Existem muitas maneiras de qualificar Fim dos Tempos. Um filme ruim, talvez. Um bom filme, um tanto mal-interpretado, cujo tempo lha trará a devida importância. Ou simplesmente, o oitavo longa-metragem de M. Night Shyamalan.
Há cinco anos atrás, um trabalho com a assinatura do diretor indiano causava impacto no espectador já nos créditos iniciais. Aliás, poucos diretores têm um nome que ressoa tão enigmático quanto M. Night Shyamalan. Na esteira de Sexto Sentido, ele encabeçou outros dois grandes filmes que solidificaram instantaneamente sua reputação.
A partir de 2004, no entanto, sua curva ascendente obtida com Sinais e Corpo Fechado tomou o rumo do abismo com A Vila. Era para ser um filme de transição, diferenciado em forma; pela mudança na dinâmica de seus suspenses, e em conteúdo; na qual a temática da religiosidade vai para o segundo plano.
Mesmo superior a Sinais, o filme fracassou nas bilheterias e recebeu animosidades de boa parte da crítica. Mas nada comparado com a receptividade de Fim dos Tempos. À luz do que já foi dito, não seria exagero dizer que Shyamalan perdeu suas credenciais de grande cineasta e passa a ser visto agora como um realizador de talento questionável.
Na verdade, não é bem assim. Fim dos tempos pode até ser um filme-catástrofe, mas seu resultado não chega a ser catastrófico. Abaixo da média, é verdade, mas um degrau acima da mediocridade, muito embora haja algo de proposital nisso tudo. Como manda o script desse tipo de produção, o professor de Ciências Elliot Moore (Mark Wahlberg) e sua esposa Alma (Zooey Deschanel) atravessam uma crise conjugal. Elliot é conservador e prefere manter o casamento mesmo que todos os indícios apontem para a infidelidade de sua mulher. Alma ,por sua vez, é impulsiva mas não sabe que decisão tomar.
Durante as desavenças, o casal terá que transcender as fragilidades para sobreviver a um ataque contra a humanidade. Trata-se de uma ameaça invisível, mais especificamente uma toxina que faz as pessoas entrarem numa espécie de transe e se suicidarem. No começo todos pensam que se trata de uma ameaça terrorista já que os primeiros incidentes acontecem em Nova Iorque, no Central Park. Logo surge a possibilidade de que fenômeno e liberado pelas plantas que se comunicam entre si e fazem o veneno se alastrar através do vento. Resumindo: o vilão da história é o vento norte.
Na companhia do professor de matemática Julian (John Leguizano) e sua filha Jess (Ashlyn Sanchez), o casal segue para a Pensylvania onde não há indícios do ataque. A partir daí, o filme que já tinha uma faceta bem canastra começa piorar gradativamente. Com frases previsíveis, personagens rasos e subtramas palhosas, o filme parece movido por uma tacanha preguiça mental, onde a única mensagem evidente é a fúria da natureza com a humanidade.
Soma-se isso ao abuso da violência e da superficialidade da trama e não se sabe qual é a do Shyamalan: se ele queria ser auto-indulgente, politicamente correto ou apenas zoar com o espectador. Portanto não pode ser descartada a hipótese da criação propositada de um filme B.
Só desse modo daria para explicar performances tão canhestras como as de Mark Wahlberg e Zooey Deschanel. A cara amassada do protagonista e os constantes close-ups no belo olho azul de Zooey não surtem efeito dramático, em compensação, parece que não há uma ambição real pra que isso aconteça. A própria direção de Shyamalan se inclina para esse fim. Nunca dantes sua narrativa esteve tão didática e jamais seus enquadramentos foram tão previsíveis.
Mesmo que talvez a idéia do diretor tenha sido criar um pastiche desencanado dos filmes-catástrofe com o que eles têm de pior, o filme também ostenta algumas de suas virtudes. Shyamalan sabe ser climático como ninguém e executa bem seus habituais mecanismos de tensão em determinadas seqüências do filme.
O modo operístico como ele manipula trilha e edição de som rende bons momentos de suspense, como na introdução, por exemplo, quando inicia a onda de suicídios e lá pela metade quando Wahlberg ouve um cara pra lá de esquisito teorizar sobre as formas de comunicação entre as plantas - e que talvez seja o personagem mais marcante do filme.
Fim dos Tempos pode até ser uma frustração para Shyamalan em relação a si mesmo, mas ainda assim, não é totalmente descartável. Desde que abdicou de suas primeiras idéias e temáticas, o diretor só tem piorado sua carreira bem como seu relacionamento com público-crítica. Não será melhor para ele voltar às velhas fórmulas?
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