O que levar em consideração na hora de avaliar uma produção cinematográfica? Claro que vários fatores pesam, talvez nenhum mais que o repertório cultural particular de cada indivíduo. Mas trago à discussão dois fatores essenciais. O primeiro fator é referente à qualidade técnica, envolvendo atuação do elenco, direção, fotografia, trilha sonora e outros itens que são alvo de premiações como Oscar, Cannes, Globo de Ouro e afins. O segundo fator é mais particularmente inerente ao roteiro, o conteúdo, a essência da película. Já disse Gracián em sua Arte da Prudência: “Algumas casas tem frente de palácio e interior de joça.” Algumas produções com excelência em qualidade técnica são pobres de conteúdo, porém, o efeito refresca-cuca os leva ao sucesso, não pela crítica especializada que os massacra, mas pelos espectadores. Diabo, não é todo dia que você tem paciência para pensar na frente da Tv. Outras obras aprofundam e exploram um conteúdo rico em vários aspectos, mas esquecem o fator entretenimento, resultando em uma narrativa densa e pouco atraente à primeira vista. Às vezes, até difícil de compreender, dando brecha às interpretações de psicólogos, filósofos e sociólogos que fazem você se sentir um leigo.
Mirian e John Blaylock (Catherine Deneuve e David Bowie) são um casal de vampiros vivendo em Nova Iorque. Assassinos imortais. Ao menos John achava que viveria para sempre, como prometeu sua consorte Mirian, quando o transformou. Subitamente, ele não consegue mais dormir e é acometido por um processo acelerado de degeneração. A Dra. Sarah Roberts realiza pesquisas sobre combate ao envelhecimento como doença, o que atrai a atenção de John e a leva a se envolver com o estranho casal.
Em resumo, o filme é bom. Primeiro longa de Tony Scott, e único de sua carreira com elementos sobrenaturais. Depois viria com Top Gun. Baseado em livro de Whitley Strieber, e esse sim tinha algo a acrescentar ao mito dos vampiros. Dessa vez, eles não precisam se esconder da luz do sol, não se transformam em morcegos ou possuem caninos pontiagudos, embora possam mordam um pouco mais forte que os humanos quando exageram no sexo. Cortam os pescoços das vítimas com pequenas facas e cremam os corpos em uma fornalha em sua própria casa, um apartamento que agradaria muito Drácula. Mas o foco não está nos assassinatos. Está no preço que se paga pela vida eterna. O aparente vazio dos personagens principais é refletido no filme em si. Garanto que quando você souber o que acontece com os amantes da vampira Mirian, vai achar melhor se tornar só mais um saco de suco para ela. Talvez menos sangrento que o esperado, mas mais filosófico que o comum para o subgênero, Fome de Viver é um filme daqueles em que o conteúdo é mais importante que o entretenimento em si. Surpreende e decepciona ao mesmo tempo. Surpreende em uma cena erótica entre as atrizes Catherine Deneuve e Susan Sarandon, e continua a surpreender à medida que o espectador vai percebendo como cada detalhe foi planejado.
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