" Réquiem para um Sonho" incomoda e inquieta. É, acima de tudo, a retratação da inquietude humana. Por isso seu ritmo é demasiadamente tenso, vertiginoso e transgressor. O resultado final da edição, trilha sonora, etc., é apresentar os fatos sob a ótica do próprio personagem em questão.

Os personagens, em certo momento, são filmados em "movimento estático", ou seja, como se algo os conduzisse (sempre sem consentimento) para aquilo que elas temiam. Como na tentativa de se tornar aquilo que se deseja ser: mais independente (Harry Goldfarb), remoçada (Sara Goldfarb), amada (Marion Silver), etc. Note, todos estes persongens têm um final totalmente oposto aos seus desejos inicias (!). Harry torna-se um amputado, e assim mais dependente. Marion é humilhada, servindo apenas como objeto sexual. Já Sara é esquecida e esnobada, uma "velha envelhecida" sozinha e hospitalizada.

Sara, ou melhor, Ellen Burstyn, é brilhante, interpretando uma personagem diferente das demais, bem mais interessante em vários sentidos. Sara é uma viúva, mãe de Harry (e já viciado no início do filme), que em certa altura vai embora, restando apenas a programação da tv para confortá-la. Este entretenimento torna-se um vício, como o dos demais, iniciando uma busca por glamour, falsa perfeição, popularidade e beleza, que paressem mesmo estar tão perto. Dietas frustradas (para usar um velho vestido vermelho, alegoria para rejuvenescer) levaram-na ao uso de anfetamina, usada de forma indiscriminada. E se Maomé não vai à montanha.... Somente sobre isso, seria possível redigir um logo texto...

Esta pérola é um dos filmes mais violentos que já assisti, e o melhor, sem derramar quase nenhuma gota de sangue. Não há vilão, mocinho, certo e errado, há pessoas que foram vítimas de seu próprio ato. As conclusões sobre o drama ficam em aberto, cabendo a quem o assistiu julgar se aquelas situações foram sufientes para fazê-lo mudar de opinião, ou pelo menos, refletir sobre várias "outras coisas" (bem complexas): resumir "Réquiem para um Sonho" como um filme sobre drogas é um pecado...