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Coleção Expressionismo Alemão

A distribuidora Obras-Primas do Cinema lançou neste mês uma nova coleção temática, voltada para filmes da era do expressionismo alemão. É o primeiro box deles que tem como tema um período/escola do cinema e a seleção é bastante diversificada entre títulos conhecidos e outros mais esquecidos. Expressionismo Alemão reúne em três DVDs um total de 5 filmes, o que inclui mais de duas horas de extras. Há também cards que reproduzem a arte original dos pôsteres. 

O expressionismo alemão foi um movimento popular nos anos 1920, muito influente para o cinema, sendo a gênese de outros movimentos, como o filme noir americano. Sua estética particular de cenários distorcidos, grandes contrastes de sombras e luzes e maquiagem saliente foi usada para retratar um mundo de acordo com o ponto de vista de seus criadores. Tendo como pano de fundo uma Alemanha pós-Primeira Guerra, e na iminência da ascensão do fascismo, esses filmes tinham um tom pessimista e sombrio. Era um cinema que permitia que a fantasia se sobrepusesse à realidade e ao racionalismo e abria espaço para a expressão do caráter psicológico e emocional dos seus realizadores, que abusavam de histórias povoadas por monstros, vampiros, castelos assombrados, personagens dúbios e finais tristes. Nesse meio despontaram alguns gênios como F.W. Murnau e Fritz Lang. 


Vamos conhecer a seguir um pouco dessa seleção, por ordem cronológica:

O Gabinete do Dr. Caligari (Robert Wiene, 1920)

O mais simbólico e representativo filme do expressionismo alemão, essa história sobre um médico funesto que hipnotiza e adormece um homem por mais de duas décadas reúne em si todas as principais características do movimento: a loucura dos personagens se reflete em cenários assimétricos, a fotografia e o jogo de luzes revelam as nuances das personalidades de cada um e as conclusões são das mais sombrias. Nos créditos da coleção, há um documentário inédito, intitulado “From Caligari to Hitler”, que explica um pouco do impacto social do movimento a partir desse filme e durante os anos da República de Weimar, até 1933 com a ascensão nazista. 

A Morte Cansada (Fritz Lang, 1921)

Estruturado como um poema de seis partes dividido por intertítulos, essa pessimista obra do mestre Lang personifica a Morte como um personagem que perambula pelas ruas de um antigo vilarejo ceifando vidas inocentes e construindo para si um muro gigante em torno de um cemitério. Não exatamente uma vilã, a Morte é uma personagem fatigada de seu propósito e sem esperanças com respeito aos desígnios divinos e as injustiças sociais. Em seu contrapeso, há uma mocinha que acredita que o amor é mais forte do que a Morte e que firma um pacto em troca da vida de seu noivo. Os cenários mais sóbrios e bucólicos do filme, a princípio muito realistas, vão aos poucos dando espaço para uma dimensão espiritual e noturna que se estende por ele como uma mortalha. É um dos trabalhos mais amargos do mestre. 

O Castelo de Vogelöd (F.W. Murnau, 1921)

Dentro do movimento expressionista, os cenários eram de suma importância para o resultado final, pois refletiam o estado psicológico e emocional dos personagens que os habitavam. Em O Castelo de Vogelöd, Murnau dá uma importância ainda maior aos cenários ao explorar um mosaico labiríntico de cômodos, saletas, escadarias, vitrais, calabouços, que vão se revelando ou se ocultando conforme as luzes e sombras são projetadas, como se o castelo-título fosse um organismo vivo e funcional. Muito atmosférico e assustador, esse filme é uma aula de mise-èn-scene. 

Fausto (F.W. Murnau, 1926)

Último filme de Murnau na Alemanha, que depois se mudaria para os EUA e realizaria sua grande obra-prima, Aurora (Sunrise: A Song of Two Humans, 1927). Baseado na homônima obra de Goethe, Fausto é um dos maiores trabalhos expressionistas no que diz respeito ao uso dos contrastes de sombras e luzes. Assimilando a raiz poética livro, o filme reforça a ideia de um mundo influenciado por uma dimensão superior e maligna, na luta do homem entre o espiritual e o humano, e todas essas ideias são muito bem visualmente exploradas pelos contrastes de luzes e sombras, que reforçam as dualidades e ambiguidades da história. Dentro dessa concepção visual extraordinária, o Mefisto de Murnau é mais pura materialização do mal. 

A Caixa de Pandora (Georg Wilhem Pabst, 1929)

Um inusitado encontro do expressionismo alemão com a mitologia grega, esse exemplar do movimento traz uma protagonista forte e um claro endeusamento da atriz por parte do diretor, algo recorrente entre os cineastas alemães. Extremamente visual, todo o filme sobrevive apenas de suas sombras e trabalha ideia de uma protagonista amaldiçoada e engolida por um mundo de homens e de escuridão. Ao mesmo tempo, a própria heroína é maculada por essa atmosfera e acaba se mostrando uma personagem bastante dúbia e imprevisível. 


Com a ascensão do nazismo na Alemanha, muitos diretores do movimento expressionista acabaram mudando para outros países, em especial para os EUA, de modo que levaram consigo alguns conceitos e ideias e os mesclaram com as tradições de diferentes outras escolas mundo afora. Até hoje é possível enxergar essa influência em filmes modernos, o que só reforça a convicção de que foi um dos momentos mais ricos e influentes da história do cinema. 

O box Expressionismo Alemão já se encontra à venda e é item precioso para colecionadores. Não deixem de conferir!

Comentários (3)

Chcot Daeiou | quarta-feira, 07 de Junho de 2017 - 13:07

Muito bacana o trabalho dessa nova distribuidora, os dvds sempre vem com alguns extras interessantes.

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