Um filme seco, cru e frio, onde não há espaço para momentos de ternura. Um drama em que sentimentos como amor e solidariedade são massacrados e a fé é provada constantemente. Assim é Tiranossauro.
Joseph (Peter Mullan) é um homem amargurado. Vive bêbado pelos cantos, provocando tudo e a todos. É solitário, seu único amigo, um cão, morre logo no começo do filme. Num acesso de raiva, ele o espanca, depois que percebe o que fez, o leva para casa, mas o animal não aguenta aos ferimentos. É assim como ele se sente na vida, como se matasse todos ao seu derredor, apesar de saber disso ele continua agindo da mesma forma. Ele culpa o mundo pelos seus problemas. Não gosta de receber ajuda, ou qualquer ato de bondade, é orgulhoso, arrogante e violento.
Num dia, quando algo lhe acontece, ele entra numa loja de roupas e lá fica parado, se escondendo da vida, do mundo e de todos. A dona da loja, Hannah (Olivia Colman), um mulher calma, sorridente e sempre disposta a ajudar as outros, tenta ajudá-lo, mas só recebe palavras ásperas. Sabendo que nada pode fazer por ele, o deixa ali.
No outro dia, ele retorna a loja para agradecer a ela, porém, termina por destratá-la novamente. Dessa vez, ela reage, o expulsa e chora, apesar dela não demonstrar, sua vida também não é um mar de rosas. Hannah é casada há anos, entretanto, sempre sofre nas mãos de seu marido todo e possível tipo de violência, seja física ou não. É humilhada, traída e espancada. Ainda nesse cenário tão dilacerante há um pequeno garoto que sempre conversa com Joseph. Ele sofre pela ausência de sua mãe e pelas provocações do seu “padrasto”.
O diretor, com estes personagens, constrói um drama extremamente trágico, não que o filme siga a cartilha melodramático, porque o drama não é, mas não há momentos de felicidade para estas pessoas. A vida é dura, nem sempre temos sorte, e não há ninguém que possa nos socorrer, apenas nós mesmos. Somente nós podemos mudar ou tentar modificar o quadro de nossas vidas, seja a aceitando ou batendo de frente com ela.
Aqui temos dois personagens marcados pela dor e pela violência, um reage da mesma forma, outro aguenta calado tudo quanto sofre. Porém uma hora, toda dor sofrida será cobrada, será vivida, será expurgada. São com os extremos que o diretor toca nesse filme, encontrar um meio termo, entre reagir à violência e aceitá-la seria o mais “correto” para estes personagens. O diretor não os julga, apenas os mostra/coloca em situações extremas. E são nessas situações que seus personagens terão que lhe dar com seus sentimentos. A vida nos cobra e temos que pagar pelos nossos erros, pelos nosso atos, não há como fugir disso. Joseph pelo seus atos violentos, Hannah, pela suas ações provocadas pela dor e o ódio.
É difícil dizer que há uma momento de felicidade impregnado nos rostos destes personagens, mas é possível perceber uma clara e nítida aceitação da vida, aquela sensação de que não podemos fazer nada diante da vida, se não apenas abraçá-la aceitando o que ela tem a nos oferecer. Quando fazemos isso, já não sentimos rancor, dor, ódio ou raiva do próximo ou da vida, muito menos de nós mesmos. Uma paz nos toma, um refrigério nos acalma.
A trilha sonora é bem trabalhada, a construção dos personagens é o que há de melhor. O elenco está ótimo. Não conhecemos muito do passado de cada um, apesar disso, nos apegamos a eles e defendemos seus sentimentos, compreendemos suas razões. Não há bons ou maus nesse mundo, há simplesmente pessoas e pessoas. Tiranossauro é um filme independente muito bem feito, com uma excelente análise de seus personagens, sempre se mantendo perto e longe ao mesmo tempo.
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