo, Elijah Wood, para dar voz à 9 e, curioso, por colocar Jennifer Connelly como 7 e John C. Reilly no papel de 5, uma espécie de leão covarde de O Mágico de Oz. Outra citação, agora direta, ao clássico filme de 1939 acontece com a inclusão da bela música Somewhere Over the Rainbow, interpretada por Judy Garland, naquele que é um dos melhores momentos da animação.
Ainda em relação ao curta, uma de suas melhores características felizmente não se perde em 9 - A Salvação, que está em seu visual rebuscado e bastante original que lembra até mesmo um filme em stop motion. Fica claro o interesse de Tim Burton na animação por ser perceptível no trabalho de Acker elementos característicos de filmes do diretor, começando pela visão dark e bastante particular empregada na construção de um universo próprio e, principalmente, no design de seus personagens.
Ainda que contribua com o segmento de filmes animados, 9 - A Salvação tem um sério problema que afetará a experiência de qualquer espectador que assista primeiramente ao curta no qual é baseado: ser um longa-metragem menos eficaz que um filme de apenas 10 minutos.
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