O TEMPO EM NADA AJUDOU UMA SÉRIE QUE MOSTROU SEU CANSAÇO, ASSIM COMO SEUS IDEALIZADORES
Sinbad e o Olho do Tigre (Sinbad Against the Eye of the Tiger, 1977), de Sam Wanamaker, é um filme especial para mim, por muitos motivos. Foi o primeiro filme do personagem que assisti, ainda bem criança, e fiquei fascinado com as aventuras recheadas de belas mulheres, monstros ferozes e feiticeiros e bruxas maléficas. Foi importante também, por me fazer ir atrás e conhecer outras obras relacionadas ao personagem, como livros, desenhos e gibis. Também foi importante por ser o filme pelo qual eu conheci o trabalho da dupla Charles H. Schneer e Ray Harryhauser, responsáveis por outros filmes do personagem. Também foi com Sinbad e o Olho do Tigre que reparei pela primeira vez o contraste entre os atores e o chroma key. Também foi este o primeiro filme em que eu reparei nos detalhes que hoje observo em um filme, pois foi a primeira vez em que ao rever um filme ainda criança, mudei minha opinião sobre o mesmo.
Talvez Sinbad e o Olho do Tigre seja o filme mais conhecido do personagem (talvez), e é sim um filme bem razoável. Mas é nitidamente aquele com o maior número de problemas e o que mais sofre os reflexos de seus antecessores, além de ser aquele com o roteiro mais fraco e o filme menos inspirado da dupla Schneer/Harryhauser. A aventura, a fantasia e todo aquele charme em torno do personagem e suas viagens continuam presentes e muito fortes, mas a narrativa e a produção prejudicam todo o resultado final e fazem do filme uma experiência até divertida, porém maçante e cansativa de mais.
Nesta nova aventura, Sinbad (Patrick Wayne) chega à cidade de Sharak para visitar seu amigo Kassim (Damien Thomas), que está para se tornar Kalifa, e sua irmã, a princesa Farah (Jane Seymour), à quem Sinbad pretende pedir a mão em casamento. Porém, uma força misteriosa transforma Kassim em babuíno na noite de sua coroação. Se Kassim não retornar à sua forma humana até a sétima lua cheia, perderá o direito ao trono, cedendo lugar à Rafi (Kurt Christian, que havia interpretado Haroun no filme de 1973), filho da feiticeira Zenobia (Margaret Whiting), madrasta de Kassim e Farah. Obstinado em salvar seu amigo, Sinbad vai ao encontro do mítico Melanthius (Patrick Troughton), um sábio grego que pode reverter o feitiço. Melanthius e sua bela filha Dione (Taryn Power), partem junto de Sinbad e Farah aos confins do mundo para salvarem Kassim, seguidos de perto por Zenobia e Rafi e seu servo construto Minaton, um minotauro de bronze.
Os problemas do filme residem, essencialmente, em dois pontos cruciais: roteiro e produção. O primeiro, apresenta as piores soluções possíveis para todas as situações encontradas e vividas pelos personagens. Por exemplo, são "nossos heróis" (como diria um certo apresentador de reality shows que se julga intelectual) quem fornecem aos vilões todas as informações de que eles precisam. Para onde vão, quem ou o que eles procuram, de que maneira eles irão e como irão fazer o que devem fazer. Todas estas respostas saem das bocas dos mocinhos em conversas desastrosas com os vilões. A bobinha da princesa Farah até dá para perdoar, dada sua imensa ingenuidade, mas o tão sábio Melanthius entrar nessa....já é um pouquinho demais. Assim como certas contradições dos próprios personagens. Em determinado momento, Melanthius diz que é melhor manter Kassim trancado em sua jaula o resto da viagem, por segurança. Mas na cena seguinte ele é visto livre no convés jogando xadrez com o próprio Melanthius!!!
Novamente as personagens femininas do filme não possuem função alguma na trama, a não ser pagar peitinho na cena do riacho, quando o troglodita aparece. E a fórmula do filme já se mostra bem cansativa neste capítulo. O vilão é sempre um feiticeiro que navega atrás de Sinbad, que enfrenta e vence todos os perigos até chegarem no local sagrado onde duas criaturas bestiais travarão um duelo mortal antes do desabamento deste local e, milagrosamente, todos retornarão ao ponto de partida em velocidade recorde, já que chegaram em seu destino "em cima do laço" (como SInbad conseguir retornar à Sharak é um mistério, já que chegaram ao santuário após a quarta lua cheia). Este formato se repetiu demais dentro da série e isso refletiu aqui. Por este motivo - mas não só por este - o filme aparenta ser bem mais longo do que realmente é, fazendo com que a expectativa torne-se tortura.
Para piorar, este é sem dúvidas o pior trabalho do produtor Charles H. Schneer, que comete falhas técnicas primordiais, como o péssimo uso do chroma key, saliente em todas as cenas. Terrível!!! O contraste é pior do que em alguns episódios do Chapolin Colorado, só para se ter uma noção. Sem falar nos acessórios. O broche de Zenobia, por exemplo, aparece e desaparece ao mais simples corte, e o tapa-olho de Zabid que passa do olho direito para o esquerdo por mais de uma vez!!! Desleixo total do senhor Schneer. O trabalho de Harryhausen também é muito ruim, por apresentar uma significativa piora nos movimentos dos bonecos em stop-motion em comparação com os filmes anteriores. O melhor (ou pior) exemplo disto é o babuíno Kassim. Sua movimentação é horrorosa e artificial demais. A clássica morsa gigante e o troglodita estão um pouco melhores, mas o Tigre-Dentes-de-Sabre (assim como o babuíno) também decepciona, principalmente no confronto entre os dois.
A proximidade com os anos 80 também não colabora muito com o filme, deixando-o colorido demais. A capa de Sinbad é verde, o turbante é rosa, a camisa vermelha e a calça um tom indefinido de amarelo. Uma verdadeira alegoria carnavalesca. Não que uma corzinha aqui e outra ali não façam um certo bem ao filme, mas em demasia torna-se uma poluição visual que nada mais faz do que incomodar aos olhos.
O que se salva mesmo no filme são as criaturas. O troglodita, a morsa gigante, a abelha gigante, o Tigre-Dentes-de-Sabre e os demônios enfrentados por Sinbad em sua chegada em Sharak são muito bem criados (embora pessimamente animados) e instigam aquela sensação aventureira da qual estes filmes tanto necessitam. Pena que o roteiro não conseguiu aproveitá-los melhor do que colocando-os em mais um embate entre duas feras. Esse desfecho, repetido muitas vezes dentro série, tornou-se muito cansativo e com aquele ar de dejá-vu, tirando completamente a graça do clímax.
Com um final mais do que apressado, cortando da luta final direto para a coração de Kassim já com os créditos finais na tela, Sinbad e o Olho do Tigre fica muito à quem do que tinha em mãos. Não que tivesse potencial para ser outro clássico da dupla Schneer/Harryhauser, mas esperava-se um filme bom, pelo menos. Pecou na preparação, no desenvolvimento e na conclusão. Em suma, pecou em se dizer Sinbad.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário