Depois de ter realizado o excelente Chicago, o diretor Rob Marshall volta à carga com os musicais neste filme que adapta um musical da Broadway que, por sua vez, tem origem no clássico 8½, de Federico Fellini. Nine é um belo filme visualmente falando, mas é um trabalho seco e vazio em conteúdo.
Conta-se aqui a história de Guido Contini (Daniel Day-Lewis), um diretor italiano que vem de fracassos seguidos no cinema e que tenta fazer um novo filme, mas não avança de maneira alguma, com uma crise nervosa. Contini sente como se estivesse sem a prática de fazer filmes e, enfrentando produtores e atores, acaba ficando recluso em seus delírios e lembranças, além de rememorar as sete mulheres de sua vida: Luisa (Marion Cotillard), a mulher e eterna musa, que parou de fazer filmes depois do casamento; Carla (Penélope Cruz), a amante que, embora ele tente manter em segredo, todos conhecem; Claudia (Nicole Kidman), uma atriz exigente e que é a sua musa cinematográfica; Lili (Judi Dench), a figurinista de seus filmes; Saraghina (Stacy Ferguson, a Fergie do Black Eyed Peas), uma prostituta que lhe deu os primeiros passos no conhecimento do sexo oposto; Stephanie (Kate Hudson), uma jornalista abelhuda da Vogue que faz o tipo femme fatale e Mamma (Sophia Loren), a mãe de Guido, que vem a ele como um anjo conselheiro.
Marshall opta por uma narrativa quebrada, que varia entre os dramas de Contini com as mulheres de sua vida e todos que lhe forçam a continuar o filme, e as canções que introduzem ou explicam cada personagem e suas atitudes. Nem sempre esse mecanismo funciona e de certa maneira, interfere no resultado mais eficiente da película.
Nine encontra mais força no seu trabalho artístico. Os clipes musicais são belíssimos, muito bem coreografados e com diversos recursos visuais que dão maior amplitude a cada sequência. Além disso, os cenários e figurinos coloridos dão um charme todo especial à produção e permitem uma sensualidade rara a alguns personagens. Alguns dos enquadramentos utilizados pelo diretor Marshall estão entre os melhores dos últimos anos.
Quanto à trilha sonora: a primeira canção, Overture Delle Donne, que introduz os personagens, é muito bonita e bem realizada na cena. Day-Lewis canta muito bem e com sotaque italiano, especialmente na primeira, Guido's Song. Penélope Cruz realiza um clipe extremamente sensual e arrasa com A Call from the Vatican, certamente o momento mais memorável do filme. Já Folies Bergères na voz de Judi Dench tem um estilo cabaret, aprofundado pelo trabalho de produção, perfeito. Be Italian é a mais vibrante é tão sensual quanto a de Cruz, com Fergie e diversas mulheres entoando esta canção, a qual foi indicada ao Globo de Ouro. Cotillard canta duas vezes: My Husband Makes Movies, uma reflexão da mulher de Guido sobre o diretor e seu trabalho, bem como da relação do casal - e esta música tem enquadramentos espetaculares; e Take it All, que apesar de não ser o melhor momento, acabou indicada ao Oscar. Hudson responde pelo ritmo mais pop de Cinema Italiano, de longe a mais fraca do filme. Guarda la Luna, na voz da eterna diva Loren, não é ruim. Nicole canta bem na regular Unusual Way.
Analisando as interpretações, Day-Lewis é que mais se destaca. Em outro trabalho de imersão, o ator consegue fazer um personagem muito, mas muito distinto daquele de Sangue Negro. O sotaque italiano é convincente. Penélope tem outra vez uma grande atuação, com a qual obtém a terceira indicação ao Oscar. Cruz, aliás, está em plena forma física. Cotillard pouco aparece, mas já garante um bom trabalho. Kidman tem papel reduzido, assim como Dench e Loren.
Nine é um musical no máximo agradável. Tem boas músicas, é um filme lindo de se ver, mas enfrenta problemas no seu conteúdo. É vazio de alma e inspiração, a quebra de narrativa é falha e o final é um tanto seco. Você espera alguma coisa, mas tudo acaba em um silêncio que pode ser até constrangedor. Vale a experiência, mas Marshall podia ter feito melhor.
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