O filme Pulse (Kairo, 2001), do diretor Kiyoushi Kurosawa aborda, de forma aterrorizantemente metafórica, sobre a liquidez das relações no mundo globalizado. Aqui, o diretor parte de uma simples premissa: uma série de suicídios acontece e todos eles ocasionados por fantasmas que surgem misteriosamente de uma página da internet. Mas, o que estaria por trás dessas mortes?
Ao tentar responder tal questionamento chego à conclusão de que soa simplista tentar encontrar respostas para os enigmas apresentados em Pulse. Na verdade, Kurosawa não tem nenhuma pretensão em desvendar os mistérios que rondam seu longa-metragem, mas (talvez), seu verdadeiro intuito aqui é propiciar ao/a espectador/a reflexões oportunas sobre como a internet pode afastar as pessoas do convívio social e isso é claramente evidenciado numa cena, já durante os minutos finais do filme, em que a professora de informática Harue (Koyuki), no auge de sua loucura, liga todas as telas de computadores de sua casa e mostra a Ryosuke (Haruhiko Katô) “fantasmas” conectados à internet.
O enredo de Pulse é ágil e extremamente assustador. Nas cenas em que os fantasmas atacam as suas vítimas ouvimos uma excelente trilha sonora que torna o clima de terror ainda mais apavorante. Cabe destacar também a cena em que a cidade é mostrada e as ruas estão desertas. Poucas pessoas transitam por ali e todas elas estão em busca de um local apropriado para suicidarem. Em outro momento acompanhamos personagens simplesmente desaparecerem!
Por fim, é possível classificar o filme Pulse como um apocalipse fantasma. Se em o Despertar do Mortos (Dawn of the Dead, 1978), George Romero apresentava o apocalipse zumbi, tecendo uma severa crítica ao consumismo a partir das figuras alegóricas representadas por zumbis carnívoros presos dentro de um shopping center, em Pulse, Kiyoushi Kurosawa revela o seu apocalipse a partir de uma visão altamente desesperançosa sobre os avanços de uma era que está cada vez mais conectada à internet. Ao final do filme surge a seguinte questão: diante de todas as facilidades, comodidades e prazeres propiciados pela rede seríamos nós, consumidores ferozes, as fantasmagóricas figuras exibidas no longa?
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário