Suspense é um gênero difícil de fazer. Deve-se ter um clima tenso. Mas não muito tenso, senão iria ser terror. E também não muito suave, para não se tornar apenas um drama. Dosar a tensão de um filme da maneira ideal para que este seja um suspense ser tão difícil que os poucos diretores que conseguiram dominar esta técnica se tornaram célebres no mundo do cinema.Em “Repulsa Ao Sexo”, Roman Polanski já mostrou logo no segundo filme o seu talento no gênero suspense.
Catherine Deneuve interpreta Carol, a protagonista do filme. Carol é uma jovem extremamente introvertida e insegura. Nas cenas em que ela é apresentada, ela dá a impressão de ser uma pessoa muito desatenta, sempre com um olhar vago e vazio. Ela vive com Helen, sua irmã mais velha, que é o seu extremo oposto (Polanski usa o fato de uma ter cabelos loiros e a outra pretos para criar uma analogia para enfatizar a diferença). Como Carol é insegura e imatura, a sua irmã desempenha realmente o papel de mãe dela. É ela quem cozinha na casa, que cuida das contas. Aqui, vale ressaltar que ela chama Carol sempre com um maternal “querida”.
O fato de Carol ver o namorado de Helen como um padastro enfatiza sua dependência emocional com a irmã. Ela o vê como invasor, jogando fora, em um determinado momento do filme, os objetos pessoais que ele tinha deixado no seu banheiro. Carol não consegue aceitar bem quem invade o mundo dela. Não é só com o namorado de Helen, mas até com um rapaz que a corteja todos os dias. Ela fica enclausura no seu próprio mundo, tão reprimida sexualmente como as freiras do convento ao lado da sua casa. E o fato de ter de ouvir, toda noite, os gemidos da sua irmã tendo relações com o seu namorado só piora as coisas. Todo esse mundo próprio de Carol é simbolizado nesse filme pelo apartamento no qual vive e terá de ficar alguns dias sozinha já que sua irmã vai viajar com o namorado para a Europa.
Nessa primeira parte do filme, o enorme desequilíbrio mental de Carol não fica evidente. Dá algumas pistas sim, mas nada explícito. O modo como ela, em uma cena, morde uma mecha de cabelo, ou como beija o seu braço em outra ou fica um certo tempo vendo o seu reflexo na chaleira parecem apenas comportamentos excêntricos, mas nada perigoso. O fato dela ser muito fria com o homem que lhe procura sempre parece apenas timidez. Mas o fato dela ficar sozinha no apartamento por alguns dias se torna o gatilho para a sua loucura.
Quando Carol “nota”, em suas alucinações, que as paredes de seu apartamento, de seu mundo, estão rachando e cedendo e que a casa está sendo invadido por um misterioso maníaco que a estupra, ela começa a ganhar traços psicóticos. Aos poucos, Polanski vai transformando a tímida Carol em uma psicopata, que tem medo de tudo e acha que qualquer um que invada a sua vida deve ser morto. Seja o cobrador do aluguel que realmente tenta violentá-la, ou o pobre rapaz que gosta dela.
Dá para dizer que o filme é em primeira pessoa, em um preto-e-branco sombrio da mesma forma que Carol vê as coisas. O fato de não ter narração, característica essencial dos filmes em primeira pessoa, se deve justamente porque Carol é uma pessoa de poucas palavras. É interessante notar com a trilha sonora é pontual, em algumas vezes aparecendo, nas cenas mais tensas, apenas com um batuque rápido de caixa de bateria, na mesma sincronia que deve estar o coração de Carol naqueles momentos, contribuindo ainda mais para o aspecto de primeira pessoa do filme.
É, o Polanski sabe mesmo como fazer um suspense.
quando o Polanski quer entrenter ele faz bonito.
Boa critica para um filme imperdivel.