Closer - Perto Demais é uma obra rara e profundamente franca, por que aborda o amor sem meias palavras e com uma franqueza impressionante. É um filme que te dá a sensação de soco no estômago, por ser o retrato nítido de nós mesmos.
O filme começa embalado pela antológica música The Blower's Daughter, interpretada lindamente por Damien Rice. Alice (Natalie Portman) circula em Londres. Na sua visão, destaca-se entre a massa humana a figura de Dan (Jude Law). O atropelamento de Alice liga estes dois personagens, que iniciam um relacionamento. Ela é uma dançarina que foi de mala e cuia para a capital bretã. Ele é um escritor fracassado que vive escrevendo obituários em um jornal. Passado algum tempo, Dan está lançando um livro e faz uma sessão de fotos no apartamento de Anna (Julia Roberts). Ele acaba se apaixonando pela fotógrafa, que refuta a aproximação do escritor. Logo, Dan está numa sala de bate-papo de sexo, onde também se encontra Larry (Clive Owen). Dan se passa por Anna, faz sexo virtual e acaba por marcar um encontro com Larry, num local onde a verdadeira Anna se encontraria. O que não se esperava era que a fotógrafa e o dermatologista Larry iniciariam um romance.
Logo, estes quatro personagens dão início a uma rede própria de relação. Dan está casado com Alice e Larry, com Anna. As paixões irrompem de uma hora para a outra e tudo transcende de forma natural, como o sol que nasce todas as manhãs. Não se trata de um juguete ou de um fetiche, tudo vai ocorrendo de maneira natural. Dan deixa Alice por que ama Anna. Larry deixa de amar Anna. Anna e Dan se relacionam. Todas estas paixões vão se intercalando, de maneira simples à primeira vista, mas muito complexa se analisada de forma mais abstrata.
Nisso, o roteiro de Patrick Marber e a direção de Mike Nichols encontram o tom certo para desenrolar a história. O tempo, por exemplo, não segue uma ordem cronologicamente controlada. Passagens de tempo ocorrem sem a menor cerimônia e sem prévio aviso, o que exige atenção do espectador. Os diálogos são perfeitos, repletos de ironia e sensualidade, sem resvalar na imoralidade. Da mesma forma, os diálogos são verdadeiros: a franqueza com que algumas coisas são ditas é tanta que pode chocar alguns espectadores. Mas fica tudo mais fácil se a gente pensar que casais falam isso mesmo! São coisas comuns a qualquer casal.
Por isso citei que o filme causa uma espécie de sensação de "soco no estômago". Tudo o que ocorre é comum à vida de todos nós.
As atuações são estupendas: Julia Roberts está belíssima e interpreta de maneira sublime. Jude Law talvez seja o mais fraco do quarteto, apesar de ter grandes momentos, em especial nas suas discussões com Alice. Clive Owen surpreende, pois transpira ironia em suas cenas, mesmo as mais sérias. O embate final entre ele e Dan é seu melhor momento. Owen foi merecidamente agraciado com o Globo de Ouro de melhor ator coadjuvante e indicado ao Oscar na mesma categoria. Mas a figura principal do filme é Natalie Portman. A atriz, que surpreendeu em seu primeiro filme, O Profissional, tem aqui sua melhor atuação, vencedora do Globo de Ouro e indicada ao Oscar. Considero seu personagem o motor de toda a história, o motivo pelo qual tudo acontece. Seu trabalho é magnífico, em todas as fases do personagem. Nas cenas em que atua de stripper, mostra total despojamento e transborda sensualidade, sem com isso ousar. Tudo ocorre no máximo lirismo e beleza. Um êxito.
Além disso, Closer é bem fotografado, tem bons cenários e conta com uma trilha sonora sensacional, que inclui desde ópera, clássicos de Mozart, a linda canção folk The Blower's Daughter, que abre e encerra o filme, e duas músicas de Bebel Gilberto, uma das mais belas vozes da bossa nova brasileira.
Este é um dos melhores romances já feitos no cinema. Belo, singelo, lírico, mas profundamente humano e verdadeiro. Uma obra rara.
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