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Melhores Filmes de 2017

Em nossa já tradicional lista com os Melhores Filmes do Ano, a equipe Cineplayers se reuniu e cada um preparou um Top 10 com as estreias comerciais do ano, segundo a lista do Filme B. E o resultado foi bem interessante.

Muitos filmes remanescentes de 2016, chegando atrasados no Brasil principalmente após a época de premiações americanas, dominaram a lista. Porém, o grande vencedor foi mesmo do ano vigente.

Um outro detalhe: esse foi o último ano em que 'ignoramos' filmes lançados diretamente em VOD. Não dá para negar o avanço do sistema na vida dos cinéfilos. Sempre prezamos pelo equilíbrio de oportunidade entre todos e ficar só nas estreias do cinema fazia com que isso fosse o mais justo até então. Mas os tempos são outros e tudo evolui. Em 2018, nosso top irá aceitar esses outros lançamentos como parte de uma nova geração na cinefilia.

Regra básica: tendo estreado comercialmente no Brasil, cada editor relacionou em ordem de preferência dez filmes, cada um com um ponto vinculado à sua posição. Primeiro lugar, 50 pontos; décimo, 5 pontos. A soma total deu o resultado visto abaixo.

Sem mais delongas, vamos aos filmes selecionados?




10. John From, de  João Nicolau (130 pontos)

Se a capacidade consciente de fabular foi primeira e massivamente sistematizada pela literatura, Portugal foi – desde Manoel de Oliveira e possivelmente muito antes, porque o verdadeiro berço do cinema da península ainda nos é velado – e permanece com os louros de campeão, diga-se de passagem, numa potência no mínimo cinco vezes maior do que qualquer outra cinematografia – Costa, Gomes, Coelho, Monteiro, Villaverde, Canijo e Botelho seriam suficientes para acariciar o paladar –, e a iconoclastia de João Nicolau nesse John From (idem, 2015) é tornar a narrativa de enamoramento adolescente uma fábula propriamente teen e hitchcockiana: estabelece a proximidade entre a cultura pop e as garotas ao mesmo tempo em que o tédio fica imprensado no gosto pelo escape que vai se materializando nas inserções fantásticas dentro de territórios urbanos, fechados, asfixiantes. A luz sempre entra, os riscos passionais são tomados numa união recém-criada pelo visual: o fotógrafo e a menina que se apaixona por um olho. É bem isto o cinema de Portugal: apaixonar-se por olhos. Julia Palha e Leonor Silveira que o digam. - Felipe Leal



9. La La Land - Cantando Estações, de Damien Chazelle (135 pontos)

Mais que um musical, La La Land – Cantando Estações é um sonho de um musical, um desejo desesperado por trazer de volta um determinado cinema do gênero. A ansiedade do filme por recuperar uma certa magia estética perdida é compartilhada por seus personagens: a atriz Mia (Emma Stone, perfeita) e Sebastian (Ryan Gosling). Essas duas figuras anacrônicas vão correspondendo ao jogo de nostalgia do filme. Há muito que os três (Mia, Sebastian e o filme) desejam trazer de volta. E eles tentam, voraz e desesperadamente, até se depararem com a perda do objeto desejado e o duro fracasso da própria empreitada. O que move La La Land é o luto por um cinema perdido e irrecuperável. Aí está, acredito, a genialidade de um pastiche que deu errado, da imitação malfeita, da mistura de referências opostas e bem divergentes em um mesmo produto. O filme, a partir de seu fracasso imitativo, escancara a perda do objeto que deseja imitar. No número de abertura do filme, “Another Day of Sun”, Los Angeles é descrita como “Um mundo Technicolor feito de música e máquina”. É esse o desejo do filme e de seus personagens: viver dentro de um mundo em Technicolor, ainda que ele não seja mais concretamente possível. - Cesar Castanha



8. O Ornitólogo, de João Pedro Rodrigues (145 pontos)

João Pedro Rodrigues mais uma vez constrói a realidade a partir do choque com o onírico, ainda que esse fabular tenha mais aspecto de pesadelo que necessariamente sonho. Vindo de obras já maduras estética e narrativamente, João Pedro agora se permite incomodar e mesmo assim ter autorialidade e ser fiel a sua base. Em mais um momento de descoberta do humano, choca-se o profano e o religioso e extrai de mitos já tão reconhecidos na cultura cristã uma base para investigação muito particular sobre perda de identidade e ressurgimento a partir de novas e desconhecidas. Um mergulho sobre a ditadura da incompreensão entre os povos imposto desde sempre por governos através de guerras, o multiculturalismo apenas será possível quando escaparmos das cordas que o fanatismo de todas as ordens nos amarrou; quando novos rostos surgirem a partir do nosso, isso será encarado como um caminho natural do nosso processo evolutivo individual, a ser abraçado aos poucos até a naturalidade se fazer de novo presente. E aí sim, a partir desse novo eu, podermos ser livres sob todos os aspectos, em gênero, raça, opção sexual e fé. - Francisco Carbone



7. Bom Comportamento, de Benny Safdie e Josh Safdie (165 pontos)

Um filme que se derrama sobre sensações: berrante tanto visualmente quanto sonoramente, Bom Comportamento, trabalho dos irmãos Safdie, está recheado pelos excessos e é a partir dos excessos que, curiosamente, este filme consegue decolar. Apesar da necessidade geral de utilizar a relação entre dois irmãos como fio condutor, a natureza chapada e errante da narrativa faz com que os objetivos dos personagens andem separados de suas aspirações, levando o espectador a acompanhar uma bola de neve que se revela uma crescente comédia de erros. E a cidade de Nova Iorque termina por se revelar quase uma personagem à parte; aliás, talvez não apenas uma "personagem à parte", mas sim a verdadeira protagonista do que acompanhamos: entre muito neon e muito sintetizador, a selva de concreto é o único elemento plenamente ativo nas pouco mais de uma hora e quarenta entregues pelos Safdie. Por último, porém não menos importante, não podemos negligenciar o fato de que Robert Pattinson, ator esforçado que é, está muito bem, adicionando ao seu currículo mais uma borracha que visa apagar o seu passado como astro adolescente. - Victor Ramos



6. Manchester à Beira-Mar, de Kenneth Lonergan (180 pontos)

Manchester à Beira-Mar é um filme sobre cacos, pedaços que vão ficando pelo caminho e sobre a devastadora constatação de se estar apenas sobrevivendo, incompleto. Essa condição se reflete numa eficiente narrativa fragmentada, intercalada entre passado e presente, que vai aos poucos se afunilando até revelar o ponto de ruptura de Lee (e também de Randi), o momento em que foi partido em mil pedaços pela vida e do qual nunca conseguiu se recompor e superar. Casey Affleck é a razão para o filme dar certo, está num tour de force impressionante e carrega o peso do mundo em seu olhar. Michelle Williams é uma força da natureza e não precisa de muito tempo em cena para defender sua personagem e torná-la humana - se não fosse por ela, Randi talvez não tivesse o peso requerido dentro da história. Lonergan, por fim, que poderia fazer deste apenas um drama apelativo de temporada de Oscar, oferece um olhar sóbrio, pontuado por poucos estouros dramáticos. Seu interesse maior está no vazio e seus planos abertos de paisagens acinzentadas amplificam essa sensação, enquanto sua extensa duração permite a exploração delicada e gradual dos fantasmas de cada personagem. O trauma que acomete Lee é inominável e fazer um filme sobre isso com tamanha segurança e sensibilidade é prova do grande diretor e roteirista de Manchester à Beira-Mar. - Heitor Romero



5. O Apartamento, de Asghar Farhadi (190 pontos)

Desde minimamente Procurando Elly, Farhadi havia criado um estilo de pressurização encenada através de conflitos morais densos que vinham a culminar numa explosão e/ou evento – sempre inteligentemente recortado, escondido, fugidio, engolido por/para algum personagem –, este sendo por si só a resultante de um conflito já processual, e não é por acaso que seus filmes se iniciem com a sensação de que estamos pisando em territórios já borbulhando. Pois não é que O Apartamento tenha sido sua grande cereja moral intricada; é que sete anos desde Elly, que Shahab Hosseini tenha entregado as próprias vísceras numa atuação sobre-humana e em crescendo, chegando a tornar todo o conflito sexual com a esposa e um homem em condição de miséria um assunto quase inteiramente seu, é a prova de que o apartamento é apenas o símbolo maior do câncer inchado: é sob esses homens e mulheres em tormenta moral que recai todo o jogo de forças da sociedade ainda delicada do Irã. - Felipe Leal



4. Toni Erdmann, de Maren Ade (205 pontos)

Toni Erdmann é um filme sobre mundos diferentes - de sua filha Ines, uma escrava corporativa que despersonalizou todas as suas relações e o pai, Winnfried, um homem excessivo e anárquico. O resultado da equação entre os dois é Toni Erdmann, alter-ego criado por Winnfried para perturbar o mundo de máscaras onde a filha se esconde. O encontro entre os diferentes mundos é filmado sabiamente por Maren Ade como o encontro entre diferentes cinemas: há aqui tanto o drama distante e observativo típico dos filmes de festivais europeus que acompanham a queda de seus personagens como a comédia "deadpan" de constrangimento, que desestabiliza, envergonha e por fim acaba arrancando Ines da gaiola e obrigando-a a embarcar junto aos limites do seu mundo. Nesse sentido, a cena da festa de aniversário surge como uma das melhores do cinema recente. É certo que o filme toca pesadamente em questões sociais como corporativismo e sexismo, mas o olhar é muito mais íntimo, recusando-se o didatismo e mais e mais abraçando a loucura de Toni Erdmann - paródia de Ines, do espectador, do cinema convencional e convite ao riso, à esquisitice e ao questionamento. - Bernardo Brum



3. Z - A Cidade Perdida, de James Gray (275 pontos)

Assim como qualquer filme de James Gray, Z é um filme condenado desde o primeiro momento à tragédia nada contida. Até chegar lá, cada filme seu se munia de um traje clássico que, com Z, reverbera no que há de mais reverencial da Nova Hollywood, preservando em larga escala aqui a dimensão familiar que encaram os personagens de Hunnam, principalmente, mas também de um discreto Robert Pattinson. Notável ainda é o peso dos homens que recai sobre a personagem de Sienna Miller, que fecha o filme num dos frames mais comoventes do ano passado, e cimenta a obra de James Gray como uma jornada revisionista marcada pela grandeza, solidão e família, surpreendentemente num denso estudo de dualidades. - Rafael Oliveira



2. A Criada, de Chan-wook Park (290 pontos)

A prisão que Dae-su Oh enfrentou em Oldboy deu lugar a um novo tipo de encarceramento em A Criada: o social. Chan-wook Park reembarca no tema, mas de forma diferente: em uma Coreia do começo do século passado, costumes e obrigações femininas são confrontados com personagens fortes, que estão acima de tudo o que é clichê da época, ainda mais considerando uma ambientação oriental, conhecidamente enraizada a costumes e sacrifícios. Em uma história de gato e rato, traição e poder, e porque não amor, são elas que guiam os fatos, surpreendem e, entre idas e vindas narrativas, nos fazem construir imagens para logo depois destroçá-las e mostrar que tudo é muito mais profundo do que parece em uma primeira visão. É um cinema curioso, corajoso, bonito e, acima de tudo, delicioso de acompanhar. - Rodrigo Cunha



1. Na Praia à Noite Sozinha, de Sang-soo Hong (315 pontos)

Young-hee, a protagonista, quando sozinha na areia em frente a praia, parece saborear a brisa que lhe acarreta memórias. É a ação do filme, o contato com o trivial que fala e com o silêncio desordeiro. É nesse ponto que reside a potência do cinema do autor, os personagens lidando com a realidade num tom naturalista de encontro as desilusões, e, nesse caso, favorecido por uma concepção autobiográfica por parte do diretor. Assim, buscamos representações nos personagens e finalmente interpretamos o que cada um significa nesse conto de rotina. Sobram hipóteses metafóricas. Dividido em dois momentos e em dois países, a história acompanha uma atriz cujas emoções são constantemente manipuladas por estímulos diferentes de cada contexto, causando a ela e a nós uma sensação desconfortável, já que reconhecemos seu drama. Um caso de adultério é a idiossincrasia de Young-hee. Testemunhamos muita coisa. É o cinema elementar de Sang-soo Hong, tecido pela simplicidade das atividades do dia a dia que culmina em conversas, drinks, confidências de amor e frustrações; essas evasões do próprio cotidiano que sua narrativa tão bem sustenta. - Marcelo Leme



Listas individuais:

Alexandre Koball
1. A Morte de Luis XIV 
2. A Criada
3. Manchester à Beira-Mar
4. Toni Erdmann
5. Dunkirk
6. Corra!
7. A Qualquer Custo
8. Silêncio
9. Fragmentado
10. Eu, Daniel Blake

Bernardo Brum
1. Toni Erdmann
2. Na Praia à Noite Sozinha
3. O Outro Lado da Esperança 
4. Detroit em Rebelião 
5. Z - Cidade Perdida
6. Fragmentado
7. Lucky
8. Paterson 
9. Corra!
10. O Ornitólogo

Cesar Castanha
1. O Estranho que Nós Amamos
2. O Outro Lado da Esperança
3. Martírio
4. Na Praia Sozinha à Noite
5. Eu Não Sou Seu Negro
6. Corra!
7. A Morte de Luis XIV 
8. Lady Macbeth
9. Toni Erdmann
10. O Ornitólogo

Daniel Dalpizzolo
1. Na Praia à Noite Sozinha
2. Z - Cidade Perdida
3. A Mulher Que se Foi
4. Toni Erdmann
5. Na Vertical
6. Beduíno
7. John From
8. O Outro Lado da Esperança 
9. A Morte de Luis XIV 
10. Colo

Felipe Leal
1. Paterson
2. John From
3. Bom Comportamento
4. Na Vertical
5. O Filho de Joseph
6. Na Praia à Noite Sozinha
7. Toni Erdmann
8. Z - Cidade Perdida
9. O Apartamento
10. O Ornitólogo

Francisco Carbone
1. O Ornitólogo
2. Apesar da Noite
3. Jackie
4. Bom Comportamento
5. John From
6. Personal Shopper
7. Jonas e o Circo sem Lona
8. Mistério na Costa Chanel
9. A Morte de Luis XIV 
10. Columbus

Guilherme Bakunin
1. Manchester à Beira-Mar
2. O Estranho que Nós Amamos
3. Bom comportamento
4. Z - Cidade Perdida
5. Jonas e o circo sem lona
6. A Criada
7. John from
8. Na Praia à Noite Sozinha
9. A Qualquer Custo
10. Paterson

Heitor Romero
1. O Ornitólogo
2. Z - Cidade Perdida
3. Toni Erdmann
4. Manchester à Beira-Mar
5. Lucky
6. Beduíno
7. O Filho de Joseph
8. Na Praia à Noite Sozinha
9. Columbus
10. Paterson

Léo Félix
1. Eu, Daniel Blake
2. La La Land
3. Corra!
4. Silêncio
5. Estrelas Além do Tempo
6. A Criada 
7. Eu Não Sou o Seu Negro
8. O Apartamento
9. O Filme da Minha Vida
10. Como Nossos Pais

Marcelo Leme
1. A Criada
2. O Apartamento
3. Logan
4. A Qualquer Custo
5. Planeta dos macacos - A guerra 
6. Blade Runner 2049
7. Na Praia à Noite Sozinha
8. As Duas Irenes
9. Z - Cidade Perdida
10. Na Vertical

Pedro Tavares
1. Na Praia à Noite Sozinha
2. Beduíno
3. John Wick - Um Novo Dia para Matar
4. Z - Cidade Perdida
5. O Ornitólogo
6. Na Vertical
7. Personal Shopper
8. John From
9. A Morte de Luis XIV 
10. Apesar da Noite

Rafael Oliveira
1. Mãe!
2. Personal Shopper
3. A Criada
4. Jonas e o Circo Sem Lona
5. Bom Comportamento
6. Z - Cidade Perdida
7. Além das Palavras
8. Moonlight: Sob a Luz do Luar
9. Paterson
10. Star Wars: Episódio VIII - Os Últimos Jedi

Régis Trigo
1. La La Land
2. A Qualquer Custo
3. Blade Runner 2049
4. Dunkirk
5. O Apartamento
6. A Criada
7. Manchester à Beira-Mar
8. Mulher-Maravilha
9. Star Wars: Episódio VIII - Os Últimos Jedi
10. Lego Batman

Rodrigo Cunha
1. A Tartaruga Vermelha
2. O Apartamento
3. La La Land
4. Manchester à Beira-Mar
5. A Criada
6. Na Praia à Noite Sozinha
7. Z - Cidade Perdida
8. Toni Erdmann
9. O Filho de Joseph
10. Corra!

Victor Ramos
1. A Criada
2. O Apartamento
3. Fragmentado
4. Na Praia à Noite Sozinha
5. John Wick - Um Novo Dia para Matar
6. A Tartaruga Vermelha
7. Bom Comportamento
8. Z - Cidade Perdida
9. Corra!
10. A Qualquer Custo

Comentários (18)

Davi de Almeida Rezende | segunda-feira, 08 de Janeiro de 2018 - 10:11

Sem contar que as escolhas são claramente ideológicas. A maioria filmes desconhecidos, obscuros, muito provavelmente chatos, "cults".

Bernardo D.I. Brum | segunda-feira, 08 de Janeiro de 2018 - 12:02

Acho que eles funcionam, visto que você volta no site todo dia. No fim do dia hater também é fã. Valeu por todo os pageviews e comentários, Safa!

César Barzine | sábado, 20 de Janeiro de 2018 - 12:07

Este ano não vai ter a lista dos usuários?

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