Em 2022 foi lançado o filme Terrifier (Aterrorizante aqui no Brasil), e o lançamento do filme fez voltar à tona um assunto já esquecido: o medo de palhaços.
É difícil saber como essas criaturas caricatas e cômicas se tornaram tão assustadoras para o cinema; e é aí o ponto em que entra Stephen King com a novela de mais de 1100 páginas A Coisa (IT - numa tradução literal seria Aquilo).
King se perguntou: "o que assusta mais uma criança?" e veio a resposta: "palhaço" e é aqui que entra o palhaço mais amaldiçoado da história: Pennywise, o palhaço dançarino.
Em IT temos 7 amigos que vivem na cidade de Derry, as sete têm seus problemas, dramas, pendores e traumas que são muito bem explorados no livro e todas as sete precisam enfrentar cada um desses problemas encorporada num palhaço alienígena que se alimenta de criança e de seus us medos.
Mas é um pouco óbvio que trazer tudo o que ocorre num livro enorme como IT seria impossível em 3 horas, e daí vem uma coisa chamada adaptação, então nasceu a idéia de trazer a história de 1986 para os cinem... não.... para a televisão numa minissérie em 2 capítulo que foi ao ar em 18 e 20 de Novembro de 1990 dirigida por Tommy Lee Wallace... mas... eles conseguiram fazer um bom trabalho?
A resposta é simples, sim e não.
A minissérie tenta ao máximo extrair a essência do livro e se manter fiel, mas infelizmente foi em alguns momentos essa fidelidade que atrapalhou um pouco; Stephen King utilizou muitos flashbacks no livro, mas em um livro King pode utilizar recursos que no cinema não são concebiveis, os flashbacks de It (1990) são muito bem utilizados e colocados nos momentos certos, mas não foram os flashbacks o defeito dessa produção.
No decorrer dos primeiros 94 minutos de produção vamos "conhecer" as sete crianças, as quais vamos nos "aprofundar" em suas vidas, mas ao invés de termos "aprofundamento" e "conhecimento" só vemos crianças que conhecem outras crianças, viram amigas, e enfrentam um palhaço maníaco; mas até aqui tudo bem, a produção neste momento se desenvolve bem e embora passe por cima de pontos importantes do livro provocando assim buracos no caminho ela consegue se manter firme; enquanto o livro temos um aprofundamento nos dramas pessoais aqui temos uma simples caça ao mostro.
Depois de uma empolgante primeira parte chegamos a segunda, os adultos voltam a Derry e se deparam com Pennywise; cada aparição dele é excepcional mas infelizmente nesta parte do filme elas são mais corridas; o que é uma pena já que o elenco adulto cansa nossa paciência.
Daí temos o final, que é uma mistura de uma aranha de CGI ruim com stop-motion mal-movimentado (resultado = catastrófico e tosco).
Mas IT: Uma obra-prima do medo é péssimo, horrível, horroroso, tosco como dizem por aí? Não, não é, It é simplesmente uma produção ruim, ela tem umas atuações caricatas, momentos cansativos, etc, mas particularmente não cansa, é uma produção que é possível assisti-la do início ao fim sem complicações, passado o final tosco temos um momento que compensa as cenas toscas anteriores, um momento bem bonito em que Bill salva sua mulher do estado catatônico em que estava.
Eu não me cansei enquanto assistia a esta produção que por mais ruim que seja, entrega um entretenimento interessante de ver.
Mas claro que ela não sobreviveria se não houvesse um actor competente para interpretar o demoníaco Pennywise... e aqui é que entra o actor Tim Curry, Curry aqui se soltou por completo e nós entrega não só um palhaço assassino de crianças, mas um ser diabólicos, um personagem que se diverte de suas maldades, um Pennywise que a cada momento parece mais escarnecedor e zombeteiro, basta uma risada dele para arrepiar, Curry aparece em cenas curtas mas precisas e boas demais; talvez o mais assustador em Curry aqui seja a sua diversão, o facto de achar divertido o medo, a angústia, as dores de suas vítimas, de se animar em causar pavor, ele ri de seu medo, de seu drama e tem prazer em piorá-lo ao máximo, mas infelizmente para Curry, se houvesse um aprofundamento maior nos outros personagens, talvez Curry teria feito algo mais grandioso no Pennywise; eu sempre tive medo de ralos, não gosto de chegar muito perto desses escoadores, e quando me deparo no palhaço simplesmente saído do ralo do banheiro me traumatizou.
E é justamente Curry, o vilão da trama, que merece todas as nossas palmas, ele simplesmente criou um dos mais emblemáticos e pavorosos vilões do cinema dentro de uma produção ruim,Curry criou o mais demoníaco palhaço do cinema brincando!
Mas claro que mesmo tendo um palhaço tão emblemático, IT merecia algo melhor, King merecia; e em 2017 saiu IT: A Coisa e em 2019 IT: Capítulo dois, melhor desenvolvidos e mais explorados se comparados a versão original (embora It 2019 seja tão ruim quanto a versão original, se bem que pelo menos em It 1990 eu NÃO dormi umas três vezes enquanto assistia); nestas versões recentes temos um palhaço mais sombrio, já que não seria possível criar um palhaço tão icônico quanto Curry, e embora Bill Skasgård crie um palhaço assustador e maravilhosamente pavoroso, Curry me marcou mais, quando assistir essa versão clássica pela primeira vez, em Outubro de 2022, me interessei mais pelas obras de King, e Curry me deu mais medo que Skasgård, não sei o porquê...
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