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A trilogia Ang Lee


Duas vezes vencedor do Oscar de melhor diretor, por O Segredo de Brokeback Mountain (Brokeback Mountain, 2005) e As Aventuras de Pi (Life of Pi, 2012), Ang Lee é talvez o diretor estrangeiro de maior sucesso crítico e comercial em Hollywood atualmente. Embora há muito tempo fazendo filmes nos EUA, sempre conseguiu manter sua identidade e jamais se vendeu ao sistema. 

O interessante em sua carreira, no entanto, é que grande parte de seus maiores filmes é desconhecida pela maioria. Se ele foi colocado no mapa por sua sensível adaptação de Jane Austen em Razão e Sensibilidade (Sense and Sensibility, 1995) e alcançou o prestígio e reconhecimento geral com O Tigre e o Dragão (Wo Chu Cang Long, 2000), é em títulos menores como Tempestade de Gelo (The Ice Storm, 1997), Cavalgada com o Diabo (Ride With the Devil, 1999) e Desejo e Perigo (Se, Jie, 2007) que ele realmente brilha. 

Uma oportunidade única de conhecer esse lado menos popular de Lee está na coleção lançada pela Obras-Primas do Cinema, Trilogia Ang Lee, que reúne em dois DVDs os três primeiros longas-metragens do diretor. A bela trilogia, composta por A Arte de Viver (Tui Shou, 1992), O Banquete de Casamento (Hsi Yen, 1993) e Comer, Beber, Viver (Yin shi nan nu, 1994), é uma porta de entrada para se conhecer a fundo o primeiro cinema de um diretor muito talentoso e nem sempre reconhecido como merece. 

Os três filmes giram em torno dos contrastes entre as culturas ocidental e oriental e entre os conflitos de gerações entre pais e filhos. Em parte ambientados na America, tratam das dificuldades de adaptação de estrangeiros chineses e a luta da geração mais velha em preservar suas tradições e princípios, mesmo em território estrangeiro – enquanto a geração mais nova se permite influenciar e moldar pela cultura americana. Quase confessionais, os filmes mostram a visão de Lee como diretor oriental tentando a sorte em Hollywood e procurando equilibrar os costumes do cinema oriental com o ocidental, algo muito próximo do que Akira Kurosawa fez no passado. 

Em A Arte de Viver, Lee faz sua própria versão de Era uma vez em Tóquio (Tokyo Monogatari, 1953) ao contar a história de um senhor chinês já idoso que vai morar com o filho nos EUA, onde é recebido com desconfiança e incômodo pela nora americana. Logo se sentindo como um estorvo para a família, ele procura seu próprio destino e vaga a esmo por um país e por uma língua que não conhece. Já em O Banquete de Casamento, um jovem chinês gay que mora junto com seu companheiro americano há cinco anos, tem de encarar uma visita-surpresa de seus pais, que vieram da China dispostos a lhe arranjarem uma esposa e que não fazem ideia sobre sua orientação sexual. No ímpeto de se livrar logo dos pais, ele decide se casar com uma amiga apenas para manter as aparências. Em Comer, Beber, Viver, Lee narra crônicas cotidianas de uma grande família e seus dramas, brigas, risadas, companheirismo, decepções – sempre centralizados nos momentos sagrados das refeições, que unem todos os membros em algum momento do dia para trocar suas experiências. 

Nos extras da coleção, vários especiais que contextualizam o espectador das tradições orientais retratadas nos filmes, além de uma entrevista com Ang Lee e James Schamus, roteirista e produtor da maioria dos filmes de Lee, incluindo os da trilogia. Os três filmes nunca tinham saído em qualidade decente no Brasil e agora contam com imagem e som restaurados. A coleção se mostra assim um item indispensável para colecionadores e apaixonados pelo cinema de Lee. 

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