[Filme segue (até demais) a cartilha da nova safra de thrillers de espionagem]
Quando lançou Corra, Lola ,Corra em 1998, Tom Tykwer fez um estardalhaço na Alemanha. A boa receptividade do filme elevou a moral do cineasta que pintava como boa promessa no cinema. Mais ou menos como o Luc Besson nos primeiros anos de carreira. Na seqüência vieram seus outros filmes, razoáveis o suficiente para empalidecer as expectativas em torno do diretor – inclui-se aí sua tímida colaboração em Paris, Eu Te Amo. Com a competente adaptação de Perfume, em 2007, o diretor deu uma revigorada na sua reputação. Se não era a tábua da salvação que pintavam, ao menos ele provou que é capaz de entregar um projeto bem acabado sem grandes pretensões, mas acima da média. É o caso de Trama Internacional, seu novo trabalho, que entra em cartaz essa semana no Brasil.
Na esteira de Syriana e Conduta de Risco, o filme é mais um daqueles thrillers de espionagem às voltas com o mundo dos negócios. Assim como nos filmes estrelados por George Clooney, todos os males do terrorismo, das revoluções armadas e dos golpes de Estado que ocorrem no terceiro mundo possuem o dedo sujo de alguma grande corporação. Outra semelhança é que em ambas as produções existe alguém disposto a sacrificar suas tripas para salvar a humanidade da ganância dessas instituições. A diferença é que no longa de Tykwer sai as empresas de petróleo e entra uma instituição bancária: o banco IBBC. Sai George Clooney e entra Clive Owen: o agente da Interpol, Louis Salinger.
Sem o mesmo charme com que Clooney combate o crime, o personagem de Owen faz o tipo obstinado, que de tão desacreditado e pequeno frente ao inimigo que combate, torna-se paranóico. Com um passado traumático na Scotland Yard, ele passa a reviver velhos fantasmas com a morte de seu colega, durante uma investigação ao banco IBBC. Chefiada pelo burocrata Jonas Skarssen (o sub-aproveitado Ulrich Thomsen), a instituição bancária está atrelada à lavagem de dinheiro para narcotraficantes e ao comércio de armas a milícias armadas na África e Oriente Médio. Pesa também a acusação de assassinatos a políticos, empresários, informantes e investigadores que se insurgem contra a empresa.
Acobertado por chefes de polícia, o IBBC possui uma ramificação de “consultores” responsáveis pela queima de arquivo dos seus desafetos. Trata-se de criminosos sofisticados, que se encontram em galerias de arte. Com o apoio da promotora de justiça Eleanor ( Naomi Watts, em atuação apagada), Salinger consegue aproximar-se de um deles, mas terá que enfrentar sérios dilemas para conseguir incriminar o banco.
Como todo bom thriller de espionagem, Trama Internacional possui uma trama afiada, que dosa com sobriedade as tensões e os quebra-cabeças do roteiro escrito pelo estreante Eric Singer. As reviravoltas, os jogos duplos, as escalas internacionais e os trâmites investigativos não embolam em nenhum momento a compreensão do espectador. Um grande mérito, diga-se de passagem. O momento mais movimentado do filme acontece no tiroteio no Museu Guggenheim, em Nova York, numa bela seqüência de ação, que se não barbariza pelo virtuosismo, ao menos não força a barra.
O que de fato faltou a Tom Tykwer foi colocar uma assinatura à produção. Talvez ele até tenha tentado empregar sua marca pessoal, mas o que se vê é um filme eqüilátero, que atende a todos os requisitos do padrão 5s dos estúdios. Por mais instigante que seja o enredo de espionagem, outra coisa que fugiu ao talento do diretor foi driblar os estereótipos e chavões do filme. Personagens caricatos – o bancário ganancioso, o agente devotado, o comunista orgulhoso e arrependido - e frases de efeito requentadas ( “se eu sair, têm milhares de bancários na fila”) diminuem o brilho, mas não retiram a grandeza desse belo trabalho, longe de ser decepcionante.
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