Um primeiro olhar sobre o 23º É Tudo Verdade
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Na imagem que ilustra o cartaz da 23ª edição do Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade, o mais importante evento do gênero no Brasil, temos a histórica foto de David Zingg sobre a Passeata dos Cem Mil, manifestação que reuniu milhares de pessoas no centro do Rio de Janeiro contra a Ditadura Militar há meio século atrás. Nada mais apropriado do que essa foto para registrar o cinquentenário de um dos eventos mais terríveis na história de nosso país, justamente em um momento em que a liberdade volta a correr sérios riscos. Os documentários são, por essência, a verdade. Eles confrontam a ficção, combatem as mentiras e apresentam resoluções claras em um mundo hoje tão polarizado em opiniões extremistas, que geralmente ofuscam a luz da verdade e inibem o diálogo sensato.
Na manhã desta terça-feira, 20, o idealizador e fundador do É Tudo Verdade, Amir Labaki, recebeu em uma coletiva de imprensa o diretor do Itaú Cultural, Eduardo Saron, e a gerente de ação cultural do SESC, Rosana Paulo de Cunha, para a abertura da nova edição do Festival. Foi discutida a importância e relevância do evento para o cinema nacional e o valor de se apreciar os documentários em todas suas esferas de temas e alcances sociais, de modo a se valorizar também a produção nacional. Dos 1600 inscritos, entre longas, médias e curtas-metragens, 120 foram brasileiros. A safra desse ano foi menor que nos anos anteriores, porém mais permeada por trabalhos fortes e incisivos e mais produções nacionais foram incluídas na competição internacional.
Em seguida, os títulos da seleção final foram divulgados um por um, divididos nas categorias Competição Brasileira: Longas ou Médias-Metragens, Competição Internacional: Longas ou Médias-Metragens, Competição Brasileira: Curtas-Metragens, Competição Internacional: Curtas-Metragens e Competição Latino-Americana. Além destes, há os filmes da Programação Especial, entre eles o aguardado O Processo (idem, 2017), de Maria Augusta Ramos, sobre os bastidores do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, aclamado no Festival de Berlim deste ano. A multipremiada documentarista americana Pamela Yates ganha uma retrospectiva de três de seus filmes mais importantes: Quando as Montanhas Tremem (When The Mountains Tremble, 1983), Granito (Granito: How to Nail a Dictador, 2011) e 500 Anos (500 Years, 2017).
Duas novidades foram anunciadas. A primeira é a programação on-line e gratuita no site do Itaú Cultural, com 5 documentários dirigidos por mulheres. Os cinco títulos estarão disponíveis para visualização entre 17 e 22 de abril. As diretoras contempladas já participaram em edições anteriores do É Tudo Verdade e fazem a diferença no cenário do cinema nacional. Aboio (Marília Rocha, 2004), Carmen Miranda, Banana is My Business (Helena Solberg, 2014), Dona Helena (Tatiana Toffoli, 2006), Domingos (Maria Ribeiro, 2008) e Os Melhores Anos de Nossas Vidas (Andrea Pasquini, 2003) formam a seleção. A segunda novidade é o projeto de itinerância para 5 cidades do interior de São Paulo, com a exibição de 5 a 7 filmes, a fim de expandir o alcance do Festival para fora do eixo dos grandes centros urbanos de Rio de Janeiro e São Paulo. As cidades e os filmes não foram revelados ainda.
Os filmes de abertura serão dois, um em São Paulo e outro no Rio de Janeiro. No dia 11 de Abril, na capital paulista, no Auditório do Ibirapuera, será exibido o filme Adoniran - Meu Nome é João Rubinato. Para os cariocas, o filme de abertura será Carvana, no dia 12 de abril, na Cinemateca do MAM. O Festival, no total, ocorrerá nas duas cidades entre os dias 11 e 22 de Abril, e sua programação completa, assim como as atividades paralelas, podem ser conferida aqui.
Ao fim da coletiva, foi exibido o filme Amarra Seu Arado a Uma Estrela (2017), de Carmem Guarini, sobre o diretor argentino Fernando Birri e o processo de criação do documentário que ele quis fazer sobre Che Guevara. Birri foi um dos mais importantes realizadores de seu país e faleceu em dezembro de 2017, aos 92 anos.
Em tempos de fake news e histerias coletivas alimentadas pelo imediatismo do mundo globalizado e interligado, eventos como o É Tudo Verdade trazem alento e esperança, não só pela bela tradição que mantém ao longo dos anos mesmo sob difíceis circunstâncias, mas principalmente pela luz que lança à voz de realizadores do mundo todo e suas histórias dissecadas a fundo, expostas em sua mais clara verdade. Que essas sejam apenas as primeiras 23 de muitas edições de uma iniciativa tão necessária e essencial para cinema mundial.
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