"Quando falamos em transformação, esta é a matéria da arte: transformar o material em ideia". (Vik Muniz)
O documentário Lixo Extraordinário (Lixo Extraordinário, 2009) narra-nos a trajetória do artista plástico Vik Muniz em busca de novas obras-primas para a sua carreira: transformar lixo em obra de arte. Para conseguir este feito, ele deve passar dois anos no lixão de Gramacho, zona periférica do Rio de Janeiro, o maior depósito de lixo do mundo.
Para dar início aos trabalhos, Vik começa a explorar como é o lixão, quem são seus/suas moradores/as e como é a vida de cada um/a deles/as. Segundo Santos (2006, p.26) "explorar é a primeira aproximação de um tema". A priori fica totalmente perceptível a estranheza de Vik ao adentrar esse mundo completamente "diferente" do dele.
Aproximando-se dos/as catadores/as de lixo, o artista plástico procura saber sobre suas histórias de vida. É nesse ínterim que ele conhece Tião, um dos moradores de Gramacho e líder da Associação de Catadores de Lixo. Sua história de luta em prol do lixão emociona Vik.
Muniz, após conhecer vários sujeitos desse lixão, os fotografa. É a partir dessas fotografias que belíssimas obras de arte nascerão. Um dos intuitos de Vik é fazer com esses/as moradores/as de Gramacho não sejam vistos/as, como assevera Bauman (1998, p. 14) como "o oposto da 'pureza' - o sujo, o imundo, os 'agentes poluidores' - são coisas fora do lugar", mas que eles/as passem a ser notados/as pela sociedade.
Muniz iniciou sua pesquisa em Gramacho no ano de 2007, findando-a em 2009. Sendo assim, é correto afirmar que ele, ao adentrar na vida, nos costumes, na cultura e também conviver com os/as habitantes desse lugar, fez uma pesquisa de cunho etnográfico. Ele explorou, descreveu, explicou, fez estudos de casos, em suma: fez de Gramacho o seu instrumento de pesquisa, com o intuito de transformar o lixo em obra de arte - a exposição Retratos de um Lixo.
Com esse trabalho, Vik conseguiu o objetivo de dar notoriedade ao povo gramachiano, que antes era tão ignorado pela sociedade. Para Zamboni (1998) a arte pode constituir-se num importante veículo de conhecimento humano, já que podemos extrair dela uma maior compreensão da experiência humana e dos seus valores.
A vida dos/as catadores/as de lixo mudou drasticamente após a pesquisa de Muniz. Muitos/as abandonaram o lixão e foram em busca de uma vida melhor. Bauman (1998, p.20) afirma que "o cuidado com a ordem significou a introdução de uma nova ordem[...] construindo, por assim dizer, um novo começo".
A exposição Retratos de um Lixo foi uma das mais vistas da história, perdendo apenas para umas das exposições de Picasso. Além disso, Vik arrecadou mais de 250 milhões de dólares em todo o mundo.
"Noventa e nove não é cem" (Seu Valter)
Referências:
BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da pós-modernidade. Tradução de Mauro Gama e Cláudio Matinelli Gama. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. Ed., 1998.
ZAMBONI, Silvio. A pesquisa em Arte: um paralelo entre arte e ciência. Campinas. Autores Associados. 1998
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