Consegue cativar, mas não traz nada de novo ao gênero.
(500) Dias Com Ela embarca na onda do cinema americano pop independente, aquele que faz de tudo para parecer descolado e fora do mainstream, mas à custa de uma trilha sonora recheada, personagens simpáticos (mesmo quando postos como antagonistas ou anti-heróis), e sem um aprofundamento maior em suas atitudes.
É óbvia a inspiração de Marc Webb em Woody Allen. O diretor estreante, oriundo dos videoclipes, bebe da fonte que Noivo Neurótico, Noiva Nervosa lançou lá em 1977: a história de um casal meio estranho, com seus altos e baixos, contada de forma não linear, a ponto de misturar várias lembranças e sentimentos do protagonista em relação ao seu objeto afetivo. Em ambos os casos eles são alter-egos dos roteiristas – aqui, Scott Neustadter que assina o filme ao lado de Michael Webber.
O grande problema do filme é que o diretor não parece saber exatamente pra onde conduzir a história e seus personagens. A narração só atrapalha e nos afasta do drama vivido ali, e a contagem de dias se mostra inútil, já que não acrescenta em nosso envolvimento com o casal. Parece que é apenas para ficar evidente que o filme transita entre tempos diferentes, o que já é muito claro pela diferença de atitude das personagens.
Joseph Gordon-Lewitt apresenta mais uma interpretação ótima, como um personagem sem nada de especial, e que por isso é tão identificável em sua busca de quem acredita ser o amor de sua vida, que por sua vez tem uma perspectiva muito diferente da situação. A grande cena do filme, aliás, é aquela em que Webb consegue compor muito bem os dois quadros de uma mesma cena, a partir do que a personagem esperava e o que realmente aconteceu. Já Zooey Deschanel fica presa em uma personagem sem muita verossimilhança, parecendo apenas alguém muito interessante e que, justamente por esta qualidade, faz questão de se distanciar de seu parceiro, causando todos os conflitos no filme.
O longa-metragem ainda tem outros problemas, como personagens coadjuvantes caricatos, a trama quase sempre cair em chavões, e um final meio complicado e que talvez vá totalmente contra o desenrolar do filme. Mesmo que ainda tente fazer uma ligação com A Primeira Noite de um Homem, que o casal protagonista assiste no cinema e faz a cena mais bonita, desde um belo uso de “Bookends” de Simon e Garfunkel até à reação distinta dos dois ao final da sessão.
Mas mesmo sem sair da vala comum de comédias independentes americanas, (500) Dias com Ela ainda consegue ter um protagonista simpático, e uma história que tem o poder de cativar, mesmo não adicionando nada no gênero.
Não passa de mais um produto pop, absolutamente comum no gênero.