Poucos foram os filmes que souberam trabalhar tão bem com a dor e o silêncio quanto esse “As horas”. Poucos foram os filmes que souberam retratar de forma tão bela e marcante sentimentos tão abstratos como esse longa de direção de Stephen Daldry, baseado na obra de Michael Cunningham.
Em três períodos diferentes vivem três mulheres ligadas ao livro "Mrs. Dalloway". Em 1923 vive Virginia Woolf (Nicole Kidman), autora do livro, que enfrenta uma crise de depressão e idéias de suicídio. Em 1949 vive Laura Brown (Julianne Moore), uma dona de casa grávida que mora em Los Angeles, planeja uma festa de aniversário para o marido e não consegue parar de ler o livro. Nos dias atuais vive Clarissa Vaughn (Meryl Streep), uma editora de livros que vive em Nova York e dá uma festa para Richard (Ed Harris), escritor que fora seu amante no passado e hoje está com Aids e morrendo.
O que guia essas mulheres é a dor. A dor de viver, de sentir, de ser. Separadas pelo tempo, unidas por uma obra que consegue transmitir toda a angústia existente em suas vidas. Com uma trilha sonora bela, inspiradora, densa e suave somos transportados ao universo destas três mulheres. Uma escritora, uma dona de casa e uma editora.
As ligações que existem entre elas não estão apenas no livro, mas em algo mais que somente será revelado ao final do longa. Mas de inicio elas não compartilham apenas a obra, mas também as nuances de suas vidas. Todas vivem de mascaras, se escondem em seus cotidianos e tentam superar a dor que as consome. Cada uma, de alguma forma, tentará lutar contra esse mal. Seja desistindo da vida, fugindo ou a enfrentando. Todas farão uma escolha, pois a cada minuto que passa, o tempo que as consome vão jogando sobre elas um julgo cada vez mais insuportável.
Virginia vive sob o medo de decair mais uma vez numa crise depressiva sem fim. As vozes que escuta ficam mais fortes e claras. A razão que tem sobre a vida fica a cada dia mais limitada. Sua postura, seu olhar e suas expressões denotam uma vida perdia num vasto horizonte. Mas a chegada da sua irmã trará um pouco de clareza seguido por grandes sombras.
Laura tenta organizar uma festa para o seu marido. Grávida novamente, com um filho pequeno super ligado a ela, esconde um remorso em seus olhos. Seu marido, sua vida, família e casa lhe causam repulsa. Em sua face há raiva por não conseguir se livrar daquela situação. Uma das cenas mais marcantes, ela numa cama e as águas lhe submergem tomando-lhe a vida. Algo precisa ser feito.
Clarissa, uma editora moderna, respeitada. Tenta preparar um jantar para um antigo amigo, Richard. Possui uma filha e uma amante. Richard ainda sente uma forte paixão por ela. A venera, a deseja e está morrendo. A chegada de um amigo do passado mais a preparação desse jantar fará com que ela sinta um vulcão de sentimentos e duvidas a respeito de tudo em sua vida. Como ela descreve em certa cena do filme, como uma sensação em que você perde o controle de tudo e é lançado sobre a parede pelas circunstâncias da vida. Todas essas relações serão finalizadas e mescladas num fim trágico e belo.
O trabalho técnico exercido sobre esse filme é extremamente belo. A trilha sonora é densa e segue cada passo dos personagens. As cores que predominam nas roupas das personagens, a fotografia, os gestos e expressões são de uma riqueza e metáforas incríveis. A atuação das três protagonistas é bárbara. Um Oscar merecido para Nicole Kidman, uma indicação que sem a menor sombra de dúvidas merecia levar o premio para melhor atriz coadjuvante para Julianne Moore e um elenco de apoio de estrelas como Claire Danes, Toni Collete, Ed Harris e Jeff Daniels tornam esse filme uma jóia do cinema norte-americano.
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